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TERROR EMPIRE: entrevista exclusiva com Ricardo Martins

CONTRA O SISTEMA, THRASHAR, THRASHAR


Começariam por dar um pontapé na crise - a nacional, principalmente. Depois escreveriam um álbum com tanta testosterona e pêlo na venta que derrubariam todos os lobbies instituídos. Fizeram um pouco das duas coisas ao mesmo tempo, com as devidas distâncias metafóricas. Ao menos contribuem com esse espírito e ainda lançam doze malhas que prometem incendiar muitos sistemas sonoros por estes palcos fora. Dos "meninos" que fundaram o projecto em 2009 em Coimbra pouco resta senão uma insaciável vontade de debitar thrash frenético com músculo death metal. Sim, a estreia «The Empire Strikes Black» é um seguimento lógico do EP «Face The Terror», mas a combustão a que aqui se assiste já pouco tem que ver com os seus primórdios. O veneno é muito mais mortífero e as presas estão bem mais afiadas, como comprova a "cascavélica" capa deste álbum e a conversa que mantivemos com o vocalista Ricardo Martins.

O título deste disco é uma sátira à «Guerra das Estrelas»? Gostam da série?
Antes de mais, obrigado pela oportunidade e por todo o apoio que têm dado ao underground e ao som mais alternativo que tão bem se vai fazendo no nosso país. Respondendo à pergunta, trata-se mais de um jogo de palavras com o nome desse episódio. Mas acaba aí a relação entre o álbum e o filme. Pessoalmente, gosto da série, mas o disco não é, de todo, uma sátira à «Guerra das Estrelas».

Será mais a realidade crua do que a ficção que inspira este disco, certo?
Certíssimo. É essa crua realidade que nos inspira.

Que "império negro" é esse? Algo a ver com a situação actual da sociedade portuguesa? Como banda de thrash e hardcore, a crítica social é o tema mais presente nos vossos diálogos e comportamentos, enfim, no vosso dia-a-dia como pessoas e músicos? São rebeldes por natureza?
Se considerarem rebelde aquele que questiona, que não aceita tudo sem uma explicação plausível, que se preocupa com o rumo da sociedade, que cuida dos outros como cuida de si, que tenta perceber os interesses ocultos, que não aceita a corrupção, a diminuição de direitos legítimos, então somos uma banda rebelde! [risos] Somos uma banda consciente de si e dos outros. Inquieta-me quem escolhe a ignorância, quem prefere não saber e que se alheia da sua responsabilidade… "os outros que decidam". A situação de Portugal é um excelente exemplo desse lado obscuro da sociedade. Olhamos à nossa volta e vemos uma sociedade desfeita por políticos fantoches, os escândalos com a banca, corrupção, favorzinhos... Vivemos inseridos num sistema económico sociopata que se alimenta das pessoas, dos mais fracos e desprotegidos. É um império ganancioso, o objectivo é o lucro desmedido e o poder pelo poder.
               
As bases do thrash metal são sempre muito sólidas, mas não necessariamente estanques. Qual foi o ponto de partida para a composição deste álbum? De que forma o «Face The Terror» é um trabalho distante deste?
O ponto de partida foi o «Face The Terror», na medida em que não queríamos fazer um álbum igual. Quisemos experimentar novas dinâmicas, novas nuances e ambiências, contudo, sem perder a nossa identidade thrash.
Vivemos inseridos num sistema económico sociopata que se alimenta das pessoas, dos mais fracos e desprotegidos. É um império ganancioso. 
Apesar da base ser o thrash, há claramente outros terrenos que pisam como o hardcore ou o death metal. Como surge esta fusão?
Surge genuinamente. Cada um de nós tem os seus gostos, ouvimos de tudo um pouco e penso que, quer queiramos quer não, essas influências vão surgindo e vão-se reflectindo nas composições naturalmente.

O mercado nacional começa a abundar em quantidade e qualidade neste tipo de bandas. Porque acha que temos criado tantas raízes nesta área? E será que isso é perigoso para alguém?
Quando a quantidade está aleada à qualidade isso só pode ser bom e não perigoso. Obriga-nos, a cada banda, a melhorar, a querer fazer cada vez melhor. Acho que deixámos de olhar com desdém para o que é feito cá. Há mais facilidade em criares uma banda, gravares e mostrares-te ao mundo, daí também nos dar a ideia de que há mais bandas, quando, no fundo, há mais facilidade na partilha e divulgação.              

Desta vez há um elemento novo na bateria. Como foi trazer o João para o vosso universo e que contributo ele terá tido para o crescimento do vosso som? Ele que também assumiu parte da produção e até tem um background ligado ao black metal, certo?
O João adaptou-se fantasticamente às nossas dinâmicas e ao nosso universo. É um baterista talentoso e dedicado, um músico completo. Trouxe-nos um novo poder e novas abordagens que resultaram num acréscimo de peso. Criativamente permitiu que fossem exploradas outras dinâmicas, devido à sua ligação musical ao black metal e à sua versatilidade. Ele e o Rui fizeram uma bela equipa em estúdio, complementaram-se na perfeição.

Convidado ilustre: David dos ANGELUS APATRIDA. Como surge tudo isto? Mera amizade ou porque entenderam que traria mesmo outra pujança a «The Servant»?
Uma participação que nos deixou a todos muito orgulhosos e honrados! Tudo foi muito simples e rápido - o Rui perguntou-lhe se estaria interessado em colaborar connosco e ele prontamente disse que sim. Podemos dizer que foi por admiração, respeito e amizade que o convite foi feito e ele deu-nos um grande solo como prenda! [risos] A verdade é que nos deu um acréscimo de qualidade, tal como a participação do Ricardo Dias "Congas" dos FOR THE GLORY na «Revolution Now», do Marco Fresco dos TALES FOR THE UNSPOKEN na «Good Friends Make The Best Enemies» e do Ricardo Gordo, na guitarra portuguesa, na «Black».

Já agora, o David disse-vos alguma coisa sobre o disco?
Penso que ele ainda não o ouviu por completo, mas gostou bastante da «The Servant».

Agora que estão sob alçada de uma editora o que esperam alcançar? Como tudo surgiu?
Fomos abordados pelo Joel Costa, com quem já tínhamos trabalhado na promoção digital do «Face the Terror», durante as gravações do «The Empire Strikes Black», demonstrando interesse em que assinássemos com a Nordavind Records. A experiência com a promoção e os contactos que sempre fomos mantendo com o Joel levaram-nos a crer que seria uma óptima escolha e que formaríamos uma excelente parceria. Agora, iremos trabalhar em conjunto para ambos crescermos.

Que estratégias devem estabelecer para "furar" o mercado nacional e internacional nesta era dos downloads e de tanta concorrência? É possível ainda ter expectativas altas? Com que metas trabalham em mente?
A sorte faz parte do sucesso. Vamos precisar também dessa sorte para conseguir furar o mercado internacional. Mas a base da nossa estratégia está no trabalho, na dedicação e na humildade. Esperamos que a cada concerto estejamos cada vez melhores e que consigamos chegar a mais gente. É esse o nosso objectivo.

O que os três anos que separam este lançamento do anterior vos trouxe enquanto músicos e pessoas deste meio? Amadureceram? A estrada é mesmo fulcral nesse sentido? Ou estão simplesmente mais "velhos" e sentem que processam tudo de forma mais esclarecida e eficaz?
O tempo faz-nos isso, vamos processando as coisas com mais calma, com mais ponderação. Foram três anos de crescimento, amadurecimento e aprendizagem constantes. Lançámo-nos às feras e fomos sempre procurando tocar, tocar e tocar para ganharmos experiência e tornarmo-nos cada vez mais consistentes como banda. Das coisas que ninguém nos tira e que este meio nos deu é as amizades que irão certamente ficar para a vida e a oportunidade de irmos realizando alguns sonhos.
Acho que deixámos de olhar com desdém para o que é feito cá.
Recentemente completou-se dez anos da morte do Dimebag Darrell. Isso diz-vos algo?
Claro, foi um músico que marcou toda uma geração. Era alguém com um carisma especial e um músico virtuosíssimo. Não merecia ter tido o fim que um louco lhe decidiu dar. É uma lenda!

Também recentemente o Rex Brown afirmou que muitas bandas tentam recriar a magia dos PANTERA, embora sem sucesso. Magia é uma palavra que escapa hoje em dia ou é apenas um mito de nostalgia para desculpar que já não se tem paciência para ouvir bandas novas?
Penso que os PANTERA foram especiais, eram genuínos, não havia ali show off. E talvez esse seja o problema de muitas bandas hoje em dia - preocupam-se mais em parecer. Olhava-se para os PANTERA e via-se quatro gajos completamente desprendidos de tudo, excepto da música que faziam. Os tempos também eram outros. Hoje em dia, tudo tem de ser muito sério e depois temos também o factor "cópia"… nunca vai ser igual ao original. Para mim, o segredo dessa magia está na genuinidade dos nossos actos - quanto menos forçarmos, copiarmos e se nos mantivermos humildes e honestos mais perto estaremos de criar essa magia.

Nos próximos meses o que vos espera? "Asfalto", muito asfalto? Mais videoclips, idas ao estrangeiro? Como estamos?
Idas ao estrangeiro estão em mente, mas nada existe em concreto...ainda! Esperamos conseguir alcançar esse objectivo. Estamos em contactos para a realização de um videoclip e em breve haverá novidades. Quanto a asfalto, ansiamos percorrer muitos quilómetros, ir a locais que ainda não fomos, resumidamente, tocar, tocar, tocar e tocar. Esperamos que 2015 seja mais um ano de afirmação para os TERROR EMPIRE. Começámos o ano no Mangualde Hardmetalfest e, para já, temos mais dois festivais que também nos enchem de orgulho por fazermos parte do cartaz - o Moita Metal Fest e o Santa Maria Summer Fest. A agenda vai-se preenchendo. Sigam o nosso facebook  e o nosso site  e ficarão a par das novidades e dos palcos por onde vamos andar. Aproveito para convidar todos os que puderem aparecer no nosso concerto de lançamento do álbum no dia 1 de Março em Coimbra, no Salão Brazil, com os nossos grandes amigos DESTROYERS OF ALL e REVOLUTION WITHIN.

Nuno Costa 



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