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BLAME ZEUS: entrevista exclusiva com Sandra Oliveira

SONS DO OLIMPO


Sob o signo da pureza, de um ente superior que tentamos sempre culpar sem olharmos para nós próprios e uma identidade que fazem questão de não mascarar, os portuenses BLAME ZEUS partem em busca de um sonho muito sério com a estreia «Identity». O passado dos seus elementos poderia ditar um destino diferente (há aqui staff dos GANGRENA e OBLIQUE RAIN), mas é com uma mescla de pop, rock e metal que agora tentam conquistar uma vasta plateia de seguidores. Inovar é palavra de ordem, mas é preciso, acima de tudo, que se sinta o que se faz, segundo relata a vocalista Sandra Oliveira.

«Identity» é financiado a partir de uma campanha de crowdfunding. Isto para uma banda jovem e a lançar um primeiro álbum, sobretudo num Portugal em crise, parece algo quase impossível. Como acham que tal se proporcionou?
Sim, o álbum foi financiado, em grande parte, pelas contribuições dos fãs, amigos e família. Foram dois meses e meio de muito trabalho, a "chatear" muitas pessoas, incansavelmente a dar a conhecer o projecto. Acho que os apoiantes simplesmente perceberam que estão perante cinco pessoas que querem fazer disto a sua profissão, que levam a música muito a sério e não só como uma actividade para relaxar ao fim-de-semana. Acredito também que se conectaram com a música que fazemos, e, por isso, estamos eternamente gratos.

O crowdfunding é mesmo o futuro das bandas?
Nos tempos em que vivemos, nem todas as bandas têm a sorte de encontrar alguém como o André Matos, da Raising Legends, que, sem qualquer lucro, tem estado a ajudar-nos com as mais variadas coisas, e a usar os seus conhecimentos e contactos para nos impulsionar. A banda tem que tomar a iniciativa de apostar em si própria, mas nem sempre é fácil investir em grande, e agora, com os instrumentos de media que temos à nossa disposição, começa a ser possível formar uma boa base de fãs, consistente e leal, que esteja disposta a pagar previamente para ver a banda crescer. É isso que significa contribuir para um crowdfunding: acreditar no sucesso de um projecto e investir nele, tornando-o também seu. São os fãs que a banda tem que conquistar, são eles a razão de tudo e o que vai, no fim de contas, permitir o seu sucesso.

Fazer música em Portugal é uma actividade particularmente precária?
Podemos dizer que, apesar de termos um álbum editado e nos estarmos a preparar para a sua tour, continuamos com os nossos empregos… leva tempo até um músico poder viver só da sua aspiração e, em Portugal, dada a situação político-económica, isso agrava-se. Para além da questão da crise, há pouca iniciativa de sair de casa para ir ver o concerto de uma banda que não se conhece.

Acho que os apoiantes simplesmente perceberam que estão perante cinco pessoas que querem fazer disto a sua profissão.

Relativamente à vossa história, olhamos para o background de cada elemento e vemos uma forte ligação ao metal. Porquê criar uma sonoridade tão "radiofónica" com os BLAME ZEUS? Uma necessidade criativa?
Não houve necessariamente uma decisão consciente de fazer as músicas mais "radiofónicas". Acho que está relacionado com o facto de o processo criativo não ser sempre igual. Umas vezes iniciava eu com letra e melodia vocal e depois cada um fazia a sua parte, ou surgia primeiro o riff da guitarra, ou até a malha de baixo. As minhas influências jazzísticas também poderão ter a sua cota parte de culpa… a minha forma de cantar talvez puxe para ambientes mais melancólicos e não tão directos ou agressivos, embora eu adore ouvir metal.

Apesar de muitas vezes as sonoridades menos extremas serem associadas a menor complexidade técnica, criar música para os BLAME ZEUS pode configurar outros desafios a nível de composição. Como decorreu a experiência de escrever este álbum e em que objectivos se focaram?
Quando compomos temos apenas uma regra: tem que soar bem a todos. Cada um de nós tem os seus princípios sobre aquilo que será uma boa composição, e uma música só estaria finalizada quando todos estivessem satisfeitos… por isso é que é um álbum tão pessoal mas ao mesmo tempo a fusão da identidade de todos. No meu caso, tento que a música tenha dinâmica e que se sinta crescendo; evito estruturas básicas estrofe/refrão/estrofe/refrão e respeito mais o caminho que a letra está a tomar; e tenho que sentir a emoção, tenho que sentir que a música me faz arrepiar. No que diz respeito a fazer música nova, o céu é o limite.

A vossa sonoridade é claramente mais melódica do que a generalidade do metal, mas ao mesmo tempo tentam apelar à comunidade das "vestes negras". Como esperam explorar o mercado? Vêem-se, por exemplo, a actuar em festivais de metal underground?
Um dos objectivos que tivemos em conta quando escolhemos as músicas que íamos incluir no álbum foi a variedade, ou seja, quisemos ter um pouco de tudo, um pouco de hard rock, um pouco de progressive, um pouco de post-rock e metal. Isso muitas vezes dificulta-nos a tarefa de definir o nosso estilo nuclear quando nos perguntam… é provável que destoássemos um bocado em festivais exclusivamente metal – tudo estaria bem ao tocarmos a «The Apprentice», mas depois se passássemos à «Accept», haveria provavelmente pessoas confusas na audiência.

O disco tem duas semanas. Como tem sido o feedback até ao momento?
O feedback tem sido muito positivo, os fãs estão a gostar e muitas pessoas que não eram fãs passaram a ser, agora que têm acesso a um trabalho completo. Sentimos interesse e curiosidade por parte do público, e estamos ansiosos por concretizar os concertos de apresentação, que nos lançarão ainda mais.

«Identity» é um título que sugere alguma mensagem em especial?
Sim, «Identity» indica a união das diferentes personalidades musicais e influências de cada um de nós. É como quem diz "aqui estamos, sem máscaras, sem embelezamentos, esta é a verdade crua do que somos".

Não poucas vezes se lê que o vosso grande objectivo é criar música inovadora. Até que ponto o produto final do vosso álbum pode marcar a diferença num mercado tão lotado?
Penso que marcamos a diferença porque oferecemos música que procura ter algo novo, fresco, que virá talvez da combinação de uma voz que nem é gutural nem é lírica, mas que transfere sensações fortes de igual forma, com um instrumental bem delineado e moderno.

Entre outras coisas, um dos tópicos muito sublinhados sobre a vossa identidade é o facto de terem, maioritariamente, formação musical. De que forma isso se revela determinante na hora de serem criativos?
É determinante, pois a formação musical deu-nos as ferramentas para criarmos o que quisermos… pode parecer que limita a criatividade a certos padrões e regras existentes na teoria musical, mas na realidade liberta-a pois temos uma maior compreensão de como a música, intrinsecamente, funciona.

Penso que marcamos a diferença porque oferecemos música que procura ter algo novo.

Neste momento estão envolvidos na votação do Global Rockstar Music Contest. Como está a decorrer até ao momento? O que fariam se ganhassem?
Estamos neste momento na primeira fase do concurso, que vai decidir o representante de cada país. Seria fantástico para nós ganharmos esta fase, portanto, neste momento, é esse o objectivo. Está a correr bem, dado que estamos em primeiro lugar do chart de Portugal e o segundo lugar, a esta data, se encontra a 130 votos… mas até ao dia 4 de Novembro tudo pode acontecer! Há que continuar a pedir aos fãs para votarem todos os dias. Se ganhássemos o prémio final, que são 25 mil dólares, iríamos, com certeza, investir mais na banda, em material, em merchandise, em fazer videoclips e em promoção, e guardar algum para um próximo álbum (vote aqui).

O que se espera para os próximos meses? Imagina-se que muitos concertos... No entanto, existe algum plano para contrariar o tendencial "espaço em branco" entre edições, muito comum nas bandas mais jovens e/ou independentes?
Neste momento estamos a preparar os concertos de apresentação e a reunir datas para organizar uma tour. Queremos promover o disco, queremos também levá-lo, se possível, ao estrangeiro, e para já estamos com toda a nossa atenção focada nisso. Tocar, tocar, tocar… é o principal, ter contacto directo com o público e espalhar a nossa música.

Nuno Costa



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