Review
DREAM THEATER
“Systematic Chaos”
[CD – Roadrunner/Edel]
Com já vinte anos de carreira atingidos e com um estatuto sobre os ombros que os proclama como reis do prog metal, questionamos, a cada disco que os Dream Theater gravam, quais continuarão a ser as motivações que os movem e as metas que aspiram ainda alcançar. Num percurso triunfante, ainda assim difícil nos primeiros anos, e com uma discografia repleta de pérolas faustosas como “Image And Words”, “Awake” ou “Metropolis Pt. 2: Scenes From A Memory” pomo-nos a imaginar como é a existência desta banda após todos estes anos... Se dúvidas não restavam de que os cinco músicos dos Dream Theater são músicos e compositores geniais, diga-se, ainda assim e em abono da verdade, que foram capazes de alguns momentos menos bons e desinspirados nos últimos anos ou não fossem eles, acima de tudo, “humanos”! Todo o "Golias" ou "Aquiles" tem as suas fraquezas, mas ao invés de acontecer serem derrotados como aconteceu com estas figuras mitológicas aqui o “gigante” só estremeceu, mais concretamente com o último “Octavarium” e com um ou outro álbum que, não pecando por serem maus, não foram capazes de reunir o consenso esperado. Mas toda a essência de Dream Theater acaba por estar aí: uma “máquina” orgânica [se me permitem o paradoxo] que sob uma imagem de invulnerabilidade consegue ter todas as características de um projecto “mundano”, com todas as suas virtudes e defeitos.
Ainda há pouco falava no momento baixo de carreira que foi “Octavarium”, mas perceber-se-á perfeitamente a tomada de postura da banda a dada altura. Analisando bem, representou um importante balão de oxigénio para recuperar de toda a complexidade musical que os submerge já ao longo de duas décadas – a forma mais inteligente de gerir uma carreira. Ainda para mais não será motivo para surpresas, pois o quinteto nova-iorquino sempre fez questão de cultivar uma linha “aberta” de pensamento que preparasse o seu público para tudo.
Acima de tudo, já com provas dadas de que não são capazes de lançar um mau álbum, o seu regresso com “Systematic Chaos” promete de novo reunir várias faces do seu público e, consequentemente, uma opinião mais consensual. O seu novo álbum chega mesmo a soar como um apanhado do que banda vem fazendo desde “Six Degrees Of Inner Turbulence”. O peso está presente, em “Constant Motion” e em “Dark Eternal Night”, e a melodia, ora mais arrojada, ora mais simples e radio friendly, como em “Forsaken” e “Repentance”. No entanto, e para quem já conhece bem o trabalho dos Dream Theater sabe que o seus temas normalmente pautam-se pela variedade de cadências e todos estes elementos acabam por propagar-se pelos oito temas de "Systematic Chaos". Por este motivo, ganha pontos em relação ao seu antecessor e torna-se assim um disco muito mais aliciante e passível de rodar mais vezes no leitor sem cansar.
Em vários aspectos é notório que a banda recuperou brilho. A classe de um trabalho faz-se de pormenores musicais arrebatadores e neste novo trabalho os Dream Theater conseguem isso com leads de guitarra inesquecíveis como, por exemplo, o que comanda a orquestração de “In The Presence Of The Enemies” parte um e dois. Já para não falar na forma, diria cinéfila, como Petrucci e companhia compõem desde sempre. Referimo-nos à forma deliciosa como a banda aproveita trechos de musicas de outros temas, alguns de outros álbuns, e os interliga com novas composições – a sensação de estarmos a assistir a uma trama é muito reconfortante. Para além disso tudo, como os pequenos pormenores marcam a diferença, temos Mike Portnoy mais uma vez em destaque. Com certeza, não só por tocar bateria como toca continua a ser dos músicos mais admiráveis da actualidade. Tanto a compor como a comandar este “barco” ele toma uma importância fulcral e, qual maestro, rende ideias preciosas para cada trabalho dos Dream Theater. Portnoy toca, produz, canta, dá indicações a todos em estúdio [como se pode constatar no DVD de estúdio da edição especial do álbum] e, por exemplo, em “Repentance” foi o autor da ideia de juntar uma impressionante parada de estrelas onde figuram Steve Vai, Joe Satriani, Corey Taylor, Mikael Akerfeldt, Neal Morse, Daniel Gildenlow, só para citar alguns, para gravar confissões pessoais e emprestar ainda mais profundidade, sentimento e visceralidade a um tema que, por si só, já transmite uma forte carga melancólica.
Com tudo isto já deu para perceber que “Systematic Chaos” é um revigorado regresso da banda nova-iorquina, agora com nova casa – a Roadrunner Records –, embora continue sempre a ser discutível se a banda preserva ou não a mesma mística de antigamente. No entanto, o nono álbum de estúdio dos Dream Theater será, seguramente, passível de provocar espasmos agudos de prazer progressivos a quem espera sempre muito daquela que muitos consideram a melhor banda de metal progressivo do mundo.
[8/10] N.C.
www.dreamtheater.net
www.myspace.com/dreamtheater
“Systematic Chaos”
[CD – Roadrunner/Edel]
Com já vinte anos de carreira atingidos e com um estatuto sobre os ombros que os proclama como reis do prog metal, questionamos, a cada disco que os Dream Theater gravam, quais continuarão a ser as motivações que os movem e as metas que aspiram ainda alcançar. Num percurso triunfante, ainda assim difícil nos primeiros anos, e com uma discografia repleta de pérolas faustosas como “Image And Words”, “Awake” ou “Metropolis Pt. 2: Scenes From A Memory” pomo-nos a imaginar como é a existência desta banda após todos estes anos... Se dúvidas não restavam de que os cinco músicos dos Dream Theater são músicos e compositores geniais, diga-se, ainda assim e em abono da verdade, que foram capazes de alguns momentos menos bons e desinspirados nos últimos anos ou não fossem eles, acima de tudo, “humanos”! Todo o "Golias" ou "Aquiles" tem as suas fraquezas, mas ao invés de acontecer serem derrotados como aconteceu com estas figuras mitológicas aqui o “gigante” só estremeceu, mais concretamente com o último “Octavarium” e com um ou outro álbum que, não pecando por serem maus, não foram capazes de reunir o consenso esperado. Mas toda a essência de Dream Theater acaba por estar aí: uma “máquina” orgânica [se me permitem o paradoxo] que sob uma imagem de invulnerabilidade consegue ter todas as características de um projecto “mundano”, com todas as suas virtudes e defeitos.
Ainda há pouco falava no momento baixo de carreira que foi “Octavarium”, mas perceber-se-á perfeitamente a tomada de postura da banda a dada altura. Analisando bem, representou um importante balão de oxigénio para recuperar de toda a complexidade musical que os submerge já ao longo de duas décadas – a forma mais inteligente de gerir uma carreira. Ainda para mais não será motivo para surpresas, pois o quinteto nova-iorquino sempre fez questão de cultivar uma linha “aberta” de pensamento que preparasse o seu público para tudo.
Acima de tudo, já com provas dadas de que não são capazes de lançar um mau álbum, o seu regresso com “Systematic Chaos” promete de novo reunir várias faces do seu público e, consequentemente, uma opinião mais consensual. O seu novo álbum chega mesmo a soar como um apanhado do que banda vem fazendo desde “Six Degrees Of Inner Turbulence”. O peso está presente, em “Constant Motion” e em “Dark Eternal Night”, e a melodia, ora mais arrojada, ora mais simples e radio friendly, como em “Forsaken” e “Repentance”. No entanto, e para quem já conhece bem o trabalho dos Dream Theater sabe que o seus temas normalmente pautam-se pela variedade de cadências e todos estes elementos acabam por propagar-se pelos oito temas de "Systematic Chaos". Por este motivo, ganha pontos em relação ao seu antecessor e torna-se assim um disco muito mais aliciante e passível de rodar mais vezes no leitor sem cansar.
Em vários aspectos é notório que a banda recuperou brilho. A classe de um trabalho faz-se de pormenores musicais arrebatadores e neste novo trabalho os Dream Theater conseguem isso com leads de guitarra inesquecíveis como, por exemplo, o que comanda a orquestração de “In The Presence Of The Enemies” parte um e dois. Já para não falar na forma, diria cinéfila, como Petrucci e companhia compõem desde sempre. Referimo-nos à forma deliciosa como a banda aproveita trechos de musicas de outros temas, alguns de outros álbuns, e os interliga com novas composições – a sensação de estarmos a assistir a uma trama é muito reconfortante. Para além disso tudo, como os pequenos pormenores marcam a diferença, temos Mike Portnoy mais uma vez em destaque. Com certeza, não só por tocar bateria como toca continua a ser dos músicos mais admiráveis da actualidade. Tanto a compor como a comandar este “barco” ele toma uma importância fulcral e, qual maestro, rende ideias preciosas para cada trabalho dos Dream Theater. Portnoy toca, produz, canta, dá indicações a todos em estúdio [como se pode constatar no DVD de estúdio da edição especial do álbum] e, por exemplo, em “Repentance” foi o autor da ideia de juntar uma impressionante parada de estrelas onde figuram Steve Vai, Joe Satriani, Corey Taylor, Mikael Akerfeldt, Neal Morse, Daniel Gildenlow, só para citar alguns, para gravar confissões pessoais e emprestar ainda mais profundidade, sentimento e visceralidade a um tema que, por si só, já transmite uma forte carga melancólica.
Com tudo isto já deu para perceber que “Systematic Chaos” é um revigorado regresso da banda nova-iorquina, agora com nova casa – a Roadrunner Records –, embora continue sempre a ser discutível se a banda preserva ou não a mesma mística de antigamente. No entanto, o nono álbum de estúdio dos Dream Theater será, seguramente, passível de provocar espasmos agudos de prazer progressivos a quem espera sempre muito daquela que muitos consideram a melhor banda de metal progressivo do mundo.
[8/10] N.C.
www.dreamtheater.net
www.myspace.com/dreamtheater