VAGOS OPEN AIR 2014 - Dia 2
09.08.14 - Quinta do Ega, Vagos
Depois de dois anos e meio fora dos palcos, os REQUIEM LAUS abriram o segundo dia do VOA sem um pingo de "ferrugem".
Bem, "abriram" em termos de concertos, uma vez que o primeiro evento,
propriamente dito, foi a apresentação do livro «A Guardiã» – um thriller
cheio de heavy metal, pelo que o autor António
Parada não podia ter escolhido melhor sítio.
Os REQUIEM LAUS
existem há vinte anos (22 se contarmos com os dois que passaram como apenas REQUIEM), mas o público não parecia
familiarizado com a banda madeirense, custando-lhe um pouco a entrar naquele
espírito meio death, meio black. E apesar do bom desempenho dos músicos, a
verdade é que não se mexeram muito, com excepção de algum headbanging – o que também acaba por influenciar a própria movimentação
de quem está a assistir. No entanto, o público eventualmente rendeu-se a temas
como «Reflection Of God» ou «Impulse» e lá surgiram alguns braços
no ar e aplausos verdadeiros.
Os espanhóis ANGELUS
APATRIDA, pelo contrário, são mais do que conhecidos e queridos deste lado
da península. As rodas, o crowdsurf e
a gritaria não pararam desde o primeiro verso de «Violent Dawn» até ao último acorde de «Legally Brainwashed». A descarga de energia emitida naquela meia
hora foi extrema e até o guitarrista David
G. Álvarez, que tocou sentado com a perna direita engessada (sofreu um
acidente de motorizada há três meses), não deixou de viver o seu thrash metal,
movimentando-se desenfreadamente da cinta para cima.
Entre as suas intervenções, Guillermo Izquierdo informou que a banda encontra-se a gravar o
seu novo álbum, mais uma vez no estúdio dos amigos SWITCHTENSE (Ultrasound
Studios, na Moita), mas não houve muitas mais palavras, dado o pouco tempo
que tinham para tocar. Todavia, dentro das ocasionais apresentações das músicas
que se seguiriam, destaca-se «You’re Next»,
com a voz de Guillermo a ser abafada
pela do público – claramente um favorito.
Se a expressão de Jonas
Björler parece ser inalterável,
tornando-se quase impossível perceber se o baixista dos THE HAUNTED (e AT THE
GATES) está contente ou triste, já os constantes sorrisos do vocalista Marco Aro não deixavam qualquer dúvida quanto à sua satisfação perante o
público de Vagos. E o seu próprio entusiasmo era tal que bateu algumas vezes
com o micro na testa, até sangrar, e mesmo assim dispensou qualquer tratamento .
Entre temas antigos como «Hate Song»
ou «Undead» e mais recentes como «Eye Of The Storm» – o single de promoção ao futuro «Exit Wounds» (a editar a 25 de Agosto)
–, os suecos fizeram as delícias de todos os moshers presentes.
No entanto, o concerto dos BEHEMOTH conseguiu ser ainda melhor, talvez mesmo o melhor deste segundo
dia. E ainda não tinha anoitecido, pelo que o impacto do jogo de luzes não foi
grande e a banda não trouxe sequer os seus microfones das serpentes, provando
que o espectáculo visual ajuda mas não é, de todo, o que faz um bom concerto.
Claro que Nergal entrou em palco a
segurar pequenas tochas a arder e todos envergaram máscaras com cornos na parte
da oração final de «O Father O Satan O
Sun!», mas foi a qualidade do alinhamento (temas escolhidos a dedo dos
últimos seis álbuns), a definição sonora e a postura dos músicos – as caretas
de Orion, as “ventoinhas” de Seth, a precisão de Inferno e a liderança de Nergal – que marcaram aqueles 45
minutos na memória do público.
Os ANNIHILATOR,
que não tocavam em terras lusas há treze anos, também levaram ao rubro os presentes,
em especial os mais old school. Abriram
com «Smear Campaign», tema do álbum «Feast», editado o ano passado, mas
logo de seguida recuaram vinte anos para interpretar «King Of The Kill». E à excepção de mais duas músicas do referido «Feast» - afinal, tinham de promover o
seu mais recente trabalho – e da divertidíssima country metal song «Chicken
& Corn» (faixa escondida de «Carnival
Diabolos»), todo o alinhamento tinha mais de duas décadas. Destaque óbvio
para «Alison Hell» e «Set The World On Fire», mas, de uma
maneira ou de outra, todos os temas estiveram sob as luzes da ribalta.
Também debaixo dos mais intensos holofotes estavam os OPETH, mesmo que a sua sonoridade tenha
uma identidade muito própria e seja propensa a opiniões divergentes. Esta
lógica estende-se aos próprios fãs - uns acharam a prestação algo oca, outros
ficaram desiludidos com o alinhamento... mas em igual número foram os que
ficaram embevecidos com o concerto da sua banda preferida.
Como habitué, os momentos piadéticos de Mikael
Åkerfeldt que juntou os ABBA, DISMEMBER e BATHORY na lista de bandas de metal famosas provenientes de
Estocolmo e anunciou ironicamente «Super Trouper» quando na realidade interpretaram «Heir Apparent». Entre o rol de piadas secas/sarcásticas fica um "o meu sovaco
cheira a gato morto" e um "podes baixar o crocodilo de peluche, pois não conheço essa música” (era na verdade
um dragão de peluche com um cartaz a pedir que tocassem a «Coil»). Ainda assim, toda esta amena cavaqueira saldou-se
insuficiente para convencer os mais exigentes e, como alguém mencionou, tocar
duas "baladas" seguidas - «Hope
Leaves» e «Atonement» -, "matou" ainda mais o ambiente.
Em todo o caso, não pode dizer-se que tenha sido um mau concerto. Apenas nem os
OPETH são capazes de agradar a
gregos e troianos.
Texto: Renata
Lino
Fotografia:
Catarina Torres