MOONSPELL: entrevista exclusiva com Fernando Ribeiro
AUTO DE EVOLUÇÃO
Quando se amontoam os anos de
carreira e os sucessos discográficos, diz a "natureza" deste mercado
que é uma tendência quase irrevogável que o comodismo se instale. Serão poucos
os exemplos como o dos MOONSPELL que chegam ao seu décimo álbum com uma
frescura desconcertante. Sim, «Extinct» poderá muito bem ser o melhor álbum
desta alcateia que já tem tanto de internacional como de alma lusitana. Sabe-se,
e sente-se, que dificilmente conseguiram reunir tão requintado e irresistível conjunto
de temas e que aqui estão hinos que se tornarão imprescindíveis em qualquer
cerimónia de idolatria lunar daqui em diante. Depois do peso dos últimos discos
há um certo abrandamento, mas a classe da composição nunca esteve tão apurada.
Fernando Ribeiro explica como se consegue estar neste pico de forma aos 40 anos
e analisa ainda, no seu típico discurso eloquente e lúcido, como as bandas
underground devem sobreviver à mudança dos tempos.
Dez álbuns, mais de vinte anos
de carreira e uma qualidade intocável. O que vos mantém tão saudáveis?
Essa saúde é um pouco daquilo que mantém os MOONSPELL vivos, a funcionar e ávidos criativamente. Os MOONSPELL sempre foram, acima de tudo,
um refúgio para nós. Um álbum serve para nos expressarmos livremente, contarmos
as nossas histórias e opções. Fazemos a música e as letras completamente à
nossa maneira, é uma prioridade que nunca esquecemos. O mundo do metal às vezes
é muito profissional, as bandas preocupam-se em serem muito profissionais e a terem
as coisas muito bem gravadas e bem tocadas. Porém, acho que isso não é tudo, é
apenas uma consequência da criatividade. Claro que temos que ser bons músicos e
tentar evoluir o máximo possível, também para que as ideias que surjam resultem
melhor. Acontece que essa criatividade é exactamente o que resulta de uma banda
com pessoas activas que quer sempre criar e expandir-se musicalmente. Se me
perguntarem o que é mais importante numa banda, respondo: essa capacidade de
compreender que, primeiro que tudo, criámos uma banda para nos expressarmos,
criar conceitos, fazer música, contar histórias... Quando temos essa
consciência, as coisas até se tornam bastante naturais. Se calhar não é por
termos muitos discos e fazermos muitas tournées,
as outras bandas são feitas de pessoas como nós. Tudo reside nessa
criatividade, não há nenhum segredo, apenas uma paixão por criar. Esse é um
fundamento da banda. Lidamos com a imprensa, a aceitação do público, tudo isso,
mas essa parte da criatividade é aquela que conseguimos manter sob nosso
controlo absoluto. Isso é excelente para uma banda e é o objectivo número um
dos MOONSPELL.
Por esse prisma, e olhando para
a vossa discografia, parece evidente que acabam por fazer questão de mudar ligeiramente
a abordagem de tempos a tempos. Em «Extinct», e depois de alguns discos mais
pesados, abrandam um pouco e evidenciam a vossa veia mais gótica e directa...
Acho que é um bocado inevitável na nossa música. Ainda por cima as
pessoas têm vários discos para comparar a nossa dinâmica de criação. Isso acaba
por acontecer de forma bastante espontânea. É natural que depois de «Memorial»,
«Night Eternal» e «Alpha Noir» quiséssemos desafiar-nos musicalmente noutros
campos, porque, ao fim e ao cabo, fizemos três discos que tinham uma costela
muito mais metaleira, dark e gótica,
e claro que sentimos a necessidade, a ressaca, de fazer isso. Depois, também
nos questionamos muito enquanto músicos e uma das questões que colocámos foi
"será que um estilo completamente pesado servirá as nossas
intenções?". De vez em quando sim, mas de vez em quando temos imensa
necessidade de enveredar por uma música que é mais rockeira e gótica, que é
também muito predominante nos MOONSPELL.
O que quisemos fazer no «Extinct» foi ter mais musicalidade, músicas mais
directas. Sim, são menos in your face,
mas fizeram-nos crescer enquanto compositores e músicos. Isso é parte de um
exercício de superação que fazemos. Há bandas que não o fazem, que estão contentes
com o seu estilo e que têm uma base de trabalho bem definida. Os MOONSPELL nunca tiveram essa base de
trabalho. Quem conhece a nossa discografia sabe muito bem que estas voltas são
sempre expectáveis, surpreendentes. Acho que é positivo.
Ou seja, não entraram ainda em
piloto automático...
Esse não é um esquema para os MOONSPELL.
Quando começámos a escrever o «Extinct» estávamos até a considerar dedicar mais
algum tempo ao «Alpha Noir». Tínhamos bastantes convites, mas os MOONSPELL fazem-se mais de rupturas do
que de rotinas. Eu cheguei com este conceito, com esta necessidade de um
álbum novo, que modifica logo completamente as nossas vidas, pessoais também.
Fazer um disco é seguir outro tipo de compromisso, é saber que não passou assim
tanto tempo desde a última data e já estás em tournée outra vez... Mas lá está, como dizia, a criatividade é
compensatória. Quanto à questão de estar em piloto automático... há muitas
bandas que pensam "temos um álbum agora, daqui a um ano e meio lançamos
outro disco ou um best of", mas
os MOONSPELL nunca quiseram ter essa
lógica na carreira. Podíamos parar este ano e fazer uma tournée por todo o mundo só a tocar o «Wolfheart», que faz vinte
anos, mas não é esse tipo de coisas que nos move, não é para isso que estamos
numa banda. Há-de haver tempo para tal e vamos tocar muito do «Wolfheart» na tournée que se avizinha. No entanto, enquanto
temos esta chama criativa e estas coisas para dizer e contar, vamos apostar
nisso - nunca nos deixamos entrar em piloto automático. As rotinas existem mas
só se tornam mais interessantes se tivermos música nova. Aí sim, podemos expandir-nos,
tocar outro repertório, ter outras experiências e, sobretudo, proporcionar às pessoas
outras experiências.
Os MOONSPELL fazem-se mais de rupturas do que de rotinas
É a fórmula fundamental para se
manterem entusiasmados. A partir daí, todo o resto acontece naturalmente,
certo?
Sim, o nível de entusiamo tem que se manter. Também já temos 23 anos
juntos como MOONSPELL e temos de
aprender a dar valor às coisas certas. Toda a experiência de estúdio, de
compor, de tocar, é extremamente valiosa para que nenhuma crítica nos deite
abaixo. Concentramo-nos muito em separar estas coisas. O essencial é manter
este nível de entusiasmo e criatividade na banda, pois corremos sempre o risco
de entrar numa zona de conforto - temos uma carreira, fãs, podemos
perfeitamente ficar a celebrar o nosso passado um ou dois anos. Porém, não é
esse o caminho que se apresenta à nossa frente, nem o que escolhemos. Queremos
um caminho que é mais desafiante. Sabemos que há preços que se pagam por isso,
mas o pior preço é a estagnação, é uma banda estar tão aborrecida de si própria
que começa a fazer coisas desinspiradas.
Precisamente depois de tantos
anos de uma carreira bem sucedida, a responsabilidade é diferente daquela de
quem está ainda bastante circunscrito ao underground. Torna-se essencial essa auto-gestão
e acaba por ser um trabalho árduo...
Sim, trabalha-se a todos os níveis, mas no underground também se
trabalha muito. O que as pessoas devem perceber, e essa sempre foi uma grande
luta no underground, é que eu venho de um underground que se queria expandir
e não implodir. Há uma grande diferença. As pessoas pensam que o underground é
sinónimo de não-sucesso. Temos bandas que partilharam connosco o
underground, os ARCH ENEMY (que até
são mais recentes que nós), AMON AMARTH,
DIMMU BORGIR... vimo-los ter uma
exposição mundial, tentam ser bandas grandes. Haverá esta contradição no
underground. O underground para mim sempre foi um espírito. Ainda hoje existe
nos MOONSPELL esse espírito. Quando
temos um convite e não sabemos se vamos ganhar ou perder dinheiro mas sabemos
que é uma oportunidade de tocar para os fãs, nós vamos! Não é uma questão de
ser moralista. Temos um espírito bastante tranquilo, sentimo-nos bem, estamos a
lançar um disco novo, temos datas até ao fim do ano, as críticas são óptimas...
Sabemos que também trabalhámos para isso e claro que também queremos ter
melhores condições para fazer a nossa música, não para comprar um carro novo
[risos], mas sim para fazer um espectáculo melhor, etc. Claro que isso é
investido na banda, nenhuma carreira consegue ser gerida de forma gratuita.
Todas as pessoas que trabalham para nós não podem estar a fazer esses
investimentos.
Recentemente afirmou que
«Extinct» é resultante das suas "dores de idade" e de algum egoísmo
pessoal que teve de superar. Quer explicar-nos isso?
Essa é uma teoria muito vasta. Uma coisa extinta pressupõe metas,
explicações, imensas teorias e maneiras de experienciar. Falámos com outras
pessoas, lemos e extraímos ideias daí. É muito importante ter esta substância.
Há uma profundidade que tentámos dar às nossas letras e acabei por dar-lhes um
toque mais pessoal. Os MOONSPELL
sempre escreveram muito sobre ficção, mas ao entrarmos na vida adulta - aos 40
anos - conseguimos ver que a nossa vida, matéria, os nossos desafios quase
diários serviram para as nossas letras, especialmente quando misturadas com
coisas da imaginação - são sujeitos de ambas as matérias. O que nos levou a
escrever um álbum chamado «Extinct» foram eventos de morte e superação,
principalmente nesta fase em que fui pai. Apesar de me considerar uma
pessoa generosa, sempre consegui reservar um espaço para mim, mas esse espaço
foi-se extinguindo pelo facto da paternidade, que é uma experiência óptima e que
me deixa muito feliz, mas também nos testa muito. E na extinção não há simplesmente
um fim. Se é natural é chamada de especiação, em que as espécies perdem certas
qualidades para se adaptarem à sua situação e ao ambiente que as rodeia. Daí
que ser pai é um bocado o extinguir daquela juventude, daquela coisa que se
apoderava de nós. No entanto, com isso conseguimos fazer coisas que nunca
pensaríamos ser capazes. Tudo isso inspira os MOONSPELL, não somos do tipo de banda que agarra numa obra do J.R.R.
Tolkien ou no tema da Segunda Grande Guerra e escreva um conceito sobre isso. Apesar
de sermos inspirados por livros, os nossos temas são mais diversos.
Então não há uma inspiração directa
na obra de Melanie Challenger...
Ela foi muito importante, são obras muito parecidas... Ela vem da
poesia e tem a sua parte científica. Fez uma viagem a vários sítios
emblemáticos da extinção, principalmente a extinção causada pelo factor humano
e não pela natureza, o que hoje é muito mais comum. Ela interpretou isso e escreveu-o
de forma muito poética, daí que haja uma forte inspiração e um cruzamento muito
interessante com o seu trabalho. Falei com muita gente e a Melanie é uma pessoa
na qual me revejo muito na forma de expressar emoção, dor, perda pessoal e como
isso leva à extinção a nível pessoal... Tudo isso é muito interessante e acaba
por estar reflectido na dinâmica e nas letras do álbum.
Se atentarmos a títulos como «The
Future Is Dark» e «The Past Is Darker» ficamos com a sensação de que a mensagem
deste disco é algo pesarosa. No entanto, os mesmos indicam que houve melhorias,
ainda que num contexto sempre negativo. Em que ficamos?
Estes títulos são uma mera uma constatação. Nasci em 74, os tempos da
perda da esperança. Foi uma altura muito interessante para Portugal, mas também
fomos confrontados com a possibilidade do fim, da extinção, da guerra absoluta,
da guerra nuclear. É um tema também muito sensível aos MOONSPELL - o fim - também porque, no fim de contas, já falámos
muito na extinção, mas no âmbito da perdida. É quase como uma ambiguidade que, de alguma
forma, dá vida a alguns dos nossos pensamentos e sensações. Os tempos são
negros. Podemos destacar algumas coisas positivas na evolução da humanidade,
mas estamos programados para uma certa negatividade. Mesmo quando lemos alguma
coisa online, parece que nos toca
mais o que é negativo. Conseguimos ver melhor a maçã que está podre numa caixa
de maçãs mais bonitas e apropriadas. Mas lá está, falei de ambiguidade porque é
muito importante para os MOONSPELL.
Nunca acreditei e, sobretudo agora, não acredito na vida como aquelas bandas absolutamente
misantropas, nomeadamente as de black metal. Acho que a vida é muito mais
interessante... a vida é fácil, se for assim a preto e branco. Acho que a vida
é bonita precisamente pela textura, cor, dégradé,
entre outras coisas. Realmente «The Future Is Dark» é uma constatação, mas
também na letra diz "without you
there is no tomorrow". Há sempre ali um "tomorrow". Aprendemos enquanto banda e pessoas que o tempo não
corre à nossa maneira e temos que ter um certo realismo para o enfrentar. Contudo,
os MOONSPELL nunca foram uma banda
de apelar à misantropia ou ao ódio pelo mundo e pelas religiões. Sempre fomos
mais ambíguos e até já fomos um bocadinho condenados por isso. Acho que nos
aproximamos mais das pessoas e não construímos aquela fortaleza em nosso torno.
Daí os nossos fãs se identificarem tanto com as nossas letras, não por uma
questão literária, mas emocional.
O que nos levou a escrever um álbum chamado «Extinct» foram eventos de morte e superação, principalmente nesta fase em que fui pai.
Em termos de produção, estreiam um
novo elemento. Depois de dois discos com o Tue Madsen, mais reconhecido pelas
produções pesadas e modernas, um produtor como o Jens Bogren fazia todo o
sentido para este disco?
A produção é sempre um tiro no escuro. Trabalhar com um produtor novo
fazia também parte de um compromisso auto-imposto para sairmos da nossa zona de
conforto. Não que tenhamos entrado numa, mas já estávamos a gravar as nossas
próprias coisas, e para este disco queríamos mudar um pouco o nosso processo. Não
que estivéssemos a chegar ao fim, mas
achámos por instinto, mais do que por algo racional, que esta mudança seria
melhor. Como tal, contactámos o Jens... Sim, ele trabalhou com os KATATONIA, PARADISE LOST, mas tem
um historial até mais ligado a bandas como AMON
AMARTH, ARCH ENEMY, OPETH... e nós gostamos dessas bandas,
achávamos que seria um profissional fantástico. No entanto, no que tivemos mais
sorte foi no factor humano. Ele estava um bocadinho "farto" da lógica
de trabalhar com essas bandas e procurava algo mais próximo de si, musicalmente.
Quando percebemos que ele é fã de FUNHOUSE,
MOONSPELL, etc., sentimos que
tivemos sorte. O tiro no escuro foi logo passado para um envolvimento pessoal e
musical, e quando é assim... Sempre trabalhámos com produtores fantásticos,
cada um à sua maneira, mas penso que o Jens também nos apanhou numa fase muito
interessante da nossa idade, como banda. Tem muito a ver com os tempos antes de
fazermos o «Wolfheart», «Irreligious»... na altura não tínhamos feito
praticamente nada. Também tínhamos arrancado uma espécie de outro estilo
musical no «Alpha Noir/Omega White». Acho que é o produtor certo para altura certa.
Não sabia disso na altura, tinha excelentes referências dele, ele tem uma lista
de clientes óptima, uma personalidade que, sem dúvida, nos permitia dizer que
era a pessoa certa para trabalhar, até pela sua própria lógica de trabalho. Contudo,
quando começámos a trabalhar juntos, o contributo dele à produção, ao som, a
nível de ideias, detalhes, etc., foi sem dúvida extraordinário e ficámos muito
contentes com o som do disco - era exactamente o que queríamos. Nota-se o dedo
dele, mas não tem nada a ver com as outras bandas que produziu até agora.
Sentem que este é o vosso melhor
disco até à data?
Nunca gosto de ver as coisas dessa forma. Há o espírito do tempo, há
uns que se adequam melhor do que outros... Quantos discos nos levam a pensar na
questão "o disco certo na altura certa"? As bandas dão sempre o seu
melhor, mas nem sempre sai o seu melhor. A intensidade fez-nos crescer muito
rapidamente como banda, numa altura em que se calhar devíamos estar mais
confortáveis, a gerir a carreira, a tocar mais um bocado. Essa ruptura foi
muito importante, tornou-nos mais fortes, concentrados, com mais vontade de
perseguir os nossos objectivos. Por isso, não sei se este é o nosso melhor
álbum, não me compete dizer. É um disco que nos encontra em melhor forma e
isso nota-se na sua frescura e no seu impulso. Sabemos que soa a MOONSPELL mas também que estamos
diferentes. Essa situação é sempre algo que traz as pessoas para junto de nós.
Já esta semana estrearam o documentário
«Road To Extinction». Trata-se de uma mera forma de entretenimento ou decidiram
editá-lo porque retrata um momento muito especial da vossa carreira?
Este documentário
não era para ser tão longo, era mais um simples bónus feito para nós, algo mais
caseiro, para lançarmos com o disco. Acabou por ser algo que surgiu muito espontaneamente.
Sempre quisemos fazer este tipo de documento visual - só temos um DVD, para
além de videoclips e outros vídeos no Youtube. Mas não é
a mesma coisa. Ele ajuda
a contar o conceito do álbum em três partes distintas que se encontram
misturadas: a parte da extinção, em que convidámos várias pessoas, inclusive a
Melanie Challenger [autora do livro «On Extinction»], a darem o seu testemunho
e a relacionarem o conceito do disco; o making of, onde se poderá
assistir às gravações, à crew a
discutir sobre música e a passar horas em torno de um simples acorde (tudo o
que passa despercebido a quem já recebe a música completamente feita); por fim,
há um relato do nosso dia-a-dia, que também é uma história. A banda nunca entrou em extinção porque
sempre se soube adaptar às crises. Será interessante para os fãs verem o nosso dia-a-dia
e como nos adaptamos - o que é a verdade da música, o que fazemos nos tempos
livres, etc.
No meio disto tudo, prevê-se que
tenha algum tempo para lançar novo livro?
Acho que não, mas tenho alguns projectos. Vejo isso como a minha
actividade daqui a uns anos quando o rock'n'roll já não estiver em mim! [risos]
Tenho alguns projectos, um livro praticamente acabado, ideias para traduzir
algumas obras, especialmente de escritores ligados à música, como é o caso da
biografia do Nergal dos BEHEMOTH...
mas são tudo coisas que terão que ser um bocadinho adiadas. As digressões vêm
aí e será tudo um pouco em torno dos MOONSPELL.
Não estabeleço timings específicos,
esta é uma actividade que desenvolvo por gosto, não representa o mesmo
compromisso que tenho com os MOONSPELL.
No entanto, pode acontecer a qualquer momento. Há três anos lançámos a
fotobiografia da banda com os meus textos... As saudades de escrever e publicar
sempre vão aparecendo.
Como autêntico embaixador da
música pesada portuguesa, certamente continua atento ao underground nacional. O
que se constata é o proliferar de bandas (e de qualidade) num mercado que
oferece, de alguma maneira, menos vantagens do que antigamente. Como aconselha
a gestão de carreira às bandas actualmente?
Acho que a melhor coisa a fazer é não estar muito obcecado com o
mercado. Principalmente quando começamos, temos que estar preocupados em
construir uma identidade, uma banda coesa. Temos músicos que são um
bocadinho mais do que músicos, que conseguem enfrentar a estrada, resolver
problemas, adaptarem-se a várias situações. Acho que no início é muito
importante estarmos virados para dentro da banda e não para fora. Hoje, claro
que muitas coisas mudaram. As pessoas têm outros meios e necessidades, mas a
gestão das expectativas é sempre aquilo que é mais complicado para qualquer
banda a qualquer altura. Temos que tê-las mas saber lidar com elas de forma
(detesto esta palavra) realista. O que nos interessa no meio disto tudo, como
bandas, é apresentarmo-nos bem musicalmente. Isso consegue-se com um pouco de
inteligência, trabalho e sabendo aproveitar as oportunidades. De vez em quando
é difícil uma banda nacional saber o que é uma oportunidade... elas sentem-se
diminuídas, ganham pouco. Ainda assim, toda a gente passa por isso. Com a
gestão dessa expectativa construímos uma base forte. Os MOONSPELL precisaram de anos para construir essa base, mas mesmo
assim nunca podemos deixar de estar atentos.
É um disco que nos encontra em melhor forma e isso nota-se na sua frescura e no seu impulso
Quando se fala em criar uma base
de seguidores, significa actualmente ser popular, por exemplo, nas redes
sociais? Não será isso uma realidade desvirtuada até porque continuamos a ter
pouca afluência aos concertos?
Não, penso que esta não é uma base de seguidores. Isto é uma espécie de
contradição. Há bandas que são muito representativas online, mas depois têm pouca representatividade nos festivais, etc.
Isso acontece. Acho que uma banda tem que estar habituada a viver em várias
dimensões. Realmente o mundo da internet é um pouco enganador e onde a opinião
é muito diferente da emoção. Na internet é raro uma pessoa emocionar-se com um
concerto... é uma experiência indirecta, de alguma maneira. Acho que uma banda
tem que ter uma presença nítida, também não se pode deixar ultrapassar pelos
tempos. Os MOONSPELL têm essa
presença, mas também não são obcecados por tê-la. É mais um lado em que podemos
promover a nossa música, sabendo perfeitamente que existem outras coisas bem
mais interessantes. A internet, para mim, é uma gratificação instantânea, quer para
os fãs, quer para a banda, mas sabemos perfeitamente que uma banda envolve
muito mais - tem mais a ver com um romance ou algo de longa-duração do que
apenas um acompanhamento pelo Facebook.
Nesta fase, os MOONSPELL
sentem-se perfeitamente confortáveis com o meio português? Em certas ocasiões
alegou alguma indiferença por parte dos meios de comunicação. Sente que isso
existe mesmo?
Nunca pensei muito sobre o assunto... se calhar era uma verdade
incontornável, mas também não me sujeito a ser escravo dessa lógica. Nunca
resistimos a fazer coisas em Portugal inteiro. Muitos dos nossos momentos mais
memoráveis aconteceram exactamente em Portugal - isso diz-me alguma coisa -, mas
claro que entendo e concordo que o underground também tenha uma relação de
amor-ódio com os MOONSPELL. É
completamente explicável. Da parte do público, acho que não temos nada a nos
queixar. Temos um público fantástico, que se identifica connosco - também pela
nacionalidade -, o que não acontece com todas as bandas. Com a imprensa temos
conseguido trabalhar. Fazemos as coisas quando achamos que é o tempo certo.
Também nunca tivemos uma vontade incontornável de aparecer e fomos gerindo
isso. A indústria da música caminha para um sítio em que o metal, o rock e
outros géneros, não têm importância, mas isso sou eu como opinador. Enquanto
banda, não deixo que isso nos afecte. Podíamos ser uma banda maior em Portugal
se tivéssemos toda a disponibilidade para cumprir actividades só no país, como
algumas bandas que só pensam no mercado nacional. Nós tentamos equilibrar as
coisas e fazer o melhor que podemos em Portugal, mesmo que não estejamos nos
jornais e revistas todos os dias e que algumas nos ignorem e digam que já
estivemos melhor ou que já tivemos mais gente nos concertos. O que interessa
não é que relatem que estiveste lá, interessa é teres estado lá.
Nuno Costa
www.facebook.com/moonspellband
«Extinct» está nas lojas a 6 de Março pela Sony Music Entertainment e Napalm Records
«Extinct» está nas lojas a 6 de Março pela Sony Music Entertainment e Napalm Records