Entrevista Human Hate
ÓDIO EM ESTADO PURO
"Sendo um projecto secundário, não é algo em que trabalhemos com frequência, mas a vontade de continuar existe"
Numa região pacata como os Açores e onde o metal até nem vive o seu período
mais áureo, podiam escassear as razões para se apostar num novo projecto. Sendo
que até já têm um projecto de créditos firmados como os Anomally, a dupla Tiago
Alves e Nelson Leal parece quase numa tendência "suicida" ao deixar
fluir mais uma criação musical. Podia ser apenas para "queimar algum
tempo" ou aproveitar para mostrar mais umas "coisas bonitinhas"
(quiçá mais mainstream), mas o que os
Human Hate deixam transparecer é que os seus autores não estão numa de brincar
em serviço e estão, sobretudo,... sedentos de sangue. Tiago Alves abre-nos as
portas deste novo capítulo nas suas carreiras.
Os Human Hate parecem um
pouco surgidos do nada, mas não é bem assim. Há quanto tempo guardavam o desejo
de criar este projecto?
Este desejo surgiu há mais de um ano.
Era algo que o Nelson já tinha em mente e vinha a conversar comigo para
fazermos um projecto, mas como a vida profissional está em primeiro lugar, a
disponibilidade ia falhando e este foi sendo adiado. No início do ano voltámos
a falar, até que houve uma "abertura" de tempo e foi tipo… "é
agora". E fizemos os três temas.
Sendo compostos por duas
pessoas que se conhecem muito bem, de que forma esse factor contribuiu para a
escrita dos temas?
Facilitou imenso, só tínhamos que
agradar a duas pessoas. [risos] Falando mais a sério, já somos amigos de longa
data, sabemos perfeitamente os gostos e o que cada um é capaz. Sabíamos que
caminho queríamos dar às músicas - agressivo e extremo - e se alguma vez
estivesse meio perdido na música, um pouco de violência também deveria ficar
bem. [risos] À medida que ia escrevendo as músicas, gravava e enviava para o
Nelson para ele enquadrar com as letras e testar as vozes e modificarmos o
necessário.
Com dois elementos dos
Anomally, a questão que muitos colocam é: será possível
definirem uma identidade suficientemente equidistante do vosso projecto
principal?
São projectos diferentes e à medida
que Human Hate for evoluindo terá cada vez mais o seu som e Anomally
continuará a ter o seu. Penso que haverá sempre comparações por sermos compostos
por dois membros da mesma banda. Eu tenho a minha forma de compor e, por muito
extremo ou violento que possa ser, há sempre espaço para melodia, algo que faz
parte do som dos Anomally também. Daí se calhar as maiores comparações. E,
claro está, a voz também é a mesma.
Até que ponto o material
contido em "Chapter 13 - We Came For Blood" não encontra espaço nos
Anomally?
Uma vez que sou um dos compositores,
não digo que este material não teria espaço nos Anomally mas seria sempre
diferente porque, em Anomally, somos seis membros a darem o seu cunho pessoal
às músicas, enquanto que em Human Hate a composição é mais pessoal. O Nelson
escreve sobre o que quer e eu componho à minha maneira. Obviamente que trocamos
ideias para as músicas e damos sugestões. Temos posições bem definidas e o
espaço de criatividade é maior e, no final, desde que soe bem e gostemos, é o
que importa.
Quanto tempo demorou até
terem este trabalho completo (gravação e composição)?
Deve ter durado à volta de um mês e
meio. Foi fazer as demos e passar à
gravação final. Ambos tínhamos compromissos profissionais,
por isso, fomos intercalando o tempo disponível.
Tratando-se esta de uma
banda totalmente DIY, que vantagens encontrou no facto de ter sido o produtor?
Como já tínhamos uma ideia bem
definida do que queríamos fazer, a vantagem maior foi mesmo o facto de eu poder
ter tudo à mão e poder transmitir a minha visão exacta para o produto final.
Embora se trata de um EP
de três temas fizeram questão de definir uma mensagem forte?
Já que era para fazer as coisas há que
tentar fazê-las o melhor possível. [risos] É certo que não tínhamos fundos para
fazer um lançamento em formato físico mas com as tecnologias e os meios
disponíveis de hoje, há uma maior facilidade em se trabalhar. Porque não criar
um artwork para o EP já que o Nelson
faz desenhos e tatuagens (modo publicidade: visitem www.facebook.com/humanhate
e encontrarão lá as suas criações também)? [risos] Porque não criar um canal de
Youtube e Facebook e promover o trabalho? Só temos a ganhar e, num mundo
musical onde cada vez mais os olhos consomem bastante, há que apostar nessa vertente.
Criámos um grafismo de forma a ajudar a promover o trabalho.
Como se interpreta o
título que até já começa no "Capítulo 13"?
Tínhamos vários nomes em vista para o
EP, então conjugou-se tudo. Os três temas do EP compõem a história de uma
rapariga que é atacada por monstros que a querem matar e ela vinga-se pensando
que depois vai estar em paz, mas fica presa num limbo. Daí vem o
"Chapter" e o "13" porque escolhemos lançar o single no dia 13 de Maio, vai-se lá
saber porquê [risos]. O "1" explica-se porque é o nosso primeiro
trabalho e o "3" porque são três temas... e o "13" é um número bonito.
[risos] O subtítulo "We Came For Blood" explica-se pelo facto de tanto
os monstros como nós virem para "fazer" sangue e entrar a matar.
[risos]
Sentem que podem evoluir
enquanto músicos e compositores tendo agora este projecto numa vertente mais
agressiva?
A evolução está sempre presente em
tudo; seja qual for o estilo, há sempre que tentar tirar o máximo partido de
tudo. Para mim, mesmo numa vertente mais de estúdio, é sempre bom, aprende-se
sempre algo novo.
O EP já está disponível
desde 25 de Maio. Como tem sido o feedback
até ao momento?
Tem sido bastante positivo. Algumas
pessoas ficaram surpresas com o projecto e gostaram bastante. Continuamos a
promovê-lo e vamos tentar levá-lo o mais longe possível.
Há possibilidades do
público ver-vos em palco?
Ora aí está uma boa pergunta. [risos]
Tem sido das mais frequentes para quem nos ouve: “E quando tocam ao vivo?”.
Este é um projecto de estúdio meu e do Nelson mas é uma hipótese que não está
colocada de parte. Antes pelo contrário, é um assunto que temos falado e quem
sabe num futuro próximo, se surgir alguma oportunidade, convidamos alguns
amigos para nos darem uma ajudinha a destruir um palco. [risos]
Uma vez que gere um
estúdio num mercado tão reduzido como o açoriano, qual é o balanço que faz
desta sua relativamente recente actividade e como está a sua agenda?
Isto de gerir um estúdio com a crise e
tal “tás a ver”, pagar aos empregados e tal está muito mau, não há subsídios…
se bem que dava jeito atendendo ao preço do material dos equipamentos. [risos] Falando
a sério, ainda estou no início, só eu e o meu "quintal das waves", como gosto de chamar, mas tem
sido positivo este começo. O feedback
relativamente aos meus trabalhos tem sido bom. Quem já trabalhou gostou, por
isso estou satisfeito. O mercado açoriano é reduzido - é um facto - mas se as bandas
que existem quiserem trabalhar comigo, já fico feliz. [risos] Como objectivo
pessoal, defini 2013 como o ano "oficial" de lançamento e de dar a
conhecer o Waveyard Studio; só falta fazer o evento! [risos] Tem sido um ano
preenchido. Além do lançamento de Human Hate acabei de produzir o EP de estreia
dos vencedores do Angra Rock 2013, os Mufasa, que deve sair em breve. Este Verão
vou trabalhar com os Palha D'Aço, que regressaram ao activo. São uma banda dos
anos 90 do tempo do Liceu. Será um regresso à adolescência. [risos] Para o Inverno,
ainda não tenho nada, por isso se houver alguma banda interessada, mesmo que de
fora da Terceira, esteja à vontade, posso fazer só a mistura/masterização
também.
Tem sido muito debatido
recentemente o estado da música extrema nos Açores, sendo que depois de alguns
anos de crescimento o género parece sofrer uma quebra abrupta em termos de
popularidade. Que razões encontra para este cenário negativo?
Penso que o maior contributo para esta
queda prende-se com o facto de os espaços para as bandas tocarem serem muito
reduzidos. Havia sempre um bar ou outro que apostava em noites viradas para o metal
e hoje apenas querem bandas de covers.
Preferem uma banda a tocar música conhecida do que apostar na originalidade.
Mesmo com a chamada crise, as festas de freguesia e municípios preferem gastar
dinheiro a mandar vir bandas de fora e tributos e não arranjam espaço para as
restantes bandas locais. Continuo a dizer que há público para todos os estilos,
uns com mais aderentes que outros, é um facto, mas há espaço para todos. E
quando não tens lugares para tocar e se não tiveres objectivos, as bandas
acabam por se afastar.
A que ritmo podemos
esperar que se desenvolva a carreira dos Human Hate? Será preciso esperar muito
para ouvirmos um novo lançamento da banda?
Sendo um projecto
secundário, não é algo em que trabalhemos com frequência, mas a vontade de
continuar existe. Pretendemos compor mais uns temas e quem sabe subir a um
palco. Para os fãs de Human Hate, esperem por nós e por novos temas e ajudem-nos
a espalhar este nosso "Chapter".
Descarregue gratuitamente "Chapter 13
- We Came For Blood" aqui.