VAGOS OPEN AIR 2014 - Dia 3
10.08.14 - Quinta do Ega, Vagos
Como não há bem que nunca acabe, lá chegou o terceiro e
último dia do VOA... que começou com
o pé esquerdo. Logo na primeira música dos OPUS
DIABOLICUM, um problema técnico num dos violoncelos obrigou a uma
interrupção. A pausa pareceu ainda mais longa uma vez que nenhum dos dois
outros elementos falou ao público ou improvisou algo, mas quando finalmente o
problema ficou resolvido, o acolhimento foi maior do que seria de esperar. O facto
de terem (re)começado com «Opium» também
pode ter contribuído para esse entusiasmo, mas, de modo geral, o ambiente
manteve-se animado durante todo o concerto, com os presentes a darem voz a temas
como «Vampiria», «Nocturna» ou «Scorpion Flower». Quem achava que um trio de violoncelos, a tocar covers dos MOONSPELL, não encaixaria no VOA,
estava redondamente enganado. E como qualquer autêntico concerto dos MOONSPELL, os OPUS DIABOLICUM terminaram a sua prestação com «Alma Mater» e «Full Moon Madness».
Embora sendo o "grande ponto de interrogação" do
cartaz, a verdade é que andava uma boa meia dúzia de t-shirts de MURK a
passear pelo recinto. E quando a banda algarvia subiu ao palco, algumas vozes
fizeram ouvir-se bem alto. Mesmo assim, a maior parte do público claramente
nunca tinha ouvido falar deles, cuja história começou já em 2005, sob o nome SATTOR. Nessa fase, lançaram um EP, «Seeds Of Perseverance», e,
recentemente, já como MURK, outro
intitulado «Tyrants Of Decay». É de
louvar que um festival desta envergadura apoie o underground nacional e dê
oportunidade às bandas ditas "mais pequenas", mas havendo tantas com
mais longa discografia e maior reconhecimento, esta escolha não parece justa - nem
para essas outras bandas, nem para o público. Ainda assim, foi um concerto bom
q.b., daquilo a que eles próprios chamam de "death metal alternativo",
interpretado sob traje e pinturas faciais a rigor.
Já os THE QUARTET OF
WOAH!, apesar dos seus curtos quatro anos de vida, têm vindo a dar cartas
recentemente e a conquistar fãs com a energia contagiante dos seus concertos.
Mesmo quem não aprecie muito a abordagem stoner e psicadélica do seu rock, dá
por si a abanar a cabeça ao ritmo da banda lisbonense. E quem gosta do género
vai certamente reconhecer o talento deste quarteto em temas como «U Turn», «Balance» ou a mais recente «BackwardsFirstliners».
Nem Gonçalo Kotowicz, nem Rui Guerra, a cargo das vozes principais (todos os elementos, até o
baterista Miguel Costa, cantam), falaram muito - não
porque não quisessem mas porque não tinham grande tempo - e deixaram que a
música falasse por eles, num espectáculo que, sendo diferente de tudo o resto
que por ali passou, deu um toque de qualidade extra ao cartaz.
Se os madrilenos VITA
IMANA não tinham muitos fãs em Portugal, passaram a tê-los depois da sua
passagem por Vagos. Falámos na "energia contagiante" dos THE QUARTET OF WOAH!, mas a dos VITA IMANA é mais do género devastador,
tipo um tornado que arrasta tudo consigo. A sua sonoridade thrash tribal, a
pisar a fronteira do metalcore, dá azo a isso, mas o modo como o exteriorizam
tem os créditos de cada um - em especial do vocalista Javier Cardoso, que esteve imparável, tanto no chão como no ar. Os moshpits também eram constantes,
destacando-se o que rodou em «Gondwana»,
e houve ainda lugar a um wall of death
em «Paranoia». Foram, provavelmente,
a maior surpresa desta edição do festival.
É do conhecimento geral que o balanço de um concerto dos PARADISE LOST só é positivo quando Nick Holmes está de bom humor. Ora o vocalista britânico não só estava
muito bem-disposto como a sua voz soou o mais firme e mais forte do que todas
as outras vezes que visitaram o nosso país, pelo que o balanço foi mais do que
positivo.
Nick constatou
que os PARADISE LOST andavam "aqui há muitos anos", mais ou menos desde a
década de quarenta, abrindo assim caminho para o tema mais antigo do
alinhamento, «Gothic» (que,
obviamente, não foi publicado nos anos 40 e sim em 91). Mais tarde, voltaria a
mencionar a longa carreira da banda ao anunciar que o tema seguinte era um
êxito que tocava há décadas e que esperava que assim continuasse - «As I Die». E, finalmente, parece ter
aprendido a dizer "obrigado", embora o tenha feito apenas uma vez.
Quando saíram do palco depois de «True Belief», ainda demorou alguns segundos até que alguém
começasse a gritar PARADISE LOST.
Mas quando esse alguém o fez, um coro imenso seguiu-se. Voltariam então para o encore constituído por «Isolate», «Pity The Sadness» e «Say
Just Words». Um alinhamento diversificado, interpretado com uma postura
exemplar.
No entanto, a banda do dia, de todo o festival, foi, sem
dúvida, GOJIRA. Há anos que o público
português esperava por isto e a própria banda admitiu que desejava cá tocar
desde a sua formação – ou não tivessem os irmãos Duplantier raízes portuguesas, mais propriamente nos Açores. Assim,
com a excitação de ambas as partes, temos a personificação da expressão popular
"junta-se a fome à vontade de comer" em conjunto com a reputação que
assiste a banda francesa no que toca a actuações ao vivo - o resultado só podia
ser explosivo.
Por falar em explosivo, foi precisamente com «Explosia» que abriram o concerto e
ainda estavam a soar os primeiros acordes quando já se observavam crowdsurfers a transpor as grades. Aproveitamos
para dar os parabéns aos seguranças que durante todo o festival não só ajudavam
os crowdsurfers na aterragem como
ainda lhes davam indicações sobre qual o melhor trajecto a seguir.
É difícil escolher os pontos mais altos, pelo que nos
limitamos a informar que «Flying Whales»
teve direito a uma wall of death (que
Joe Duplantier ainda perguntou como se dizia em português,
acrescentando que em francês era mur de
la mort) e ainda a um golfinho insuflável - à falta de uma baleia - que um
fã levara. O golfinho acabaria por continuar a voar por cima das cabeças do público
por mais algumas canções.
O encore começou
com um solo do baterista Mario Duplantier e terminou com «Where Dragons Dwell», embora o público
quisesse mais, muito mais. Joe endereçou
um "muito obrigado", como tinha dito praticamente no final de cada
música, mas tendo consciência de que poderia haver outras nacionalidades
presentes, acrescentou "gracias" e "thank you". E então
deve ter dito todas as amabilidades que conhecia na nossa língua, uma vez que depois
de "boa noite" acrescentou ainda "boa tarde" e "bom
dia". "Gojira, Gojira" soou ainda durante uns longos momentos,
mas os DJs de serviço, entretanto, entraram ao serviço. E foi uma pena terem-no
feito apenas no final dos concertos e não durante os intervalos das bandas,
pois um dos pontos mais desfavoráveis desta edição do VOA foi a música ambiente ser literalmente a mesma todos os
intervalos, durante os três dias. Outro ponto negativo foi o acesso ao fosso
fotográfico, que por mais do que uma vez fez-nos perder a entrada em palco das
bandas. Fora isso... matematicamente, seis é o primeiro
número perfeito - a sexta edição do VOA
andou lá perto.
Texto: Renata
Lino
Fotografia:
Catarina Torres