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THROUGH THE SILENCE: entrevista exclusiva com André Lopes

SILÊNCIO ENSURDECEDOR


No meio do Atlântico mas com os olhos postos nos Estados Unidos. Pelo menos assim parece, de acordo com a sonoridade que os terceirenses THROUGH THE SILENCE desenvolvem e que muito deve ao que é feito em termos de metalcore por terras do Tio Sam. Mas será que não passam de um compêndio de um estilo que até já viveu melhores dias? Tudo isso é meramente retórico face ao sangue novo e cheio de garra que fervilha neste recanto insular e que, acima de qualquer convenção ou adversidade, quer criar música com o máximo de personalidade possível. Têm apenas dois anos, mas a consistência já se nota. Assinam um dos poucos lançamentos açorianos do ano, com o EP «Debt Of Words» (já a 20 de Dezembro), e fazem crer que há motivos para levarmos a sua música a sério. André Lopes é a voz do grupo e explica porque as convicções nunca devem ser traídas pelos desafios que a vida nos impõe.

Comecemos pela vossa história: os THROUGH THE SILENCE mantêm uma proximidade quase umbilical com os MERMAID KILLED MONSTER. Porque decidiram cessar esse projecto?
Os MERMAID KILLED MONSTER foram um projecto que, pessoalmente, me marcou, pois foi onde comecei no mundo musical, por acidente. Infelizmente, comecei tarde a prestar atenção à música e muito menos me havia passado pela cabeça vir a ser vocalista, pois a minha experiência era nenhuma. Nunca tinha experimentado cantar, nem sequer no duche! [risos] Há excepção de um elemento, os restantes nunca tinham tido bandas nem tínhamos qualquer noção de como trabalhar e criar música uns com os outros. Com a evolução de todos os membros é que fomos também explorando, pouco a pouco, os gostos e estilos musicais de cada elemento até que conseguimos chegar a uma sonoridade comum entre todos nós. No entanto, com essa evolução, alguns gostos também se foram alterando e eu próprio já sentia a necessidade de algo mais pesado, assim como outros elementos. Com isso, começaram a surgir alguns conflitos com outros elementos que não queriam sair da sonoridade da altura. Sendo assim, foi metido um ponto final nos MERMAID KILLED MONSTER e nasceram os THROUGH THE SILENCE.

O que acha que lhes herdaram em termos de conceito?
Os refrões catchy que sempre tínhamos em atenção e que conseguíamos criar. Penso que essa herança dos MERMAID KILLER MONSTER é o ponto-chave que ainda persiste nos THROUGH THE SILENCE e nos esforçamos para manter.
Os nossos refrões são uma das "armas" que nos caracteriza e nos ajuda a fugir a esses ditos clichés.
A inclusão de dois elementos, nomeadamente dos THE TRUTH ABOUT THE MIND e SOMNIVM, àquele que era o núcleo dos MERMAID KILLED MONSTER, veio acrescentar experiência aos THROUGH THE SILENCE?
A entrada destes dois elementos foi algo de muito positivo, pois ambos os elementos já tinham muito mais experiência que os restantes, seja a nível de criar música como de conhecimento musical geral. Como referi, comecei algo tarde a ouvir música e ainda nos dias de hoje, quando chega a altura de criar um tema novo, por vezes, sinto alguma dificuldade pelo facto de não ter boas bases como têm o Pedro [Freitas, guitarrista] e o Edgar [Fernandes, baixista].

O metalcore continua a ser o fio condutor dos THROUGH THE SILENCE. Antes de qualquer outro aspecto, temem o preconceito que se gerou em torno do género?
Penso que não. É verdade que o metalcore tornou-se um pouco mainstream, mas é algo que já aconteceu em outros tempos com outros géneros. Como tudo e em todos os estilos, existe a boa e a má música. Se calhar o que aconteceu no passado foi que, pela falta da Internet e de outros meios que hoje em dia já existem, antigamente só se dava a conhecer mesmo quem realmente trazia algo de bom para as editoras e público. Hoje, a Internet fornece um vasto leque de formas de fazer chegar uma banda a outros públicos além-fronteiras... e ficamos a conhecer boas e más bandas. Porém, penso que essa situação sempre se verificou, ainda que agora esteja mais evidente. A indústria musical, em geral, está a mudar a olhos vistos. Diariamente são editadas nove ou dez bandas independentes de metalcore ou deathcore ou djent, enquanto que da "Velha Guarda" saem uma ou duas.

De que forma tentam distanciar-se dos clichés do género?
Tentamos ao máximo nas nossas composições fugir aos clichés, de forma a que se destaquem detalhes ou pormenores que não existem nas outras bandas do mesmo género, o que, não poucas vezes, torna-se difícil, como é óbvio. Todavia, como indiquei, os nossos refrões são uma das "armas" que nos caracteriza e nos ajuda a fugir a esses ditos clichés. É aqui que também entram as influências do Edgar no death metal melódico, do Pedro no punk rock e post-hardcore e do Vitor [Parreira, guitarrista] no rock. Tudo conjugado faz com que o nosso som fique menos genérico.


Em dois anos de existência, como definem a evolução do projecto em termos de composição desde a gravação de «Memories» até «Debt Of Words»?
Positiva. Desde cedo pré-definimos objectivos para um certo prazo de tempo e até à data temos conseguido cumpri-los sem grandes atrasos.

Acaba por ser curioso não terem incluído a «Memories» no alinhamento deste EP. Por alguma razão especial? Eventualmente, até seria o vosso melhor candidato a single...
A «Memories» foi a primeira música que criámos após termos o nosso lineup completo. Na altura, ainda estávamos a explorar e a definir o nosso estilo. Os temas que criámos depois já caracterizavam melhor o nosso som, sendo que esse tema fugia um pouco a esse som. Assim, optámos por não inclui-lo neste EP.

Apesar de ainda nem ter sido lançado, «Debt Of Words» tem sido alvo de uma interessante promoção além-fronteiras, nomeadamente pela inclusão em várias compilações. Como tem sido este trabalho de promoção autónomo e como avaliam os resultados até ao momento?
O trabalho de promoção tem sido todo feito pelo Edgar, que tem sido incansável nesse aspecto. Tem-nos agradado com os resultados até à data - o feedback recebido tem sido positivo. Optámos por uma divulgação através das redes sociais, blogues e grupos que nos levam a outros grupos e por aí adiante, e temos recebido contactos de anúncios de procura de bandas para encabeçar compilações e nós simplesmente vamos  participando.

Eventualmente, a vossa sonoridade é bem melhor recebida nos Estados Unidos. Já definiram com precisão aonde querem fazer chegar este trabalho?
O nosso som está a ser bem recebido nos E.U.A. pelo facto do metalcore lá ser mais popular. Estamos a apostar nisso, assim como gostaríamos de nos virar para a Europa, nomeadamente para o Reino Unido. Estamos a estudar a criação de uma versão do EP em formato digital para poder ser distribuído nas plataformas online, tais como iTunes, Spotify, etc.

Têm estado em contacto com promotores estrangeiros no sentido de tentar algo mais audaz?
Ainda não pensamos nisso. Já temos tido algumas propostas mais na parte da distribuição e  divulgação, mas temos que ser realistas e ter os pés bem assentes na terra. No entanto, como é óbvio, gostaríamos de tentar algo .

«Debt Of Words» é composto por temas que procuram na conjugação de melodia e peso o seu ponto forte. Compõem com a preocupação de gerar um produto com capacidade de chegar a públicos mais amplos?
Sim, temos sempre isso presente para dessa forma não termos que nos restringir a apenas  certos tipos de público. Conseguimos, assim, atingir o público que irá gostar das partes mais "pesadonas" e atingir outros tipos de público que apreciará mais as partes melódicas.
Ao longo da nossa vida conhecemos pessoas ou passamos por momentos em que sentimos que nos ficou por dizer algo ou alguém nos deveria ter dito algo.
Tratando-se de um disco alegadamente pessoal em termos líricos, como se pode traduzir um título como «Debt Of Words»? A quem devem ou quem vos deve palavras?
Penso que todos nós ao longo da nossa vida conhecemos pessoas ou passamos por momentos em que sentimos que nos ficou por dizer algo ou alguém nos deveria ter dito algo, mas esse momento nunca chegou. Penso que seja essa  a melhor explicação que consigo dar para o significado deste título. A malta que preste atenção às letras e à mensagem, elas transmitem bastante! [risos]

Reconhecidas as contingências insulares, como pretendem combater a falta de oportunidades para actuar e, no fundo, promover o vosso trabalho nos Açores?
Sim, as oportunidades são cada vez mais escassas, mas nós optámos por ser mais activos em vez de nos limitarmos a estar fechados na sala de ensaios à espera que nos convidem. Vamos à procura de sítios para tocar e tentamos organizar os nossos concertos. Foi assim com a nossa estreia no Praia Rock Café, assim como no Backstage Bar, no qual fomos a primeira banda com uma sonoridade mais pesada a estrear o palco com uma nova gerência que muito nos tem apoiado neste projecto. E claro que as redes sociais também desempenham um papel fundamental, nomeadamente o Facebook que nos liga worldwide nesse sentido. Podemos não sair da ilha, mas o nosso som sim, sai e espalha-se.

Os Açores já foram uma zona muita mais activa no que respeita à música de peso. Como olham para a quase "desertificação" de bandas verificada nos dias de hoje?
Sem dúvida que isso preocupa-nos cada vez mais. Na Terceira ainda existem alguns "resistentes" que se vão juntando e fazendo os seus próprios projectos e eventos, outras bandas estão simplesmente adormecidas por falta de elementos e, como se costuma dizer, "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". Alguns já desistiram simplesmente das bandas de originais e conformaram-se com as bandas de covers por ser uma via mais fácil de vingar... Se fosse possível reverter esta situação, penso que já tinha surgido alguma solução. No entanto, até à data, continua tudo na mesma.

Aproxima-se a passos largos o lançamento de «Debt Of Words». O que vos é possível adiantar sobre o concerto do dia 20 de Dezembro?
Sim, haverá concerto no Backstage Bar. Estamos a tratar dos últimos preparativos e podemos adiantar que vamos ter os BEYOND CONFRONTATION como convidados a partilhar o palco. Esperamos que seja uma noite "tesuda", com a malta a curtir muito e, claro, muito metal.

Por fim, qual é o status dos vossos outros projectos?
Os THE TRUTH ABOUT THE MIND estão em standby. Quanto aos SOMNIVM, aparentam estar parados. Não sei ao certo. Neste momento o Edgar já não faz parte do projecto.

Nuno Costa



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