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Entrevista José F. Andrade

UMA VIDA DEDICADA À MÚSICA

José F. Andrade é uma das personalidades mais prolíferas do Rock e do Heavy Metal dos Açores. Com 37 anos e natural da ilha de São Miguel, estabeleceu o seu primeiro contacto com estes géneros musicais em 1987, assimilando os legados de bandas tão seminais como Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin. “Fui influenciado pelos meus amigos a ouvir este tipo de música e depois fui lhes tomando o gosto. A minha mãe também foi pedra fundamental neste processo, pois sempre ouviu rádio e eu acabei por crescer a ouvir música”, refere.

Apesar de se considerar fã acima de tudo, José F. Andrade começou a pisar os trilhos da imprensa musical por intermédio de uma fanzine tradicional e de baixo orçamento intitulada “Reino Metálico” [mais tarde transformada em programa de rádio] e, posteriormente, estreou-se numa publicação oficial no jornal Correio dos Açores, a convite de Jorge Medeiros, corria o ano de 1991.

Ao nível da escrita José F. Andrade encontrou as suas primeiras inspirações nos textos de Paulo Simões [actual director do jornal Açoriano Oriental] que possuía uma página de música chamada “Rock Rendez Vous”, a qual coleccionava conjuntamente com o jornal Blitz. A partir de então surgiu a admiração por António Freitas [Antena 3, Loud!, Sic Radical], mas o seu espólio de influências não se fica por aqui ou por um género. Miguel Sousa Tavares é outra das grandes referências literárias de José F. Andrade.

A nível de entrevistas o jornalista considera a entrevista ao guitar virtuoso sueco Yngwie J. Malmsteen como o seu primeiro grande momento jornalístico. “Foi um dos momentos mais marcantes da minha carreira por dois motivos: primeiro, porque era um grande nome da música internacional e, segundo, porque revelou-se uma pessoa muito arrogante. Tinha uma imagem completamente oposta dele”, exclama José F. Andrade. “A minha segunda grande entrevista foi a Anneke Van Giersbergen, dos holandeses The Gathering, e, após isso, veio muitos nomes, entre eles King Diamond – uma pessoa muito acessível com quem passei duas horas ao telefone”.

Senhor de um riquíssimo currículo, José F. Andrade já realizou mais de 150 entrevistas a artistas musicais e possui uma discoteca privada com cerca de 8 mil itens. Porém, nos primeiros tempos as movimentações nestes meandros operavam-se com bastantes dificuldades. “Tínhamos que estar muito atentos às revistas temáticas que chegavam aos Açores e gastava-se muito dinheiro com a correspondência a tentar contactar bandas e editoras. Hoje em dia é tudo mais fácil fruto do desenvolvimento dos meios de comunicação, nomeadamente da internet”.

Ainda antes disso, José F. Andrade estreou-se na rádio com o programa “Rock Station” na então Rádio Açores, em 1990. Tudo se desenrolou de forma “inadvertida”, pois o jornalista não detinha qualquer experiência na área. “Eu tinha um colega, que hoje em dia trabalha numa rádio na Madeira, com quem trocava LP’s e que, em determinado dia, propôs-me fazer um programa de rádio. Sondámos junto da estação as hipóteses de fazer um programa de rock e, na mesma semana, arrancámos com as emissões. Mas começámos a fazer rádio sem saber nada, sem dicas nenhumas, apenas pelo nosso conhecimento empírico como ouvintes”, enfatiza. Posteriormente, seguiu-se o programa “Stage Diving” e, mais recentemente, o “Overdose” que culminou com o encerramento da Rádio Académica da Universidade dos Açores.

Homem dos sete ofícios, José F. Andrade já foi também manager, organizador-coordenador de eventos e júri em concertos. Nesta última situação, o jornalista confessa que é sempre “desconfortável” e delicado estar-se a avaliar o trabalho alheio, inclusive porque, muitas vezes, gera más interpretações. “Já fui mal interpretado, mas porque as pessoas confundem muitas vezes amizade com profissão. Neste ramo tem que se ser imparcial, invariavelmente. As “palmadinhas nas costas” são os amigos que as dão, não propriamente quem se preocupa com as carreiras dos artistas ou percebe do assunto”, explica José F. Andrade. “Por outro lado, e citando o que me disseram uma vez numa entrevista: a música ou é boa ou é má! Se nos desperta é música, senão não o é, independentemente do estilo. Por isso, avaliar qualquer tipo de arte é subjectivo”.

Como ouvinte José F. Andrade faz ainda questão de sublinhar que é um pessoa de “horizontes abertos” e efectua entrevistas a artistas dos mais variados quadrantes musicais. “Já realizei entrevistas a artistas Pimba, a um senhor de 72 anos que gravou recentemente um disco, etc. Para ouvir gosto também de Strauss, Beatles e Blues – o meu segundo género. Não é preciso ser Rock para que eu faça notícia”. Neste momento, é responsável pela página semanal “Notas Soltas” editada no Açoriano Oriental às terças-feiras. No entanto, os projectos não se ficam por aqui. “Quero escrever um livro! Comecei há quatro anos, mas a falta de tempo não me permite tê-lo concluído ainda”, confessa José F. Andrade. Segundo o jornalista o livro pretende ser um misto de auto-biografia e uma retrospectiva ao Heavy Metal açoriano.

Profundo conhecedor da “causa” e da região em particular, José F. Andrade conclui em análise que “hoje em dia é mais fácil ser-se músico nos Açores. Todas as acessibilidades que se desenvolveram ao longo dos anos – o aparecimento da internet, o aumento do poder de compra e o acesso mais fácil e barato aos instrumentos – fez com que os músicos nos Açores não tenham que enfrentar algumas das dificuldades de outrora. Porém, o lado menos positivo de hoje é que o grupo de pessoas que gere a Cultura e cria as suas políticas na região não percebe, na maioria dos casos, do seu ofício. Normalmente, no nosso país, as pessoas certas estão nos lugares errados. As outras... talvez tenham arranjado um “tachinho””, reivindica José F. Andrade.

Nuno Costa in Factos Magazine [www.unicacomunicacao.pt]

Fotos: João Bruno Raposo & www.metalmachine.no.sapo.pt
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