VAGOS OPEN AIR 2014 - Dia 1
08.08.14 - Quinta do Ega, Vagos
A sexta edição do VAGOS
OPEN AIR foi a maior em números – não só por ter durado mais um dia que nos
anos anteriores mas também em termos de público – e é opinião geral que foi o
melhor cartaz à data.
E essa afluência de pessoas registou-se logo desde o
primeiro momento, o que não é costume; embora Agosto seja o tradicional mês de
férias, ainda muitos trabalham, e há aqueles que se guardam para as
"bandas grandes". Mas os GATES
OF HELL podem orgulhar-se de ter sido a banda de abertura com mais público
de todos estes seis anos – um mar de metaleiros que se estendia desde a grade
até à mesa de som, mais ou menos a meio do recinto.
Arrancando com
«Phenomenal Syndrome» e terminando com o tema-título do álbum de estreia, «Critical Obsession», os GATES OF HELL descarregaram a sua
mistura de thrash/death/hardcore em meia hora de pura energia. Eram muitos os
fãs e amigos da banda presentes, a quem o vocalista Raça fez questão de agradecer. Logo a seguir agradeceu àqueles que
estavam a vê-los pela primeira vez, não só por uma questão de boa educação mas
porque realmente, dada a vida que as rodas de mosh assumiram durante todo o concerto, não eram apenas os fãs de
longa data que estavam satisfeitos com a prestação em palco da banda do Porto.
Também os KANDIA
admitiram não estar "à espera de
tanta gente". O à-vontade de Nya
Cruz em palco é irresistível, com os olhares do público seguindo cada
movimento da vocalista.
O álbum de estreia «Inward
Beauty | Outward Reflection» foi completamente posto de lado, sendo todo o
alinhamento composto por temas do mais recente «All Is Gone». Apresentando «Scars»
(cujo vídeo no YouTube já ultrapassa as 66.800 visualizações) com uma adaptação
da primeira linha – "we’re not
going away, we’re here to stay" em vez de "I’m here to stay" – a prestação da banda condiz, de
facto, com essa afirmação. Também Nya
agradeceu a todos os que tinham ido vê-los e aos que não tinham mas "foram ficando". «Karma» encerrou outra meia hora de
qualidade, desta vez a saber a rock moderno.
Há muito que os britânicos SYLOSIS eram esperados pelos portugueses e nem o
"pequeno" erro de mencionar KREATOR
e tocar um riff de SLAYER manchou
esta estreia. Além do excelente thrash metal que tocaram, Josh Middleton estava de
muito bom humor, dando um toque ainda mais especial ao concerto – pedir ao
público para fazer headbanging ao som
do silêncio já não é a primeira vez que ouvimos, mas dois circle pits distintos, um do lado esquerdo e outro do direito, isso
sim foi novidade. Anunciou ainda que aquele era o último concerto da banda com Rob Callard, mas logo acrescentou que o baterista iria prosseguir na
música... como vocalista de uma banda de covers
de Mariah Carey, pelo que fica a dúvida se a piada está no motivo da partida ou
se Callard vai sair de todo dos SYLOSIS. Despediram-se com «Empyreal» – em termos musicais, pois a
verdadeira despedida foi uma selfie –
com «All Is Not Well» e «The Blackest Skyline» a marcarem
alguns dos pontos altos.
«Sirius» de THE ALAN PARSONS PROJECT foi a
surpreendente escolha dos SOILWORK
para a sua introdução, tomando então o palco com «This Momentary Bliss». Speed
Strid dirigiu-se ao público dizendo
que há cerca de dez anos que não tocavam em Portugal. "10, 9, 8... way too long" (foram na verdade onze - a
última vez registou-se em Maio de 2003 com CHILDREN
OF BODOM e SHADOWS FALL).
Com um álbum duplo editado o ano passado – sobre o qual Speed perguntou quem tinha comprado e
se os que responderam afirmativamente estavam mesmo a ser sinceros, perguntando
então qual era o título – é natural que se tenham focado em «The Living Infinite», apesar da longa discografia. Mas ainda
assim revisitaram o passado, escolhendo temas bem pesados como «Like The Average Stalker» e «Bastard Chain». "Are you ready to go
crazy? Wild?" foi uma questão que Speed
colocou por mais do que uma vez, e ainda que o público tenha sido algo mais que
"crazy & wild" na
banda anterior, foi mais do que suficiente durante a grande prestação dos suecos.
"I think you know the chorus to
this one" foi como o último tema foi apresentado e, de facto, um coro
imenso fez ouvir-se em «Stabbing The
Drama».
Não havia dúvidas quanto ao favoritismo pelos EPICA por grande parte dos presentes.
Mesmo que a voz de Simone Simons tenha soado algo "tremida"
nas primeiras músicas, o público estava em êxtase. Entre temas novos e antigos,
Simone acabou por admitir que
regressariam em Novembro, o que mereceu grandes aplausos. Essa tour será certamente em promoção do seu
mais recente álbum, «The Quantum Enigma»,
mas em Vagos promoveram-no já q.b., com as três primeiras músicas a coincidirem
também com as três primeiras do alinhamento e no encore tocaram ainda «Unchain
Utopia». «The Phantom Agony»
teve o seu momento disco, como já vem
sendo habitual, mas apresentar a banda durante «Cry For The Moon», como parte da letra da música, foi algo
inesperado - talvez com o propósito de distrair os presentes, uma vez que a voz
de Simone já não parece talhada para
aquele tema (as vozes femininas também amadurecem e Simone já não tem 18 anos). Porém, ninguém pareceu dar importância
a esse pormenor, compensado pela postura em palco da diva e de toda a banda. «Consign To Oblivion» fechou um
concerto que deixou os fãs com um grande sorriso na cara.
É certo que os KREATOR
incluem-se naquela lista de bandas em que dizemos "um concerto de X é
sempre um concerto de X". Mas há concertos melhores que outros e o de
Vagos foi, sem dúvida, um desses. Embora se tenham passado apenas dois anos da
sua passagem pelo Rock In Rio (e antes disso outros dois desde o Steel Warriors
Rebellion de Barroselas), Mille Petrozza
confessou que era muito tempo, pois
gostam bastante de tocar em Portugal. Não foi difícil perder a conta às vezes
que Petrozza falou nos "portuguese mosh pits" que
considera sempre numerosos e intensos. Um desfile de êxitos brutal, em ambos os
sentidos da palavra – o sentido violento e o sentido de "cinco estrelas".
Alguns desses êxitos, como «From Flood
Into Fire», foram adornados por jactos de fumo branco sobre o público e,
mais para o final, confetes prateados, o que também causou um certo impacto
visual.
Para o encore, Petrozza regressou ao palco de
"bandeira de ódio" em punho, falando do ano em que tinham lançado o
álbum «Endless Pain», em 1985, quando
Michael Jackson ainda era vivo (e o início de «Billie Jean» foi tocado) e que em 1990 os JUDAS PRIEST lançavam a antítese, «Painkiller» (também o início desta foi tocada, causando,
previsivelmente, muito mais euforia que «Billie
Jean»)... Apesar das ovações durante o discurso, o momento dourado em si foi
mesmo o medley de «Flag Of Hate» e «Tormentor», terminando de modo grandioso aquele primeiro dia do VAGOS OPEN AIR 2014.
Texto: Renata Lino