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A DREAM OF POE - streaming exclusivo de «Macula» + entrevista

NO LIMITE DO INFINITO


Prestes a celebrar dez anos, A DREAM OF POE continua a ser o sulco perfeito para Miguel Santos alojar toda a nebulosidade que lhe invade a alma. Não obstante hílare e optimista, o açoriano - hoje radicado no Reino Unido - não dá tréguas ao negror quando escreve. Foi assim em dois EPs e um álbum, e essa tendência quase dogmática mantém-se no futuro «An Infinity Emerged». Doom letárgico, cavernoso e poético a conferir em «Macula», tema que agora estreamos em exclusivo. Banda nova, realidade nova e convicções seguras - um momento de viragem que o multi-instrumentista e produtor tem a cortesia de analisar em pormenor.



«An Infinity Emerged» está a ser produzido há cerca de dois anos. Uma opção para preservar o resultado final ou mero constrangimento devido à sua vida pessoal?
Adorava dizer que este atraso todo é devido ao facto de querer preservar o resultado final... Infelizmente, este não é o caso. A minha vida pessoal e a dos vocalistas que trabalham ou trabalhavam comigo é a principal razão para este enorme atraso. Às vezes não há mesmo volta a dar. Felizmente que as coisas estão agora muito bem encaminhadas.

Praticamente toda a realidade dos A DREAM OF POE mudou quando emigrou. Como tem sido coordenar o projecto de forma a que continue no activo e se revitalize? A busca por novos elementos foi dura?
Mudou e muito. Isto pode soar um pouco lamechas... quer dizer, é mesmo muito lamechas, mas tive de pensar muito com a cabeça e deixar o coração de lado. Não é fácil ao fim de sete anos a trabalhar praticamente sempre com as mesmas pessoas e principalmente depois de termos feito uma tour juntos, decidir que, devido à minha situação pessoal, o que faria mais sentido seria começar do zero com músicos locais. Cheguei à conclusão que seria impraticável manter os mesmos elementos. Acho que essa difícil decisão foi o motor que possibilitou manter o projecto activo e com boas perspectivas de voltar aos palcos. Em relação à busca por novos elementos... bem, arranjar vocalista aqui em Edimburgo até nem foi muito difícil. Através de um promotor local que me apresentou a banda IN ABSENCE conheci o Kaivan. Foi com alguma naturalidade que surgiu o convite para integrar os A DREAM OF POE. Aliás, o Kaivan teve um papel fundamental na procura de músicos - o Joe Turner [baixista], também elemento dos IN ABSENCE, e o James Skirving [guitarrista] foram ambas sugestões dele por partilharem não só gostos musicais mas também uma amizade com vários anos. Quando a questão se prende ao baterista, aí é um caso completamente à parte. Com o regresso do João Oliveira a São Miguel tive de iniciar a busca por um baterista. A procura iniciou-se em finais de Julho e só agora em Dezembro, através de sugestão do Joe Turner, consegui finalmente encontrar um baterista [Euan McPherson] disponível e interessado em A DREAM OF POE.

Edimburgo é uma cidade de música e músicos? Sente que tem aprendido enquanto músico por estar numa nova realidade?
Lembram-se de como os Açores eram nos anos 90 e inícios de 2000? É exactamente igual! Não faltam bandas e músicos, há mais concertos, claro, e muita mais escolha, mas o ambiente que se vive é praticamente o mesmo. Quase tudo o que é pub é uma venue, muitos até com excelentes condições que já incluem P.A. e backline - de certa forma um pequeno paraíso. Uma das principais diferenças é que  os concertos são todos a pagar. A titulo de exemplo, um evento com três bandas locais, em média, os bilhetes custam 8 libras. Claro que esta nova realidade me influencia e aprendo com ela. Felizmente, com a partilha de conhecimentos também vou dando algo a aprender.
De certa forma a entrada do Kaivan leva-nos aos inícios de A DREAM OF POE, principalmente na era em que o Paulo Pacheco ainda era o vocalista.

Inicialmente estavam previstas gravações na Holanda e Espanha. Esse objectivo acabou por concretizar-se?
Verdade, mas Espanha está completamente fora de questão. No entanto, a Holanda continua nos planos. Vamos ver se sempre será possível.

De que forma a entrada do vocalista Kaivan Saraei influencia o que a banda fez até então?
Acho que de certa forma a entrada do Kaivan leva-nos aos inícios de A DREAM OF POE, principalmente na era em que o Paulo Pacheco ainda era o vocalista. Contudo, a sua experiência junta ao natural amadurecimento do projecto a nível de composição e à minha evolução como músico e produtor, faz com que este novo trabalho seja mais emotivo e variado que os anteriores.

O restante processo de composição e gravação como tem decorrido? A bateria, por exemplo, foi gravada ainda nos Açores, certo? E as restantes pistas finais estão a ser captadas por si?
Estamos praticamente nas etapas finais, embora faltem ainda as vozes e o baixo nos restantes quatro temas. Todos os instrumentos, à excepção dos teclados, foram captados por mim da mesma forma que fiz nos trabalhos anteriores. A bateria foi gravada pelo João Oliveira no Inverno de 2012 quando regressei aos Açores pela primeira vez depois de me ter mudado para Londres. Claro que não dou o processo de composição por completo. Por vezes, com a adição das vozes surge uma ideia ou outra a nível instrumental. Na minha opinião, é um processo contínuo.

Há semelhança de outros discos, haverá músicos convidados em «An Infinity Emerged»?
Sim, alguns, tais como Kostas Panagiotou [PANTHEIST], Lawrence Meyer [OFFICIUM TRISTE], Nelson Félix [SANCTUS NOSFERATU], entre outros.

Volta a ser o produtor de serviço. Está perfeitamente satisfeito com esta forma de trabalhar ou ainda espera experimentar um staff externo?
Estou relativamente satisfeito. Reconheço as minhas limitações e que talvez o trabalho tomasse outra dimensão se fosse, pelo menos, misturado e masterizado por alguém mais especializado e com mais experiência que eu. No entanto, infelizmente, o dinheiro é sempre um impedimento. Espero, contudo, ainda trabalhar com um bom produtor e engenheiro na produção de um futuro álbum.

Edgar Allan Poe é uma das suas grandes inspirações. De que forma esta figura incontornável da literatura continua a influenciar a sua música, concretamente este novo disco? O Paulo Pacheco continua a assinar as letras?
De várias formas. Penso que podemos comparar, até certo ponto, o peso, a melodia e alguma da relativa complexidade do disco com alguns dos trabalhos de Edgar Allan Poe. O Paulo Pacheco continua a assinar as letras. Durante a reestruturação da banda este foi um aspecto que decidi não alterar, pois desde que haja um computador e uma conta de e-mail será sempre fácil ter a participação dele.
Podemos comparar, até certo ponto, o peso, a melodia e alguma da relativa complexidade do disco com alguns dos trabalhos de Edgar Allan Poe. 

Apresente-nos «Macula». Sobre que reza as suas letras e como o define em termos musicais no contexto do álbum?
Eu tenho por hábito e tradição não falar sobre a realidade das letras. Isto porque a sua interpretação é sempre muito subjectiva. Gosto que cada pessoa tenha a sua interpretação. Aliás, faço questão de não saber e muito menos perguntar ao Paulo Pacheco qual a história das mesmas. Mas sei e posso revelar o seguinte - «An Infinity Emerged» funciona como uma continuação e side-story do «The Mirror of Deliverance». É um conjunto de cinco histórias todas diferentes mas com uma linha que as unem e complementam. "Cause in my breath lies life´s grinder..."

Consta que em breve a banda volta aos palcos. O Doom Over Edinburgh será a próxima paragem?
2015 irá marcar o nosso regresso ao palcos. O lineup está definido, assim como os temas a apresentar. Apesar de estar a organizar o Doom Over Edinburgh, A DREAM OF POE infelizmente não poderá marcar presença. Só há relativamente pouco tempo o lineup ficou completo. Como promotor chega a um determinado momento em que não se pode esperar e foi exactamente isso que aconteceu.

Que relação mantém com os Açores? Tem estado atento ao cenário musical local? Saudades de regressar?
Apesar de adorar a Escócia tanto quanto adoro os Açores, os Açores serão sempre a minha terra. Continuo atento ao cenário musical local, claro. Até foi com muita pena que não pude estar presente no regresso dos MORBID DEATH. Infelizmente, a vida profissional e principalmente o custo brutal das passagens fizeram e fazem com que não seja assim tão fácil ir aos Açores. Felizmente que isso vai mudar com a abertura do espaço aéreo e a ida das lowcost para São Miguel. As saudades são sempre muitas... ao fim e ao cabo, tudo ao que estava habituado e dava como garantido continua em São Miguel - família, amigos, etc. Em 2015 tudo indica que vá aos Açores mais vezes ou muitas mais vezes.

Nuno Costa


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