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CRÓNICA: O país onde a ignorância é chique


Na minha habitual discrição, de quem só faz discorrer alguns raciocínios quando a consciência apela a algum desenfado (sério, não obstante), constrange-me observar que mais uma época veraneante será passada à beira de uma barraquinha, devidamente munida de cerveja, bebidas espirituosas, petiscos (e alguma água também), enquanto o pano de fundo será pincelado de música cuja serventia artística alinha-se com uma assustadora dubiedade a nível cultural.

A esta altura, já assumi todos os estereótipos do ponto de vista do comentador de bancada que se sente lesado: afinal de contas, a história, os comentários, os moralismos, repetem-se ano após ano. Do outro lado, o grosso que adora este status quo já nem bufa de aborrecimento. Já nos toma por uma minoria inofensiva e desvairada que só cospe tolices e cuja massa cinzenta se decompõe de tanta asnice (e inveja).  

De qualquer das formas, ainda se acredita que se vive num estado democrático. Sob esta feliz ilusão, digo sem qualquer tom blasfemo que o que o por aí vem de entretém balnear é nada mais nada menos do que o triste espelho de uma sociedade de consciência anémica, provocada por todo um sistema educacional que privilegia a falta de intelecto, ambição e cultura. 

Esta missiva serve sobretudo para Portugal. Sim, aquele país cheio de potencialidades mas tendencialmente débil e ingénuo. O país onde o Governo fomenta a estupidez em prol de uma tirania camuflada, mas muito fácil de exercer. Mas o quem têm os meros festivais de Verão que ver com toda esta pretensiosa retórica? Já dizia Lobo Antunes: "A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos."  

Mensagem. Recordo com grande saudosismo os tempos em que ouvir música extravasava o mero exercício auditivo. A arte é isto mesmo, um veículo para o pensamento erudito. O amor que a música mainstream apregoa seria algo de rejuvenescedor, caso alguém não se aproveitasse da apatia que esse mesmo amor gera para combater a podridão que alastra a nossa sociedade. É paradoxal que com tanta sugestão musical ternurenta (ou mesmo sem ela, apenas som), este país continue tão turbulento. Guerra não deve ser combatida com guerra, mas parece uma inevitabilidade que o langor e a prostração que a música actual transmite (sim, porque o heavy metal é "desordeiro") é invariavelmente um passo para o conformismo e o aproveitamento perverso por parte de quem tem poder constitucional. Que melhor altura do que esta para difundir uma mensagem de calma e abafar todas as formas de arte que se insurgem contra o absolutismo e a opressão?

Reitero: todas as formas de arte são legítimas e é a capacidade de respeitarmos a liberdade individual que nos constitui como povo civilizado. Todavia, o momento não é o de consentir o facilitismo e a subserviência. A arte é a melhor forma de superação e de fomentar a justiça. E repito, superação. Ao constatarmos que a criatividade aparenta atravessar um momento estanque - em todos os géneros musicais -, não é isso que deve permitir que se baixe os braços e se ordene uma filosofia de entropia intelectual.

Sujeito que estou a partir de agora a muito hate mail, deixo as perguntas (é que não sei mesmo responder): sobre que versa a música electrónica, os DJs, o kizomba e o pimba? Que luz traz para a mente e o corpo as bandas de covers (a forma mais reles de reciclagem)? Sei que o heavy metal nem sempre é "católico" (mas na pior das hipóteses vejamos a coisa como um qualquer filme de terror que todos gostam de ver), mas comparando o pressuposto de exigência, rigor e versatilidade, estou quase certo que os "santos" estão trocados no altar. Ao fim de todos estes anos orgulho-me ainda muito desta "casa" e "família" que é o heavy metal.

Nuno Costa

PS: Se porventura me virem a saltar ao som de um fat beat qualquer num festival de Verão, não se assustem: por vezes também gosto de esquecer os problemas da vida e me sentir ignorante.  
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