J.A. [DECAYED]: «O romance e o rock estão praticamente mortos»
J.A. |
"Isto começou a rebentar mesmo a sério em 1999.
Tínhamos concertos todos os meses, convidavam-nos para tocar de norte a
sul", diz J.A., contrabalançado por Vulturius: "Hoje em dia há muitos
sítios para tocar, não há é dinheiro para pagar as bandas."
No entanto, J.A. reconhece que no virar do milénio a remuneração
era também escassa ou inexistente. "Normalmente íamos só pelas despesas.
Fazíamos uma festa desgraçada, levávamos sempre três ou quatro carros com
pessoal amigo de Lisboa. Isso para mim é que era o underground - toda a gente se
apoiava. Era outro espírito. Hoje
em dia não vai nem um carro, vai só a banda. Esse pessoal está casado e com
filhos..."
Ainda em senso nostálgico, J.A. recorda os factores que
construíram o misticismo dos anos 80. "Não dá para comparar o que foi e o
que é e nem nunca poderemos voltar atrás. Mesmo quando oiço falar em
revivalismo, 'agora está-se a ouvir isto ou aquilo'... se realmente ouvirmos
aquilo a que chamam de revivalismo, não é. Pode ter uns cheirinhos, mas lá está,
não tens dezasseis anos, não estás chateado com os teus pais, não estás a fumar
uma ganzita às escondidas e a beber um litro de vodka antes de ensaiar... E
acho que foi isso que criou o misticismo dos anos 80. Não era só música, era
mais qualquer coisa."
Sobre as letras que escreveu para este novo álbum, o líder
da banda de black metal enfatiza a perspectiva negativa sobre o estado actual
da raça humana. "O ser humano não vale nada. Já perdi toda e qualquer
esperança. Enquanto fui novo era inocente, um bocado tapado, acreditava
no ser humano. Mas já há uns anos que não acredito nisso. Simplesmente falo
daquilo que vejo. Acho piada ao circo em que estamos inseridos. Aliás, quando
me vêm dizer que 'as coisas ainda podem melhorar'... não, as coisas estão
cada vez piores. Vivemos numa sociedade que não considera essencial dizer 'bom
dia' ou 'boa tarde' - para mim, é daquelas coisas essenciais. 'Obrigado' também
é uma palavra bonita de se utilizar. Completamente [sou um cavalheiro] e isso está
explícito na minha música", constata, capitalizando: "Já fui mais romântico, por perder a capacidade de acreditar
no ser humano. O romance está, tal como o rock, praticamente morto."
«Into The Depths Of Hell» é o décimo longa-duração dos DECAYED e foi editado a 14 de Abril pela Helldprod. O sucessor de «The Ancient Brethren», de 2012, inclui nove temas inéditos, uma versão de «The Rite Of Darkness» dos BATHORY e três faixas extra.
Para o presente ano, a banda tem planeada a edição de um split com os franceses
EXCRUCIATE 666 e um split single com os nacionais GÖATFUKK. Em termos de
espectáculos, estarão a 2 de Julho na Alemanha e para Setembro projectam um concerto comemorativo dos seus 25 anos de carreira.
J.A. avança também nesta entrevista que já terminou um novo
disco dos CUNNILINGUS, enquanto planeia novidades dos ALASTOR e NETHERMANCY para os próximos meses.
Em Junho do ano passado, os DECAYED reeditaram o disco de estreia «The Conjuration Of The Southern Circle» (lançado originalmente em 1994), incluindo um concerto realizado em 1993 e
um booklet de dezasseis páginas. A edição é da Aphelion Productions.