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Entrevista Miss Lava

RIOS DE LAVA
"Passámos por grandes tensões para pôr este gigante cá fora"

Os Miss Lava regressam em 2012 com o lançamento de "Red Supergiant", o segundo álbum de originais dos roqueiros lisboetas. Definiram melhor a sua sonoridade e estão determinados a conquistar o mundo. K. Raffah [guitarrista] falou connosco acerca do novo lançamento, do movimento stoner em Portugal e também sobre a breve passagem pelos Estados Unidos onde actuaram no famoso Whiskey A Go Go.

Fale-nos um pouco de "Red Supergiant". Quais são as grandes diferenças entre este e o primeiro álbum?
Acho que, no geral, tem um som mais orgânico que o “Blues For The Dangerous Miles”. Isso permite que nos sintam mais brutos e pesados quando as músicas o pedem e, no oposto, que nos sintam  “mellow” como nunca quando as músicas assim o pedem também. E na verdade, tem tudo a ver com as músicas... isso é outra das grandes diferenças para o primeiro álbum. Sente-se a banda mais focada na composição – há uma ideia para uma música e a banda foca-se nisso, em explorá-la e ver como pode gerar uma música. Antes, talvez brincássemos com três ou quatro diferentes até chegar a um tema. Acho que estamos mais maduros, se quiserem.

Qual o significado do título?
Trata-se do nome que se dá ao penúltimo estádio da evolução estelar - quando as estrelas estão cada vez mais massivas. No seu corpo, há cada vez mais tensão, o que é normal, uma vez que elas estão a evoluir para a sua explosão, o seu fim. Para além de ser uma expressão catchy, se quiserem, sentimos que o conceito traduz a nossa vida neste disco, tanto a nível musical como pessoal. Musicalmente, nós achamos que, fruto de estarmos mais focados nas ideias e na composição, conseguimos resultados mais intensos e massivos. Pessoalmente, passámos por grandes tensões para pôr este gigante cá fora. Todo o processo de gravação e produção foi gerido por nós... e pelo meio tivemos prazos falhados com um tipo que ganhou Grammys, discos perdidos (com tudo gravado lá dentro), mas milagrosamente recuperados quando já tudo indicava que teríamos que gravar o álbum todo outra vez, um braço quase partido que implicou uma paragem de uma mês e meio nas gravações.... Este gigante foi um “osso duro de roer”, mas ao mesmo tempo foi uma grande aprendizagem para o futuro.

Como foi trabalhar com o Matt Hyde em Los Angeles?
Foi, na verdade, um trabalho em grande parte à distância. O tempo que estivemos lá foi curto porque tocámos ao vivo e gravámos um vídeo, mas deu para alinhar uma coisa ou outra ao lado do Matt. À distância, as coisas são sempre mais demoradas... por exemplo, uma alteração num bombo que demora dois minutos presencialmente, tornam-se em quatro mails ao longo de uma semana... Ele gostou muito da banda desde o início em que disse “fuck yeah! Let’s do it” e foi super simpático (recebeu-nos em casa e tudo mais). Mas o mais interessante foi ver a relação entre um dos produtores mais conceituados da cena (dois Grammies e trabalhos com Slayer), mas que foi contratado para misturar e masterizar o disco, e o produtor desconhecido - membro da banda - mas que sabia muito bem o queria para o som. Nem sempre é fácil virares-te para um gajo super experiente e ultra conceituado e dizeres “sim, isso tá bom, mas nós queremos ainda melhor", "e se experimentasses antes por aqui?”  Às vezes a relação foi muito boa, mas também teve algum desgaste, fruto da distância e de todos os atrasos e peripécias.

E já agora, como foi a passagem pelos EUA? O que acharam do público?
Só demos um concerto lá, no Whisky a Go Go, em Los Angeles. Foi uma boa experiência num palco histórico. O público não nos conhecia o que fazia com que tivéssemos que dar ainda mais. E foi lindo começar a primeira música do nosso primeiro EP, “Sleep With The Angels", que é meio a abrir, e começar a abanar sem parar. A meio sentias o pessoal a chegar-se à frente e a curtir. Quando passámos para a “Crawl”, que tem um groove ultra pesado, já andava malta aos saltos, etc... Ou seja, all in all, foi muito bom e o público reagiu muito bem!

Acham que o movimento stoner está a crescer em Portugal, tendo em conta que nunca teve grande exposição? Acham que vão incentivar mais bandas nacionais a aparecer?
Já não sabemos muito bem as fronteiras do suposto movimento stoner. Hoje em dia, fala-se em southern rock, de coisas que não têm nada a ver com Lynyrd Skynyrd, por exemplo... e depois joga-se tudo dentro de um saco stoner. Acho que há mais bandas a fazer rock pesadão em Portugal, com influências daquilo que são bandas internacionais conotadas com o termo stoner e todas estas bandas são muito boas. Partilhar o palco com nomes como Marbles, Black Bombaim ou Low Torque é sempre uma maravilha, até porque vemos (à pala) grandes gigs! Se vamos influenciar ou não novas bandas, não fazemos ideia. Fazemos a música pela música, porque gostamos daquilo que fazemos. Se isso ficar e criar legado, será uma honra.

Quais são as vossas maiores referências?
Na verdade, ouvimos muitas coisas diferentes. A música que oiço não bate certo com a do Samuel, com a do Johnny ou com a do J. Garcia. Mas isso é óptimo, porque faz com que cada um traga a sua cena para a sala de ensaios e depois, tudo somado, dê algo mais, dê Miss Lava. A nível conjunto, acho que as nossas maiores referências são as bandas com quem temos tocado ao vivo, principalmente as portuguesas. Por exemplo, neste disco fomos buscar um pedal específico (nada stoner) para dar uma sonoridade mais "suecada". De onde fomos buscar a ideia? Do nosso gig de abertura aos Entombed e dos vários com os nossos amigos We Are The Damned.

O que podemos esperar dos Miss Lava no futuro? A internacionalização?
A mesma atitude de sempre. Num palco, no chão ou num palco "xpto", sempre “delivering the goods” e a gostar do que fazemos. Se vier a internacionalização, ainda melhor. Estamos a tentar países nos quais ainda não tocámos e acordos de distribuição. Vamos ver. Uma coisa é certa: isto ganha outro sentido com concertos ao vivo!

Mark Martins


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