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MOONSPELL / SEPTICFLESH / BIZARRA LOCOMOTIVA - Coliseu dos Recreios, Lisboa - 27.03.15

Aires Pereira [MOONSPELL]
- Antes do concerto -

Confesso que fui daqueles que ouviu com expectativas elevadas os novos temas do álbum «Extintion» e senti uma pontinha de desilusão com o caminho escolhido. Os meus ouvidos pediam-me o «Wolfheart» ou «Irreligious». Numa conversa com o Fernando Ribeiro, percebi um pouco mais do conceito do álbum (das extinções de espécies, às pequenas extinções que fazemos ao longo da nossa vida e da nova perspectiva dada pela paternidade), mas as peças só começaram a encaixar quando vi o documentário «The Road To Extintion». Talvez por já ter vivenciado a gravação de um disco com um produtor exigente ou talvez porque sei exactamente o que é o companheirismo dentro de uma banda, certo é que comecei a escutar com outros ouvidos o álbum ao ponto de ficar com vários temas na cabeça (como o «Medusalem»).

Nesta altura, as expectativas para mais um concerto dos MOONSPELL voltavam a estar elevadas, especialmente para ver como funcionam os novos temas ao vivo. Junto a esta expectativa o facto de não ter tido a possibilidade de ver os novos temas de BIZARRA LOCOMOTIVA ao vivo, assim como a curiosidade de assistir ao espectáculo que os gregos SEPTICFLESH certamente nos irão proporcionar.

- Depois do concerto -

A ansiedade do público por uma grande noite fez-se notar logo à chegada. Ainda longe das 20h00 (abertura das portas), já duas filas consideráveis se formavam à entrada do Coliseu dos Recreios. E foi com cerca de dois terços do recinto cheio que os BIZARRA LOCOMOTIVA abriram as hostilidades. Viscerais na sua entrega, directos e sem pedir licença, os portugueses encheram-nos por completo (tal era a trepidação causada pelos sons graves) de riffs de guitarra pesados, baterias e batidas fortes, teclados que preenchiam a sala e as palavras do vocalista Rui Sidónio, que prometiam derrubar o Coliseu. Era um concerto especial e foi notória a energia da banda. Pelo meio, o primeiro grande momento da noite: Fernando Ribeiro entra em palco e canta «O Anjo Exilado», tal e qual como foi gravado. A BIZARRA LOCOMOTIVA mostrou toda a sua força e encerrou mais uma brutal actuação com «O Escaravelho», confirmando que estão bem vivos e à altura de um evento desta dimensão.

Seguiram-se os gregos SEPTICFLESH que cultivaram respeito e até um culto no meio do death metal sinfónico. A banda, que tem acompanhado os MOONSPELL na presente tour, tinha uma tarefa difícil quer pela distinta sonoridade, quer pela actuação dos BIZARRA LOCOMOTIVA. Notou-se uma diferença considerável de volume que foi sendo corrigida ao longo do concerto.

O espaço livre no Coliseu ia diminuindo e os SEPTICFLESH fizeram questão de chamar toda a gente quando a voz de Seth Siro Anton anunciou «War In Heaven», o primeiro tema do mais recente álbum «Titan». Extremamente competentes e sempre a puxar pelo público, os gregos foram, ao longo de todo o concerto, ganhando o respeito de quem os desconhecia. «Communion», «A Great Mass Of Death» e «The Vampire From Nazareth», assim como o fantástico «Order Of Dracul», foram temas que arrebataram atenções, ao mesmo tempo que proporcionaram autênticos momentos de deleite para os fãs.

Talvez pela acústica da sala, talvez pelo elevado volume dos bombos da bateria, as partes sinfónicas e as guitarras ficaram um pouco escondidas, mas a banda fechou o concerto em beleza com o tema «Prometheus», deixando a vontade de os ver em nome próprio em breve.

Mas eram os MOONSPELL que alimentavam todas as expectativas. Eram os MOONSPELL  que nos prometiam surpresas e, à semelhança dos gregos, iniciaram o espectáculo com o tema «Breathe (Until We Are No More)», o primeiro do «Extinct».

Cedo se percebeu que os novos temas resultam bem ao vivo e rapidamente as gargantas se soltaram para tornar o Coliseu, agora cheio, num enorme coro. Visivelmente cansados (Fernando Ribeiro fez questão de dizer que este era o décimo sexto concerto consecutivo) mas felizes por actuar em casa, os MOONSPELL estavam orgulhosos do seu trabalho e nós, público, orgulhosos por sentir que estavam a ter o devido reconhecimento.

O alinhamento foi muito bem conseguido com bastantes temas do álbum novo entrelaçados com clássicos como «Night Eternal», «Opium» e «Awake» mas a surpresa chegou mesmo quando foi chamada Mariangela Demurtas (vocalista dos TRISTANIA). Muitos pediam o tema «Luna» mas o tema interpretado foi «Raven Claws» do álbum «Irreligious», o que deixou os fãs mais antigos de sorriso rasgado.

Mas as surpresas não terminaram por aqui. Depois do tema «The Future Is Dark» (baseado numa carta que Fernando Ribeiro escreveu para o filho) e como que a retribuir a participação, Rui Sidónio dos BIZARRA LOCOMOTIVA voltou a palco para cantar «Em Nome do Medo». No Coliseu voltavam a ecoar as palavras na língua de Camões.

Seguiram-se «Vampiria», «Ataegina» e «Alma Mater» do álbum «Wolfheart» e a antecipação de um curto encore, porque, afinal, este teria sido um fecho em beleza, mas… poucos minutos depois vem o encore com «Wolfshade (A Werewolf Masquerade)», também de «Wolfheart», «Mephisto» e «Full Moon Madness» de «Irreligious» para terminar com "chave d’ouro".

Recordo-me de, em conversa com Fernando Ribeiro, ter colocado a hipótese deste «Extinct» espreitar uma extinção dos MOONSPELL e do feitiço da lua. Mas, mais uma vez, foi em palco que a banda me deu essa resposta. Estão mais maduros, mais certos dos passos que tomam. E embora todos tenhamos noção que as bandas não duram para sempre, os MOONSPELL só deixaram certezas em palco. Há temas que são eternos, sonoridades que não se apagam da memória e, pela quantidade de novos fãs (devidamente acompanhados pelos pais), este não é, de todo, o caminho para a extinção.

Texto: Pedro Isidoro [Demon Cleaners]
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