WEB: novo disco será mais «complexo» [entrevista exclusiva]
Veteranos de barba rija, os WEB
estão de regresso a estúdio no início de Agosto para registar o seu terceiro
longa-duração. Os trabalhos decorrerão nos Raising Legends, no Porto,
onde o produtor André Matos e o
colectivo liderado por Victor Matos tentarão construir mais uma obra que
faça jus a uma carreira ímpar em Portugal, iniciada em 1986.
Com um passado ligado aos TARANTULA
- Victor Matos e David Duarte eram roadies da mítica banda de Valadares -, o grupo da Invicta só
afirmou a sua posição no panorama nacional no novo milénio, quando surge a
estreia «World Wild Web», em 2005. A
vida pessoal e as várias alterações de formação fizeram com que a carreira dos WEB fosse pautada por alguma intermitência,
mas também pela consciência de que cada disco tem um tempo certo para ser
lançado.
"De facto, os
WEB levaram muito tempo a lançar o seu primeiro álbum, muito em parte devido ao
serviço militar obrigatório dos seus membros e sucessivas mudanças de line-up. Talvez possamos dizer que o «World
Wild Web» poderia ter visto a luz do dia uns anos antes, mas não nos sentíamos
seguros e com a estabilidade necessária para um projecto daquela
envergadura", recordou Fernando
Martins em exclusivo à SounD(/)ZonE.
"Nos tempos de
hoje é mais 'cada disco tem um tempo certo para ser lançado'. Colocamos metas
para nós próprios, mas somos flexíveis. Temos consciência de que o importante é
fazer música de qualidade e com a qual estejamos os quatro 100% satisfeitos e
que acreditemos que também vai agradar ao público. Do nosso primogénito «World
Wild Web» até ao «Deviance» foram seis anos; já para este serão apenas três.
Nunca nos sentimos pressionados com datas, o que não quer dizer que nos
baldemos", esclarece.
Posto isto, parece que a carreira dos WEB caminha para a estabilidade que sempre desejaram e merecem,
mantendo-se a imagem de marca de uma banda com raízes no metal clássico, mas
com grande propensão para explorar outros territórios como o thrash, o doom e o
progressivo.
"A composição de
um novo álbum começa imediatamente após o lançamento do anterior, mas de uma
forma mais focada a composição deste álbum começou há cerca de um ano, após o
nosso último concerto no Vagos Open Air 2013. Procuramos sempre inovar no nosso
som, mantendo a nossa identidade e explorando os nossos pontos fortes. Será um
disco um pouco mais complexo em termos composicionais, mas com alguns temas
mais directos."
Em termos de estúdio, os WEB
estreiam aqui uma nova estrutura e equipa, por força das circunstâncias, mas,
sobretudo, porque acreditam na capacidade de
André Matos e Pedro Teixeira, este último ficando responsável pela mistura e masterização.
"Já tínhamos
vindo a ouvir falar do trabalho do André, muito por culpa dos nossos amigos dos
EQUALEFT. No entanto, já tínhamos uma relação muito boa com o Paulo Lopes dos
Soundvision Studios, onde gravámos o «Deviance», e já tínhamos tudo acertado
para gravarmos lá o próximo trabalho. Quando reparámos que isso já não seria
possível, resolvemos conhecer um pouco mais do trabalho do André e da sua
filosofia e modo de trabalhar. Foi uma surpresa muito agradável. A parceria com
o Pedro Teixeira, proposta pelo André, foi a cereja em cima do bolo. Gostamos
bastante daquilo que ouvimos do trabalho do Pedro e acreditamos que a relação
que ele tem com o André vai ser muito benéfica na dinamização do nosso trabalho
em estúdio", confessa o vocalista e baixista, avançado que
o sucessor de «Deviance» pode chegar
ao mercado ainda este ano. "Com as
captações a começarem em Agosto, se tudo correr dentro dos nossos planos, teremos o lançamento do álbum no final deste ano. É uma janela temporal ambiciosa
mas estamos a fazer figas para que isso aconteça."
E para uma banda com tanto caminho palmilhado, tendo atravessado
fases fundamentais do desenvolvimento do underground nacional e internacional, é
quase exigível uma retrospectiva dos seus quase trinta anos de carreira. Fernando Martins abriu parte do livro para
explicar qual foi o contributo dos WEB
para o metal nacional e elogiar a união e qualidade das bandas actuais.
"Esta pergunta
requeria uma resposta de algumas páginas, mas para sermos sucintos aqui vai.
Nestes 28 anos a tentar contribuir para que o metal nacional cresça e evolua, só
posso dizer que realmente fizemos tudo o que nos foi possível fazer. Se poderíamos
ter ido mais além? Sim, talvez. Se poderíamos ter feito algumas coisas de
maneira diferente? Algumas, mas muito poucas. Temos feito as coisas à nossa
maneira e tem sido fantástico. O que temos ganho ao longo destes anos tem sido
algo precioso, temos amizades para toda a vida. E nos WEB temos uma família
muito unida. Temos um line-up muito
mais estável e em sintonia do que alguma vez tivemos e estamos aqui para as
curvas. Ainda se vai ouvir falar muito dos WEB. Quanto ao underground nacional,
está vivo e recomenda-se. Bandas de extrema qualidade, bastantes concertos e, a
nosso ver, bandas mais unidas do que no passado, o que traz um ambiente muito mais
saudável ao nosso panorama musical. Só temos pena que, em alguns casos, não se
tratem as bandas nacionais ao nível das internacionais que vêm tocar ao nosso
país. Temos bandas de igual qualidade e, em alguns casos, superior. De resto é 'bola
para a frente' e continuar a dar o que se pode e o que não se pode, em prol
desta irmandade à qual pertencemos, e com orgulho, que se chama underground."