SWITCHTENSE: entrevista exclusiva com Hugo Andrade
TENSÃO RENOVADA
De pedra e cal e com
uma energia inesgotável, os SWITCHTENSE continuam a devastar palcos pelo país
(e também pelo estrangeiro) e a altura é a de virar uma página na sua carreira.
A preparar o seu terceiro disco, o colectivo de thrashcore da Moita trabalha já
com novo baterista, que vem de Espanha e se estreou ao vivo no dia 30 de
Agosto. Sobre este assunto e muitas questões ligadas ao estado da música
pesada, fomos conversar com Hugo Andrade, o frontman que também já se tornou um pensador muito seguido nas
redes sociais.
Aparentemente intensifica-se o debate sobre o estado do underground nacional - e até internacional, se atendermos à interminável discussão sobre o declínio da indústria discográfica - e fica a sensação de que o género atravessa um momento muito conturbado. Para uns, o género está, inclusivamente, a morrer ou morto. Terá isso uma ponta de verdade ou trata-se mais de uma campanha irrealista e de má fé?
Não me parece que seja uma campanha de má fé. Considero que existam visões
diferentes sobre o mesmo assunto, tendo como base as experiências e as
vivências adquiridas. Desde que existam pessoas que continuem a agarrar em
instrumentos e a fazer bandas só porque gostam de tocar, sem qualquer tipo de
pretensões de pertencer a esta ou aquela estirpe, sem objectivos pura e
unicamente económicos , o underground nunca vai desaparecer. Podem existir,
nesta fase, e por vários motivos, poucas vendas de CDs e merch, por exemplo, mas isso não significa que alguma coisa tenha
morrido no espírito da cena. Se formos por ai, então o mainstream também está morto porque as vendas de discos desceram
para todos. Os concertos, às vezes, estão vazios, outras vezes estão cheios.
São ciclos e são muitas as variantes que podem fazer com que um evento seja um
sucesso a nível de público ou não. Mas lá está: não é por aí que se sente se o underground está vivo ou não. É na
atitude que continua a existir por parte de muitas bandas e do público.
Apesar do género continuar a mover
multidões, sobretudo se olharmos para os grandes festivais, será que o metal
perdeu mesmo notoriedade em prol de outros movimentos que grandes campanhas de
promoção/publicidade ergueram? Os media
terão muita culpa nisso?
Quem gosta de metal está mais que educado a não estar à espera de ver e conhecer bandas num canal generalista qualquer. Os fãs deste estilo procuram e têm as suas próprias fontes para ouvir e conhecer a música que gostam. Depois entra a parte do negócio e aí é que as coisas são mais complicadas. Existem em Portugal, e em todo o mundo, inúmeros festivais de metal. Não me parece que se tenha perdido notoriedade nenhuma, muito pelo contrário. As tours com bandas novas e mais antigas são recorrentes, o que mostra que existe público para este estilo.
Quem gosta de metal está mais que educado a não estar à espera de ver e conhecer bandas num canal generalista qualquer. Os fãs deste estilo procuram e têm as suas próprias fontes para ouvir e conhecer a música que gostam. Depois entra a parte do negócio e aí é que as coisas são mais complicadas. Existem em Portugal, e em todo o mundo, inúmeros festivais de metal. Não me parece que se tenha perdido notoriedade nenhuma, muito pelo contrário. As tours com bandas novas e mais antigas são recorrentes, o que mostra que existe público para este estilo.
Sobretudo nos anos 90, o metal
tinha grande suporte, até da MTV, e isto também porque foi nessa altura em que
surgiram bandas que estavam, de alguma forma, a estabelecer as regras de alguns
géneros. Era fresco, digamos assim. Até que ponto os músicos actuais também são
responsáveis pelo desinteresse de algum público? Perdeu-se a criatividade? É
mais difícil inovar ou é o público que, simplesmente, quer outras coisas (ou é
levado pelo marketing a querer outras
coisas)?
O que eu acho que existem, e de uma forma cíclica, são modas. O metal
está recheado de bandas que inovam o estilo de uma forma ou de outra. Não me
parece que se tenha perdido criatividade nem me parece que o público que
realmente gosta de metal se esteja a desmobilizar. É como em tudo na vida: há
aqueles que ficam e os que passam. Isso vai acontecer sempre.
Desde que existam pessoas que continuem a agarrar em instrumentos e a fazer bandas só porque gostam de tocar, sem qualquer tipo de pretensões de pertencer a esta ou aquela estirpe, sem objectivos pura e unicamente económicos , o underground nunca vai desaparecer.
Agora a pergunta que se impõe e
que muitos fazem neste momento: quem é o Antonio Pintor e como surge no
universo dos SWITCHTENSE?
O Antonio Pintor é o nosso novo baterista. É uma pessoa com que já tínhamos
estado há uns anos atrás quando tocámos, por duas vezes, com a banda onde ele
tocava. Já nos conhecíamos e sabíamos que é um excelente baterista. Poucos dias
depois de termos colocado um anúncio online,
tínhamos um e-mail do Antonio a dizer
que gostava de experimentar. Mandou-nos um vídeo a tocar uma música nossa,
«Unbreakable», e pelo vídeo ficámos logo com a certeza que era um baterista como
ele que precisávamos. Marcámos um dia para nos juntarmos, conversar e tocar um
pouco, e ele chegou ao estúdio com oito temas preparados ao pormenor. Tocámos
as músicas todas seguidas e se no dia seguinte houvesse um concerto,
seguramente que não haveria problema nenhum de o fazer com o Antonio. Nesse dia
fizemos o convite para ele entrar na banda e, sem hesitações, aceitou.
Quais apontaria como as suas
grandes virtudes?
Na sequência da resposta anterior, posso dizer que é um tipo dedicado e
que se aplicou a fundo para fazer um primeiro ensaio connosco com um nível
brutal, e para ter um set preparado
para tocar ao vivo em tempo recorde. Fizemos dois ensaios e tocámos com ele num
concerto que correu muito bem. É um baterista rápido, com o groove que gostamos e com uma
musicalidade a tocar bateria que nos agrada bastante. A sua vontade em estar
numa banda como esta é também determinante para que as coisas corram bem. Para se
estar nisto tem que se gostar, sentir e não pode ser algo que se gosta hoje mas
amanha já não.
O facto de ele ser de Badajoz
significa que a banda tenderá a trabalhar à distância? Basicamente, quais as
vantagens e desvantagens do António ser de Espanha?
As desvantagens de ser de Espanha não são muitas, até porque ele vive lá
mas muito próximo da fronteira com Portugal. Não estamos assim tão longe como
isso. Quando as pessoas se querem dedicar às coisas não existem esses problemas.
Ele tem facilidade e conhecimento para trabalhar várias coisas em casa e nós a
mesma coisa no nosso estúdio. A internet facilita muito o processo de estarmos
em contacto e todos a participar e a ouvir o que se está a fazer. Depois,
vamo-nos juntando conforme as possibilidades para tocar e passar tempo juntos.
Concertos vão sempre surgindo e isso ajuda a coisa a estar sempre no ponto!
O Antonio já participa das novas
composições?
Sim. Uma das coisas que fizemos assim que ele entrou para a banda foi
enviar-lhe uma música que tínhamos feito há uns dias. A música já tinha a
estrutura bem definida e uma bateria programada com umas ideias para ele
seguir. Depois, foi só ele gravar a bateria, com ideias que teve, e enviar para
nós. Vamos trabalhando assim e depois acertamos agulhas nas alturas em que
tivermos juntos a tocar no estúdio. É um processo a que já estávamos habituados,
pois foi praticamente sempre assim que fizemos no passado.
Vocês produzem e acredita-se que,
nesta altura, já têm bem definido o aspecto dos novos temas. Já fizeram
gravações, pré-produção? Estão em condições de confidenciar o impacto e a
orientação musical dos novos temas?
Sim, já temos algumas demos
de algumas músicas feitas. Esperem um disco rápido, é só isto que posso dizer!
Tento mudar o mundo dentro das minhas possibilidades praticamente nulas!
Editaram dois discos pela
Rastilho. Como será para um terceiro? A banda cresceu muito nos últimos anos...
Sentem que o salto para uma editora maior seria importante ou conseguem atingir
todos os objectivos estando numa editora nacional, sabendo-se, no entanto, do
grande poder de distribuição do selo de Leiria?
Não vivemos obcecados com editoras, pois não somos nós que decidimos.
Só temos que fazer um disco que nos agrade e que nos preencha da mesma forma
que os outros dois. Até agora, nunca deixámos de fazer alguma coisa por
estarmos numa editora nacional, portanto, não existem grandes preocupações com
esse assunto. A Rastilho sempre foi um bom parceiro para nós e, até ao momento,
sempre nos proporcionou tudo para podermos editar a nossa música com a máxima
qualidade. Nesta altura, o mais importante é compor os temas e preparar tudo
para gravar. O resto pensamos depois.
O Hugo tornou-se um pensador muito
seguido nas redes sociais graças à frontalidade com que discute certos
assuntos, alguns até muito delicados relativos à música e à própria sociedade.
É um Hugo que tenta mudar o mundo?
Sim, é verdade que uso as redes sociais para demonstrar algumas coisas que
penso, mas também uso as músicas da minha banda para isso. Sempre tive uma
postura de intervenção ao longo da minha vida. Muitas vezes vejo ou
acontecem-me certas situações que me sinto quase na obrigação de as comentar e
partilhar com as pessoas que com elas se interessam. Tento mudar o mundo dentro
das minhas possibilidades praticamente nulas! [risos]
Próximo passo/paragem para os
SWITCHTENSE?
Para já, no que diz respeito a concertos, temos mais algumas datas para
fazer até ao final do ano. No dia 24 de Outubro estamos na sala Fantasma, em
Lisboa, com os GROG e os ANALEPSY. No dia 31 de Outubro marcamos
presença no Maze Fest no Incrível
Almadense com os FOR THE GLORY e os MOONSPELL. Já no dia 8 de Novembro estaremos
na nossa terra, Moita, numa warm up
do Moita Metal Fest com os JACKIE D, THE QUARTET OF WOAH!, PRIMAL
ATTACK e VIRALATA. Entretanto, vamos
compondo novos temas e preparando com toda a calma o nosso terceiro disco de
originais. Estamos aí com toda a força... como sempre!
Nuno Costa