[Histórias do Baú] HEMPTYLOGIC: «Músicos açorianos no mundo? Falta saber quando...»
Steven
Medeiros desejou, mas o seu voto acabou por não se tornar profético (pelo menos até hoje).
"Talvez daqui a uns anos vejamos músicos açorianos a vingar pelo mundo
fora. Falta saber é daqui a quantos", foi assim que o vocalista dos extintos
HEMPTYLOGIC se referiu à cena de peso açoriana quando o nu-metal vivia tempos áureos, com extensão na região, sobretudo, através dos TOLERANCE 0 e KAOS, enquanto os MORBID DEATH se mantinham num plano distinto e intocável.
Em
entrevista concedida à SounD(/)ZonE em 2003, o nordestense - hoje radicado na
Suíça - queixava-se da eterna falta de oportunidades que travam o crescimento
das bandas alternativas nos Açores. "Ultimamente as coisas têm melhorado
muito nesse aspecto e pessoalmente acho que isso deve-se à evolução que é fruto
do trabalho dos músicos", disse, constatando a fiel base de seguidores de que alguns - apenas - gozavam na altura. No entanto, tal "regalia" não
chegava (e não chegou) para proporcionar a afirmação do produto local noutras paragens, mesmo que, e afirmava Steven convictamente, "temos nos Açores músicos com muita qualidade".
Para além disso, o espírito DIY também parecia não chegar para contrariar a tendência daquela época.
"Mesmo sendo nós a criar os eventos e trabalhando muito por isso, não nos
é possível, porque não há apoios suficientes para se poder organizar um
festival com nível", lamentou, argumentando: "Não queremos fazer um
festival à 'pressão' para não deixar o público desagradado".
Contrariamente
ao que se verifica actualmente - um corte drástico no número de bandas e
eventos de metal -, no virar do milénio eram muitos os projectos a saírem da
garagem, mesmo que não houvesse qualquer circuito de bares e os festivais especializados só viessem a instalar-se alguns anos mais tarde. Ciente disso, o futuro vocalista dos TRAUMA PRONE e FAKE SOCIETY já alertava para a desmotivação que isso geraria e consequente ameaça de extinção para muitos projectos. "Actualmente a música nos Açores está a evoluir, mas muito lentamente. Cada vez aparecem
mais bandas e de estilos muito variados, o que é bom. No entanto, algumas
dessas bandas acabam por desistir pelo facto de não haver apoio da região. Há
muito poucos eventos que motivem as jovens bandas. É muito desanimador só
existir eventos no Verão quando as bandas trabalham dia-a-dia para depois se
mostrarem só dois ou três meses no ano."
Os
HEMPTYLOGIC formaram-se em 2002 e desenvolveram um misto de nu-metal, thrash e
metalcore. Ficaram conhecidos pela rebeldia em palco, mas nunca chegaram a
mostrar-se em disco. Da sua última formação constavam ainda André Viveiros [STAMPKASE],
Tiago Câmara [PRIMAL ATTACK, SPOILED FICTION], Paulo Andrade [PROPHECY OF
DEATH, PSY ENEMY] e Isidro Paixão [SPOILED FICTION, KOSTO AND FULL, MATACAVALO]. Ao longo do seu percurso - que terá terminado em 2005 - participaram em algumas festividades populares e semanas académicas, com destaque para a actuação no Festival Geração JS, na ilha de São Jorge, ao lado dos MOONSPELL.
Recorde a entrevista aqui.