Músicos Avulso - Gonçalo Correia (Process Of Guilt)
"Se
pudesse recuar no tempo, talvez gostasse de ter uma
experiência viking"
Já
vai com quase vinte atrás do kit de
bateria e a chama parece não abrandar. É nos Process Of Guilt que encontra o
seu porto de abrigo e grande paixão, mas no currículo ficam passagens pelos Mythus, Damien’s Trail Of Blood, The Reckoning, Karseron e
Before The Rain. Autodidacta, o baterista alentejano até já teve que fugir
de aranhas, mas não tremeu na hora fazer três espectáculos seguidos numa noite.
Gonçalo Correia, o compasso vagaroso mas intenso de um dos projectos mais respeitados
do underground nacional.
Data de nascimento e naturalidade?
Nasci
no dia 6 de Dezembro, de 1979 [33 anos], em Évora.
Como descreve sua terra natal e que
sentimentos esta lhe traz? Gosta de ter crescido lá ou se pudesse tinha
escolhido outra localidade ou mesmo país para nascer?
Não
podia estar melhor, penso. De facto, gosto muito da cidade onde vivo e nasci [entretanto, o músico radica-se em Lisboa]. É um
local com um grande background histórico
e relativamente pequeno, o que me agrada bastante.
Que traço faz da sua infância? Lembra-se
das brincadeiras e traquinices que tinha? Que tipo de miúdo é que era?
Tenho
ideia que era um miúdo como tantos outros naquela altura. Mas o curioso é fazer
a comparação entre a forma como passávamos o tempo na nossa infância/juventude
e como os miúdos de hoje o passam. Estão constantemente à frente de um
computador, o que não é muito saudável.
Na escola era um aluno empenhado? Que
matérias/áreas mais o entusiasmavam e, por outro lado, quais as que mais
detestava?
Nem
por isso. Era um aluno razoável que não fazia grande questão em esforçar-se ao
máximo, nada bom exemplo para os jovens estudantes. Quanto a disciplinas favoritas, tinha, sim, professores com
os quais simpatizava bastante, o que se reflectia no empenho nessas aulas em
concreto.
Lembra-se de algum momento marcante
enquanto estudante? Alguma curiosidade, brincadeira, traquinice, alguma
contenda com professores?
Os
momentos mais marcantes dessa altura não estão tão ligados à vida de estudante
mas sim às pessoas que conheci, nomeadamente colegas que me iniciaram no mundo
das bandas de garagem. Experiências que acabaram por ser os alicerces do meu, ainda
curto, percurso musical.
Concorda com o novo acordo ortográfico?
Não,
de todo. Acho que se deveria ter realizado um referendo acerca deste assunto.
Mas enfim, é mais um exemplo de como este país é governado.
A sua ligação ao metal surge quando e
como?
Penso
que foi por volta dos meus 11/12 anos quando o meu irmão me deu a conhecer
bandas como Iron Maiden, Scorpions, AC/DC, Metallica, Megadeth e por aí fora.
Como aprendeu, neste caso, a tocar
bateria?
Com
amigos da altura, tinha eu cerca de 14/15 anos. Alguns deles já tocavam em
bandas de garagem e eu tinha o hábito de frequentar as salas onde ensaiavam.
Aí, ao observar e, de quando em vez, a
tocar, fui evoluindo.
Qual foi o primeiro disco de metal que
ouviu e o que comprou?
O
primeiro que ouvi não consigo precisar, mas tenho quase a certeza que foi um de
Iron Maiden. Já o primeiro que comprei lembro-me perfeitamente – foi o "Powerslave"
dos Iron Maiden, em vinil. Numa altura em que o formato CD ainda não existia.
Sempre ouviu metal ou teve aquela fase em
que consumia tudo o que lhe aparecia? Tem, por exemplo, vergonha de certas
coisas que ouvia?
Acho
que todos temos. Ouvia mesmo muita música fora do metal, toda a que passava nas
rádios e TV.
Qual foi o primeiro concerto a que
assistiu?
Dentro
da música pesada, foi um dos Bizarra Locomotiva, aqui em Évora. Excluindo as
bandas locais, nunca antes tinha assistido a um concerto daquela magnitude.
E o que mais o marcou até hoje e porquê?
Foram
alguns, sendo que os que tenho mais em mente são o de A Perfect Circle, no
Coliseu de Lisboa, o de Neurosis, em Madrid e o de Celeste, no SWR 2010. O que
me leva a escolher estes três em particular é o facto de terem conseguido
transmitir o poder que procuro num espectáculo
ao vivo, toda aquela envolvência que só se consegue obter com os
melhores. E creio que, destes, cada um no seu campo musical especifico, são dos
melhores.
Qual é a sua grande referência musical e
porquê?
Não
tenho uma em concreto. Gosto de pensar que toda a música que ouvi até hoje
serve como referência para aquilo que sou enquanto músico amador.
Quais são as suas habilitações
literárias e qual é a sua ocupação profissional?
As
minhas habilitações são de nível secundário, sendo barman de profissão.
Para si, qual seria a profissão ideal?
Sem
dúvida, no meu caso, ser músico. Seria perfeito poder viver somente da música.
Qual é o seu grande hobby?
Process
Of Guilt.
Qual a viagem que mais o marcou até hoje
e qual é o seu destino preferido de férias?
Todas
as viagens que fiz marcaram-me de alguma forma, mas gostei bastante da nossa (Process
Of Guilt) viajem à Holanda, quando tocámos em Roterdão, no Dutch Doom Days.
Foram uns dias bem passados que deixaram muito boas recordações. Quanto ao
local preferido para férias, qualquer destino onde possa dar um bom mergulho,
em principio, será perfeito.
Que local ou país deseja mais conhecer?
Itália
será o próximo país a visitar, assim que possível.
Tem um disco, canção, filme ou série da
sua vida?
Tenho
andado empolgado com o "Game Of Thrones" ultimamente. Tem-se mostrado
muito interessante o desenrolar da história, tendo em conta que nunca li os
livros, é todo um grande suspense. Já
nas restantes vertentes, disco/canção/filme, não posso nomear só um nome, são
demasiados.
No sentido inverso; pior disco, canção,
filme…
Também
é difícil dizer algo especifico, para mais tendo em conta que para cada bom
filme/disco/canção/série existe o triplo de coisas mal produzidas.
Pratica ou acompanha algum desporto?
Acompanho os eventos do Strikeforce, combates de MMA (mixed
martial arts). É um desporto que me entusiasma bastante. No entanto, não
pratico nenhum desporto exceptuando a bateria, que até nem é mau exercício mas
que está longe de ser algo completo.
É adepto de algum clube de futebol
nacional? Qual?
Não
sigo com grande regularidade os jogos de futebol, mas quando é para apoiar,
apoio o Benfica. É coisa que vem de família.
Utiliza as redes sociais? Que visão tem
dessas e que papel lhes atribui?
Não
vejo como não se possa utilizar estas plataformas, principalmente no que à
divulgação de música/bandas diz respeito. É das melhores formas de expor a arte
que produzimos.
Consome ou já consumiu ilícitos?
Em
certas ocasiões, de forma controlada
Uma noite perfeita?
Um
concerto de Process Of Guilt!
É casado? Tem filhos?
Não
oficialmente, mas já faço a minha vida em comum com a minha namorada, o que não
é nada diferente. Filhos, ainda nada no horizonte.
Que facto mais o orgulha e envergonha na
história nacional e/ou internacional?
Tendo
como base a conjuntura actual, sinceramente não sei do que me possa orgulhar,
nacional e internacionalmente. Teria que rebuscar eventos passados que me
poderiam fazer sentir orgulhoso, mas vivo no presente e, de momento, só posso
sentir um pouco de repulsa pela forma como estamos a ser governados.
Acredita em Deus? É devoto de alguma
religião?
Não,
não sou muito dado à religião em geral.
Acredita em fenómenos paranormais? Já
presenciou algum?
Nunca
presenciei algo do tipo, portanto, vamos esperar por esse dia para então poder
relatar o evento.
E em extraterrestres?
Sim,
acredito. É inconcebível não haver outro tipo de vida no universo.
Para si, qual é o maior flagelo mundial?
O
titulo do nosso novo álbum encaixa aqui na perfeição – "Faemin"
– a fome, a guerra e a religião.
Qual é a sua opinião sobre o aborto e o
casamento homossexual?
Cada
pessoa deve ter a liberdade para decidir o que fazer com a sua própria vida.
Tendo isso em conta, claro que sou a favor do aborto e do casamento
homossexual.
Gosta de animais? Tem algum?
Gosto
bastante, principalmente de cães. São uma óptima companhia.
E de videojogos? Qual o seu tipo e/ou
jogo favorito?
Há
anos que não jogo. Durante a minha adolescência era bastante aficionado ao
mundo das consolas, mas com o passar do tempo fui perdendo aquele entusiasmo
inicial e acabei por deixar de jogar.
Enquanto músico, qual foi o momento mais
marcante da sua carreira?
Todo
o percurso que temos feito com os Process Of Guilt tem tido momentos muito
especiais. Não tenho dúvidas que este é o momento mais marcante, fazer parte
desta banda e de tudo o que a move.
E o mais insólito?
Há
uns anos atrás, fiz algo que provavelmente não conseguiria voltar a fazer.
Realizou-se um festival aqui em Évora com alguns nomes internacionais (Morgion,
Mourning Beloveth e The Prophecy) e as três bandas onde tocava na altura (Process
Of Guilt, Mythus e Karseron) foram integradas no cartaz. Tive então que tocar
os três concertos de seguida, e, tendo em conta que não era um baterista
exímio, havia aquela dúvida se “o gajo se aguentava”. Felizmente correu tudo
bem e nenhuma das bandas saiu defraudada. Actualmente, com a intensidade
empregue nos concertos dos Process Of Guilt, seria impossível concretizar
semelhante coisa, ficando como boa memória tal “proeza”.
Arrepende-se de algo que fez na música?
Não
me arrependo de nada. Tenho apreciado toda esta vida musical, do tempo que
tenho passado com os Process Of Guilt aos bons momentos que passei com as
várias bandas em que toquei (Mythus, Damien’s Trail Of Blood, The Reckoning,
Karseron e Before The Rain).
Tem ainda algum sonho por cumprir na
música?
Não
penso muito nisso. Mas com os Process Of Guilt vou conseguindo viver momentos
bem interessantes.
Qual é a sua banda/artista nacional e
internacional preferidos?
Tenho
que mencionar vários. Bandas nacionais: Grog, The Firstborn, We Are The Damned
e Corpus Christii são um bom exemplo de bandas nacionais com qualidade. Bandas
internacionais: Generation Of Vipers, Trap Them, Neurosis, Disfear, entre
muitas outras.
O que acha da qualidade dos músicos e
bandas nacionais?
Acho
que Portugal tem grandes bandas com muito potencial para a internacionalização,
mas infelizmente nem todas conseguem atingir tal objectivo. Estamos no lado
“errado” da Europa e é difícil conseguir apoio (editoras/promotoras) para
chegar lá fora. Cabe às próprias bandas a inciativa de tentarem dar o salto e
correrem esse risco por conta própria.
O que acha que falha, se é que alguma
coisa falha, no panorama musical nacional? Acha que há qualidade e quantidade
de infraestruturas e público suficientes?
Existem
poucos locais de qualidade para tocar. Qualquer banda pode tocar de norte a sul
de Portugal, mas valer a pena já é outra questão. Portugal
é um país pequeno, e não compensa tocar na maior quantidade de cidades possível
só por tocar. Na existência dos Process Of Guilt temo-nos pautado por uma
gestão que acreditamos ser a ideal para o panorama nacional, no que aos
concertos diz respeito, focando-nos em locais chave para promover os nossos
trabalhos.
A internet é um problema ou uma virtude
para os músicos e/ou a indústria discográfica?
Temos
que nos adaptar às novas tecnologias e tentar tirar o maior partido possível
disso.
Para
uma banda como a nossa, que se move no underground, a internet só pode ser uma
vantagem. Poderá ser um problema para as grandes editoras, mas para as
independentes assim como para as bandas underground só joga a favor.
É a favor ou contra a pirataria?
Apoio
a partilha de ficheiros, mas, como disse anteriormente, é necessário tirar
partido disso. No nosso meio pode ser vantajoso ter os trabalhos disponíveis online, dar a conhecer ao ouvinte a
nossa arte e apresentando uma imagem atractiva que o leve a adquirir o formato
físico.
O que acha dos organismos que gerem os
direitos de autor, nomeadamente a SPA?
Não
reconheço este tipo de instituições. São uma autêntica paródia e uma forma de
extorquir dinheiro sem proteger quaisquer interesses dos artistas. É ridículo
exigir a promotores, comerciantes, donos de bares e quejandos que paguem estas
licenças quando raramente, ou nunca, o autor tem algum tipo de retorno destes
organismos.
Concorda com as leis que estão a ser
estudadas para combater a pirataria (ACTA, SOPA, etc)?
Claro
que não. É mais uma tentativa de assumir o controlo do tráfego online mas que não ficaria por aí, pois
existem outros valores que seriam ameaçados como, por exemplo, a liberdade de
expressão, o que levaria a várias formas de censura.
O que é que o irrita mais?
Não
diria que me irrita, mas, por vezes, incomoda-me a hipocrisia.
Qual é a maior surpresa que o podem
fazer?
Não
sou fácil de surpreender, boa sorte a quem tentar.
Já praticou algum acto de solidariedade?
Já
pratiquei por várias vezes, com pessoas próximas.
Acha que ainda tem algum dom escondido
por revelar?
Não
faço ideia, mas creio que não.
Prefere o Verão ou o Inverno? O sol ou o
frio? A praia ou a neve?
Gosto
de todas as estações do ano, mas prefiro aquela altura entre a Primavera e o
Verão.
Qual é o carro dos seus sonhos?
Mini
Cooper.
Sente-se dependente do telemóvel?
Não
sou dos mais dependentes, mas é impossível viver na actualidade sem telemóvel.
Qual é a sua comida favorita?
Bacalhau
à Brás.
E a bebida?
Vinho
tinto, seguindo de verde e branco.
Sabe cozinhar? Qual o prato que
confecciona com maior mestria?
Mal
e pouco. Nada melhor do que grelhar uns bifes de peru acompanhados de salada.
Não falha!
Qual é o seu maior medo?
Acho
que nunca pensei muito nisso.
Tem alguma fobia?
Sofri
de aracnofobia, mas com o passar do tempo, sem ter feito algo por isso,
simplesmente passou.
Neste momento está optimista em relação
à recuperação económica do país?
Quero
estar, mas… vamos ver o desenrolar da questão grega e logo terei melhor opinião
sobre o nosso país. De qualquer forma, acho que o nosso governo não está a
fazer as melhores escolhas para o crescimento da nossa economia.
Identifica-se com alguma ideologia
política?
Não
me identifico com nenhuma em concreto, mais à esquerda ou mais à direita, a
verdade é que quando chegam ao governo todos metem os pés pelas mãos.
Se pudesse recuar no tempo, até onde e
quando recuava? Porquê?
Talvez
gostasse de ter uma experiência viking. Existe algo bárbaro nesse imaginário
que me atrai.
Acredita na reencarnação? Em quem ou no
que gostava de reencarnar numa outra vida?
Quero
acreditar que sim. Se fosse em alguém parecido com o que sou hoje, perfeito!
É supersticioso? Qual a sua maior
superstição?
Nunca
fui.
Para si, como se descobrem as
verdadeiras amizades? O que é uma verdadeira amizade?
As
verdadeiras amizades são aquelas que se vão construindo ao longo do tempo e nem
nos apercebemos o quão importantes se tornaram, até que acontece algo que as
faz despoletar.
Tem tatuagens? Se sim, qual a que mais
sentido tem para si?
Ainda
não, mas estará para breve. Existem certos pormenores a alinhavar.
E piercings? Se sim, quer revelar onde?
De
momento, só nas orelhas. Porém, existe a possibilidade de alargar a coisa para
outras partes do corpo.
Considera-se vaidoso? Que cuidados tem
com a aparência e a saúde?
Tento
ter os mínimos cuidados com a minha aparência, assim como com a minha saúde.
Que tipo de roupa nunca seria capaz de
usar?
Roupa
demasiado formal.
Qual o seu maior defeito e sua maior
virtude?
Maior
defeito, a preguiça. Maior virtude… penso que sou uma boa companhia, tento
animar os meus amigos nas alturas menos boas.