METAL PURSUIT: entrevista com Fernando Reis, mentor do primeiro jogo sobre cultura metaleira
SENTES-TE UM VERDADEIRO METALEIRO?
Mais de duas décadas de ligação ao heavy metal. Como fã,
jornalista e editor, Fernando Reis nunca deixou extinguir o seu fervor pelo
género e agora decide mostrar isso mesmo através de um conceito completamente
inovador - o METAL PURSUIT. Inspirado no famoso jogo de tabuleiro Trivial
Pursuit, esta é uma forma revolucionária de reunir as "tropas" em torno da vasta e
rica história do heavy metal, juntando-lhe um lado pedagógico e recreativo. Disponível a partir de 18 de Setembro (pré-encomenda aqui), o METAL PURSUIT inclui mais de um milhar de questões sobre artistas nacionais e internacionais, para além de certificados de autenticidade assinados por figuras proeminentes do metal luso.
Tudo sobre esta surpreendente iniciativa nas palavras do seu ideólogo.
O METAL PURSUIT parte de alguém fortemente ligado ao heavy metal mas também apreciador de jogos de tabuleiro, ao mesmo tempo que representa uma busca pela inovação. Existe algum dado curioso por trás desta iniciativa?
Acertaste em tudo. Fortemente ligado ao heavy metal e apreciador de jogos de tabuleiro, pese embora o tempo disponível não me permita jogar tanto quanto gostaria. Esta ideia não tem uma história curiosa por trás, pelo menos não tanto quanto a conjuntura que me permitiu idealizá-la e realizá-la. Ou seja, na génese da acção está a concepção de algo que eu próprio gostaria que houvesse. Feita a pesquisa e percebendo que não havia, usei os meus conhecimentos de empreendedorismo para idealizar um modelo de negócio, certamente facilitado pelos anos de experiência na "indústria" musical do heavy metal, que me permitiu ter já algumas portas abertas em termos de distribuição e promoção. O curioso é que a ideia do METAL PURSUIT surgiu num período em que tive uma série de outras ideias de projectos que poderiam perfeitamente também ter avançado. Foi um período fértil que, quem sabe, me deu matéria para alguns projectos mais.
Como decorreu todo o processo de estruturação e recolha de informação para o jogo?
Quando temos uma ideia como esta é inevitável começar imediatamente a imaginar algumas questões. O processo, no entanto, de estruturar um jogo é bastante mais complexo do que isso e exige um trabalho exaustivo e metódico. A começar pela escolha das categorias, que têm de ser suficientemente abrangentes para que todo o tipo de fãs possam divertir-se a jogar e a acabar no número e tipo de questões que se fazem por cada banda. A preocupação, dentro de cada estilo, foi à partida definir o número de bandas sobre as quais iam existir questões - e quantas questões sobre outras coisas que não bandas – e o seu grau de importância e popularidade, de modo a que os grupos mais conhecidos tenham mais perguntas associadas e os menos conhecidos tenham apenas uma ou duas. Depois, os graus de dificuldade. Existe uma proporcionalidade entre questões muito difíceis, só difíceis, relativamente acessíveis e muito fáceis. Depois, há uma percentagem, embora baixa, de questões fechadas, com hipóteses definidas, que dão ao questionado entre 10 e 50% de possibilidades de acertar na resposta. Em relação à pesquisa, requer obviamente alguma aplicação porque, pese embora eu tenha o conhecimento inerente a alguém que está dentro do meio há algumas décadas, há sempre que confirmar factos, ver ao certo datas e pesquisar algumas coisas em que não estou tão à vontade. Como referi, é uma questão de equilíbrio e muito trabalho metódico. Tem piada aí até às primeiras 300 questões, depois começa a parecer cada vez mais trabalho.
Precisamente. Existe toda uma componente social neste jogo, cuja mecânica e regras se aproximam do Trivial Pursuit. Algo que pode, como referiste, aproximar as pessoas da "tribo" do heavy metal. Depois, há a componente de divulgação e perpetuação de uma iconoclastia que, à medida que as décadas vão passando, precisa cada vez mais de ser documentada e registada. Espero que o METAL PURSUIT possa cumprir esses três objectivos: divertir, criar alguma curiosidade nas novas gerações em relação a bandas clássicas e menos clássicas e ainda perpetuar no tempo episódios icónicos que marcarão para sempre a história do heavy metal.
Acha que, no cômputo geral, o "metaleiro" nacional é culto e interessado em aspectos que não tenham que ver directamente com a música?
Cada caso é um caso e é extremamente difícil caracterizar a "comunidade metaleira" precisamente porque a única coisa que nos une é o gosto por um estilo musical, que pode até ser exclusivo ou não. Se nesta "tribo" há de tudo, será sempre complicado classificá-la em termos de faixa etária, estatuto social e/ou nível de cultura. Existem alguns estudos e estatísticas sim, pese embora em Portugal esse universo esteja ainda por explorar na sua globalidade. Ainda assim, posso dizer que boa parte dos "metaleiros" que conheço e com quem tenho contactado nestes anos são, por regra, pessoas bastante inteligentes, bem informadas em relação ao mundo que os rodeia e, sobretudo, com uma consciência social invulgarmente apurada.
Acha que reina neste momento uma preocupante falta de ideias na forma como se promove o heavy metal em Portugal?
Acho que, para a cena que temos, o metal não é mal promovido. Tendo em conta que é um estilo específico para um público específico - e aqui retiro da equação algumas coisas com potencial para fazerem o crossover para mercados mais latos - e nesse sentido é fácil chegar a essas pessoas, os meios existem e estão bem identificados. Agora, a tendência do metal a nível global aponta para um número crescente de músicos, bandas e lançamentos e, por isso, uma consequente disseminação do consumo. Ou seja, é fácil perceber quais são os meios onde o heavy metal deve ser promovido, eles até existem, mas depois existe um "ruído" tão grande, um tão grande número de lançamentos, bandas, concertos e projectos, que se torna uma tarefa impossível o consumidor seguir todos, ir a todos, conhecer todos. E, até, perceber ao certo quais os mais válidos e mais indicados para o seu gosto específico.
O que podem as pessoas esperar em termos de preços, surpresas e formas de aquisição do produto?
O preço será bastante acessível para um jogo deste tipo, mesmo que estejamos a falar de um set que contém apenas as cartas e não um tabuleiro ou peças. São 300 cartas com 1.800 questões e o valor em questão - que pode ir dos quinze aos vinte euros, dependendo do revendedor e do valor dos portes - não pode ser considerado desajustado, julgo eu. A distribuição concentrar-se-á em locais que os fãs de heavy metal costumam frequentar e onde costumem comprar. Planeamos ter o jogo à venda na Fnac, pelo menos no mês do seu lançamento, bem como em lojas independentes. Mailorders não serão descuradas, bem como alguns festivais em que tentaremos que as habituais "bancas" contem sempre com o jogo disponível para quem quiser comprá-lo. Vamos ainda estar presentes em alguns concertos específicos, a entregar panfletos do jogo e com algumas cópias disponíveis para venda no local. Teremos também vendas na Rastilho e Amazon.co.uk, esta última sobretudo para encomendas fora de Portugal. Em termos de surpresas, revelámos já que teremos certificados de autenticidade, numerados e assinados por músicos marcantes do underground nacional, mas temos mais algumas preparadas e outras alinhadas que podem acontecer ou não, dependendo do nível de aceitação do jogo. Mas se estivesse aqui a revelar tudo deixariam de ser surpresas, certo?
Sim, vou escrevendo para alguns sites especializados - neste momento, para o ultraje.pt, por exemplo - mas nada de muito envolvente, porque o tempo disponível não é muito e porque esse nível de descomprometimento é algo que quero, conscientemente, manter. Já não tenho qualquer tipo de sonho a nível de projectos de meios de comunicação social. Percebi que a analogia dos irmãos Barros, dos TARANTULA, do balde dos caranguejos, se aplica um pouco à comunicação social online especializada em heavy metal em Portugal. A mão-de-obra existe, mas está disseminada por vários projectos que acreditam ser - ou poder vir a ser - o meio de referência neste "mercado", depois trabalham com uma equipa reduzida ou que, nas suas franjas, não providencia a mesma qualidade assegurada pela base da equipa e vamos continuar assim ad eternum.
Pelo perfil do apreciador de heavy metal português, acha que o projecto METAL PURSUIT está destinado ao sucesso?
Como referi há pouco, o perfil do apreciador de heavy metal em Portugal não está ainda devidamente caracterizado e estudado, mas penso que este projecto pode funcionar, sim. Depende sempre tudo dos objectivos que se estabelecem e, neste caso, julgo que os objectivos são realistas e é por isso também que digo que poderá funcionar. Existe uma série de variáveis que não se podem controlar, como o comportamento dos consumidores e o envolvimento que o trabalho de marketing poderá obter na comunidade metaleira. Mas estou optimista.
Nuno Costa
www.metalpursuit.wordpress.com
O METAL PURSUIT parte de alguém fortemente ligado ao heavy metal mas também apreciador de jogos de tabuleiro, ao mesmo tempo que representa uma busca pela inovação. Existe algum dado curioso por trás desta iniciativa?
Acertaste em tudo. Fortemente ligado ao heavy metal e apreciador de jogos de tabuleiro, pese embora o tempo disponível não me permita jogar tanto quanto gostaria. Esta ideia não tem uma história curiosa por trás, pelo menos não tanto quanto a conjuntura que me permitiu idealizá-la e realizá-la. Ou seja, na génese da acção está a concepção de algo que eu próprio gostaria que houvesse. Feita a pesquisa e percebendo que não havia, usei os meus conhecimentos de empreendedorismo para idealizar um modelo de negócio, certamente facilitado pelos anos de experiência na "indústria" musical do heavy metal, que me permitiu ter já algumas portas abertas em termos de distribuição e promoção. O curioso é que a ideia do METAL PURSUIT surgiu num período em que tive uma série de outras ideias de projectos que poderiam perfeitamente também ter avançado. Foi um período fértil que, quem sabe, me deu matéria para alguns projectos mais.
Como decorreu todo o processo de estruturação e recolha de informação para o jogo?
Quando temos uma ideia como esta é inevitável começar imediatamente a imaginar algumas questões. O processo, no entanto, de estruturar um jogo é bastante mais complexo do que isso e exige um trabalho exaustivo e metódico. A começar pela escolha das categorias, que têm de ser suficientemente abrangentes para que todo o tipo de fãs possam divertir-se a jogar e a acabar no número e tipo de questões que se fazem por cada banda. A preocupação, dentro de cada estilo, foi à partida definir o número de bandas sobre as quais iam existir questões - e quantas questões sobre outras coisas que não bandas – e o seu grau de importância e popularidade, de modo a que os grupos mais conhecidos tenham mais perguntas associadas e os menos conhecidos tenham apenas uma ou duas. Depois, os graus de dificuldade. Existe uma proporcionalidade entre questões muito difíceis, só difíceis, relativamente acessíveis e muito fáceis. Depois, há uma percentagem, embora baixa, de questões fechadas, com hipóteses definidas, que dão ao questionado entre 10 e 50% de possibilidades de acertar na resposta. Em relação à pesquisa, requer obviamente alguma aplicação porque, pese embora eu tenha o conhecimento inerente a alguém que está dentro do meio há algumas décadas, há sempre que confirmar factos, ver ao certo datas e pesquisar algumas coisas em que não estou tão à vontade. Como referi, é uma questão de equilíbrio e muito trabalho metódico. Tem piada aí até às primeiras 300 questões, depois começa a parecer cada vez mais trabalho.
Há a componente de divulgação e perpetuação de uma iconoclastia que, à medida que as décadas vão passando, precisa cada vez mais de ser documentada e registadaPara além do seu lado lúdico, um dos objectivos deste projecto será divulgar e aproximar as pessoas do heavy metal, certo?
Precisamente. Existe toda uma componente social neste jogo, cuja mecânica e regras se aproximam do Trivial Pursuit. Algo que pode, como referiste, aproximar as pessoas da "tribo" do heavy metal. Depois, há a componente de divulgação e perpetuação de uma iconoclastia que, à medida que as décadas vão passando, precisa cada vez mais de ser documentada e registada. Espero que o METAL PURSUIT possa cumprir esses três objectivos: divertir, criar alguma curiosidade nas novas gerações em relação a bandas clássicas e menos clássicas e ainda perpetuar no tempo episódios icónicos que marcarão para sempre a história do heavy metal.
Acha que, no cômputo geral, o "metaleiro" nacional é culto e interessado em aspectos que não tenham que ver directamente com a música?
Cada caso é um caso e é extremamente difícil caracterizar a "comunidade metaleira" precisamente porque a única coisa que nos une é o gosto por um estilo musical, que pode até ser exclusivo ou não. Se nesta "tribo" há de tudo, será sempre complicado classificá-la em termos de faixa etária, estatuto social e/ou nível de cultura. Existem alguns estudos e estatísticas sim, pese embora em Portugal esse universo esteja ainda por explorar na sua globalidade. Ainda assim, posso dizer que boa parte dos "metaleiros" que conheço e com quem tenho contactado nestes anos são, por regra, pessoas bastante inteligentes, bem informadas em relação ao mundo que os rodeia e, sobretudo, com uma consciência social invulgarmente apurada.
Acha que reina neste momento uma preocupante falta de ideias na forma como se promove o heavy metal em Portugal?
Acho que, para a cena que temos, o metal não é mal promovido. Tendo em conta que é um estilo específico para um público específico - e aqui retiro da equação algumas coisas com potencial para fazerem o crossover para mercados mais latos - e nesse sentido é fácil chegar a essas pessoas, os meios existem e estão bem identificados. Agora, a tendência do metal a nível global aponta para um número crescente de músicos, bandas e lançamentos e, por isso, uma consequente disseminação do consumo. Ou seja, é fácil perceber quais são os meios onde o heavy metal deve ser promovido, eles até existem, mas depois existe um "ruído" tão grande, um tão grande número de lançamentos, bandas, concertos e projectos, que se torna uma tarefa impossível o consumidor seguir todos, ir a todos, conhecer todos. E, até, perceber ao certo quais os mais válidos e mais indicados para o seu gosto específico.
O que podem as pessoas esperar em termos de preços, surpresas e formas de aquisição do produto?
O preço será bastante acessível para um jogo deste tipo, mesmo que estejamos a falar de um set que contém apenas as cartas e não um tabuleiro ou peças. São 300 cartas com 1.800 questões e o valor em questão - que pode ir dos quinze aos vinte euros, dependendo do revendedor e do valor dos portes - não pode ser considerado desajustado, julgo eu. A distribuição concentrar-se-á em locais que os fãs de heavy metal costumam frequentar e onde costumem comprar. Planeamos ter o jogo à venda na Fnac, pelo menos no mês do seu lançamento, bem como em lojas independentes. Mailorders não serão descuradas, bem como alguns festivais em que tentaremos que as habituais "bancas" contem sempre com o jogo disponível para quem quiser comprá-lo. Vamos ainda estar presentes em alguns concertos específicos, a entregar panfletos do jogo e com algumas cópias disponíveis para venda no local. Teremos também vendas na Rastilho e Amazon.co.uk, esta última sobretudo para encomendas fora de Portugal. Em termos de surpresas, revelámos já que teremos certificados de autenticidade, numerados e assinados por músicos marcantes do underground nacional, mas temos mais algumas preparadas e outras alinhadas que podem acontecer ou não, dependendo do nível de aceitação do jogo. Mas se estivesse aqui a revelar tudo deixariam de ser surpresas, certo?
Posso dizer que boa parte dos "metaleiros" que conheço são, por regra, pessoas bastante inteligentesEnquanto isso, mantém-se ligado à imprensa especializada, mas de forma mais descomprometida. Ainda sustenta o sonho de fundar um projecto de grandes dimensões nesta área ou simplesmente não há mercado e/ou mão-de-obra especializada em Portugal?
Sim, vou escrevendo para alguns sites especializados - neste momento, para o ultraje.pt, por exemplo - mas nada de muito envolvente, porque o tempo disponível não é muito e porque esse nível de descomprometimento é algo que quero, conscientemente, manter. Já não tenho qualquer tipo de sonho a nível de projectos de meios de comunicação social. Percebi que a analogia dos irmãos Barros, dos TARANTULA, do balde dos caranguejos, se aplica um pouco à comunicação social online especializada em heavy metal em Portugal. A mão-de-obra existe, mas está disseminada por vários projectos que acreditam ser - ou poder vir a ser - o meio de referência neste "mercado", depois trabalham com uma equipa reduzida ou que, nas suas franjas, não providencia a mesma qualidade assegurada pela base da equipa e vamos continuar assim ad eternum.
Pelo perfil do apreciador de heavy metal português, acha que o projecto METAL PURSUIT está destinado ao sucesso?
Como referi há pouco, o perfil do apreciador de heavy metal em Portugal não está ainda devidamente caracterizado e estudado, mas penso que este projecto pode funcionar, sim. Depende sempre tudo dos objectivos que se estabelecem e, neste caso, julgo que os objectivos são realistas e é por isso também que digo que poderá funcionar. Existe uma série de variáveis que não se podem controlar, como o comportamento dos consumidores e o envolvimento que o trabalho de marketing poderá obter na comunidade metaleira. Mas estou optimista.
Nuno Costa
www.metalpursuit.wordpress.com