Gaahl [God Seed, ex-Gorgoroth] considera incêndio de igrejas na Noruega como acto libertador
Gaahl, ex-vocalista dos Gorgoroth e actual God Seed, Trelldom e Wardruna,
culpou os meios de comunicação pela imagem malévola que lhe é conferida. Em
entrevista à Metal Blast, o músico norueguês afirma que se trata de uma questão
de realidades deturpadas, tendo ainda dissecado a visão actual do black metal e
alguns factos históricos que marcaram o género, como a destruição de várias igrejas na Noruega durante a década de 90.
Questionado sobre o facto de colegas de estrada como os Rotting Christ
e Cradle Of Filth considerarem-lhe uma pessoa muito afável, Gaahl argumenta:
"Não posso influenciar a percepção das outras pessoas. Se as pessoas têm
algum tipo de intelecto perceberão que as coisas são muito manchadas pelos media e como querem retratar-nos
através de más-interpretações e equívocos".
Em tom sarcástico, Gaahl explica porque tal acontece. "Penso sempre
que as pessoas têm a mesma percepção e conhecimento do que eu, mas claro que
isso nem sempre é verdade. Mas falo sempre com elas como se tivessem. Nunca
penso que as pessoas tenham uma ideia diferente sobre mim quando comunico com
elas, mas claro que essa não é a forma correcta de olhar para as coisas. Mas é algo que faço inconscientemente."
Gaahl classifica ainda como redutora a visão do black metal mais tradicional enquanto
veículo de adoração do diabo, em contraponto com a afirmação
de Morgan Steinmeyer [Marduk] de que o black é identificável pelo seu conteúdo
e não pelo seu som.
"Compreendo o conceito de black metal. Podem chamá-lo black metal
satânico se lidar com essa energia, mas o black metal foi um termo que cresceu
para o exterior das suas proporções normais. Não considero os God Seed uma
banda de black metal nesse sentido, nem os Trelldom. Nunca as considerei black
metal mas nunca escolhemos o lugar onde colocam a nossa música. É mais uma
questão relacionada com os fãs e com aquilo a que se conectam. O nome dado a um
estilo tem apenas a função de manter a ordem numa prateleira de discos para que
se torne mais fácil extrairmos de lá a forma correcta de energia."
Gaahl admite ainda que quando o black metal surgiu "a ideia em seu
torno era muito restrita" e que até as suas próprias ideias mudaram com a idade.
"A ideia original sobre o black metal é a que o Morgan referiu, mas o
estilo nunca esteve resumido a essas fronteiras. (...) O que é o black metal hoje? As
pessoas até se referem hoje ao death metal como black metal, portanto, nunca podemos
colocar-lhe um cadeado", defende Gaahl, enquanto considera que o facto de
nos primórdios do black metal o objectivo ser fazer música o menos
acessível possível reflectia uma atitude própria da juventude.
"Não havia compromisso, mas essa é a linguagem dos jovens. Gosto
dessa energia mas é algo incontrolável. Pessoalmente, não me importo com
rótulos nesse sentido. Já o fiz quando era mais novo, tinhas as minhas raízes e
ideias restritas sobre aquelas energias, mas foi algo que mudou."
Como alusão ao facto que marcou fortemente a cena black metal
norueguesa nos anos 90 - os incêndios de mais de vinte igrejas alguns levando à condenação de Varg Vikernes [Burzum, ex-Mayhem], Euronymous [ex-Mayhem,
embora fossa assassinado antes do julgamento], Faust [Emperor] e Samoth
[Emperor] -, Gaahl legitima os actos como sendo uma tentativa de libertação da cultura
pagã face ao cristianismo.
"As igrejas foram construídas em
velhos lugares pagãos. Todos os incêndios nas igrejas foram justificados, pois referem-se a algo que nos foi retirado e destruído. É propriedade roubada, um lugar
sagrado que pertence a alguém. Foram roubados da pior maneira."