Miguel Fonseca [BIZARRA LOCOMOTIVA]: «As pessoas estão cada vez mais burras»
«Mortuário»,
sétimo álbum dos lisboetas BIZARRA LOCOMOTIVA, está no mercado desde 23 de
Fevereiro pela Rastilho Records e já reuniu o consenso do público e crítica especializados. No
entanto, o guitarrista Miguel Fonseca nega que a banda tenha atingido um
estatuto imaculado no cenário nacional, até porque continua a sofrer de falta de apoio dos meios de comunicação.
"Não
nos sentimos, de todo, das bandas mais admiradas e respeitadas no panorama
nacional. É certo que temos vindo a conquistar o nosso público aos poucos ao
longo dos anos com a nossa música e entrega nos concertos, mas há
muitas portas que ainda não se abriram à BIZARRA LOCOMOTIVA, e nesse aspecto
temos um longo caminho a percorrer", começou por explicar à Underground's Voice.
Fonseca
justifica: "As mentalidades ainda estão muito fechadas neste país e por
mais acessível que seja o nosso som (que é) existem muitas rádios que são incapazes de passar BIZARRA LOCOMOTIVA, enquanto passam bandas como
SEPULTURA, METALLICA ou até SLIPKNOT", sublinha, acrescentando que não compreende porque o som da banda
não é considerado acessível. "Logicamente é algo que não nos faz sentido,
mas essa barreira invisível para algumas pessoas de que o nosso som não é acessível
(que é, repito) continua presente, o que acaba por fechar muitas portas. As
fronteiras não existem, estão somente na cabeça das pessoas."
Miguel
Fonseca critica ainda duramente os lobbies económicos que influenciam a política editorial
dos media e até mesmo as novas regras da famosa rede social de Mark Zuckerberg , a quem diz que tem
os dias contados. "Ultimamente, é um dos meios mais directos [sites,
blogues] de chegar às pessoas. Os media fecham-se a sete chaves nos seus
lobbies do costume. É muito difícil a BIZARRA LOCOMOTIVA chegar às grandes
plataformas de comunicação por isso mesmo. O sistema está viciado e só tem
tempo de antena quem faz parte do lobby. (...) Infelizmente, o Facebook cortou
a visibilidade das páginas para favorecer a compra dessa mesma visibilidade. (...) É muito triste o que fizeram. A ganância monetária no seu melhor.
Mas num futuro próximo hão-de aparecer mais redes sociais e isso há-de ser a
morte do Facebook."
Já quanto à fraca afluência de público aos concertos, Fonseca atribui a razão à crise económica mas também aos maus hábitos culturais do povo português. "O hábito faz o monge. A cultura é cada vez menos acessível e as pessoas estão cada vez mais burras. Isso é um facto mais do que provado. Pode ser por falta de verba devido à austeridade, mas as pessoas preferem mesmo assim ficar em casa a ver novelas em vez de irem a eventos ou descobrir bandas novas. (...) O culto exacerbado do DJ e a massificação da música descartável também são o grande inimigo das produções de espectáculos com bandas. Sai muito mais barato a uma produtora e dá muito menos trabalho contratar um DJ que passa as músicas que toda a gente conhece. O caminho mais fácil é sempre o escolhido, mas as coisas vão chegar a um ponto de saturação em que as pessoas irão ter sede de conhecimento e cultura depois de terem levado tamanha lavagem cerebral."
Leia a entrevista completa aqui.
Considerado a primeira ópera industrial do mundo, o sucessor de «Álbum Negro» (2009) foi gravado nos Red Light Studios e misturado nos Estúdios Namouche por Miguel Fonseca e Joaquim Monte. A masterização esteve a cargo de Thomas Eberger [RAMMSTEIN, AMON AMARTH] nos Stockholm Mastering Studios. Para além de títulos como «Sudário de Escamas», «Na Ferida um Verme» e «Mortuário», o alinhamento do disco inclui uma versão do clássico «Intruder» de Peter Gabriel [GENESIS], uma das grandes influências da banda e considerado um dos criadores da música industrial. Dos créditos do disco há ainda a sublinhar o trabalho gráfico de João Diogo.
Os BIZARRA LOCOMOTIVA voltam aos palcos a 28 de Março na Sociedade Filarmónica Estrela Moitense no âmbito do Moita Metal Fest. Segue-se o Hard Club, no Porto, a 25 de Abril.