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Review

AKERCOCKE
“Antichrist”

[CD – Earache Records]

Se muita gente ainda não sabia quem eram os Akercocke, a partir de 2005, com a edição de “Words That Go Unspoken, Deeds That Go Undone”, certamente até os mais distraídos passaram a conhecer a insígnia desta banda britânica. Pela sua genialidade até há bem pouco tempo ainda me assustava algum anonimato a que a banda estava relegada, mas este cenário tem vindo visivelmente a mudar fruto de muito mérito próprio.

Falar de Akercocke é falar de algo intrépido, audaz, negro, sarcasticamente diabólico, desafiante e provocador. No fundo, podemos defini-los como algo que facilmente se pode tornar viciante. Se há bandas que levam a sua vida a olhar para as identidades alheias com o simples intuito de lhes seguir as pisadas artísticas – e comerciais também – nos Akercocke sente-se o verdadeiro significado de integridade e independência e até nos chegam a “assustar” pelo alcance da sua loucura criativa. Se alusões ao satanismo nunca faltaram nos seus trabalho desta vez a forma de expressarem a sua ideologia não podia estar mais clara e explícita. “Antichrist” é o título do seu quinto trabalho e pela forma que a banda tem de compor desta vez quase nos apetece afirmar que estes quatro músicos venderam a alma ao diabo...

Brincadeiras à parte, para quem não conhece os Akercocke podemos rapidamente caracteriza-los como uma banda de death/black/progressive metal. De facto, pouco aqui é convencional embora o termo extremo se aplique em todas as circunstâncias, quer pelo peso propriamente dito quer pela forma alucinada e até “perigosa” como lhe adicionam melodia. O que é verdade é que aqui tudo soa bem! Numa outra análise, podemos também dizer que uma ousadia como essa só pode resultar ou no repúdio dos puristas ou então no despertar de uma grande legião de fãs. Acrescentava ainda que são esse tipo de bandas que ameaçam tornar-se facilmente em projectos de culto.

Neste novo trabalho os Akercocke partem exactamente do ponto em que terminou “Words That Go Unspoken, Deeds That Go Undone”. Os elementos progressivos continuam a ter importância vital na singularidade do seu som, com momentos de melodia etérea, como é o caso da final “Epode” - onde o estreante baixista Peter Benjamin se revela uma excelente aquisição, quer pela sua bela voz quer pela sua capacidade de composição -, e outras de travo árabe, como é “The Promise” e o interlúdio “Distant Fires Reflect In The Eyes Of Satan”. Isto tudo sempre envolvido numa densa camada negra de impulsos e espíritos malévolos – as introduções macabras continuam a marcar presença.

A voz de Jason Mendonca surge cada vez mais versátil – cavernosa no registo grunhido e cada vez mais cristalina e absorvente no registo limpo [a lembrar ligeiramente Mikael Akerfeldt]. Na verdade, Mendonca é um vocalista bastante esquizofrénico, capaz ainda de registos altivos entre o berrado e o limpo, mas sempre cheio de autoridade. David Gray, baterista e único fundador ainda presente na banda a par de Mendonca – está igualmente ainda mais acutilante e endiabrado, atingido aqui velocidades vertiginosas.

A nível de peso temos pérolas como “Footsteps Resounds In An Empty Chapel” – fundindo o gosto sanguinário do death/grind e a frieza do black metal – e a inicial “Summon The Antichrist” – com o seu arranque devastador. Contudo, nenhuma destas acaba por se desenvolver sem manifestar surpresas. Ambas atravessam momentos declaradamente experimentais onde a melodia comanda. Surpresa maior, e que faz desta uma das melhores faixas do álbum, é “Axiom”. Pergunte-se se não será realmente obra do diabo que alguém misture a mais embaladora das melodias acústicas com o mais rápido dos blast beats?

Pois, é por essas e por outras que é fácil ficar possesso pela música maquiavelicamente genial dos Akercocke. Um álbum que talvez não supere o anterior mas também não lhe fica a dever. Só ficamos sem perceber o porquê da crueza da sua produção... No entanto, sem dúvida que os Akercocke são uma das mais frescas, inspiradas e apaixonantes bandas extremas da actualidade.

[9/10] N.C.
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