Estudo com ratos - Cérebro activa satisfação sem reconhecer sabor
O investigador Albino Oliveira-Maia concluiu que há uma zona do cérebro, a ínsula, que "recebe informação sensorial das vísceras", ou seja, que ativa mecanismos de satisfação mesmo que não seja possível identificar o sabor dos alimentos.
O investigador da Fundação Champalimaud publicou na quarta-feira o estudo "The insular cortex controls food preferences independently of taste receptor signaling" (A ínsula controla as preferências alimentares independentemente da receção do sabor), na revista científica internacional Frontiers in Systems Neuroscience.
Em declarações à agência Lusa, Albino Oliveira-Maia explicou que foram feitos testes em roedores de forma faseada.
"Registámos a atividade neuronal enquanto estes animais modificados geneticamente consumiam sacarose, olhámos para a atividade dos neurónios desta zona mediante o consumo de sacarose e, finalmente, em outros animais fizemos lesões para verificar como é que o comportamento do animal estava modificado", sintetizou.
A conclusão foi que "o comportamento dos neurónios dessa zona [a ínsula] é modificado nos animais que aprendem a preferir a sacarose, apesar de não sentirem o seu sabor, e, por outro lado, quando introduzidas lesões nessa zona, os animais deixavam de aprender a gostar da sacarose apenas pelo seu valor calórico".
Afirmando que, embora não tenha aplicação direta a seres humanos, Albino Oliveira-Maia diz que esta conclusão permite "perceber de que forma é que o valor nutritivo, o valor calórico dos alimentos, modifica a recompensa que é sentida no sistema nervoso central."
De facto, a satisfação ou recompensa alimentar é "um componente importante daquilo que leva [o homem] a comer ou deixar de comer".
Albino Oliveira-Maia é licenciado em Medicina pela Universidade do Porto e desenvolveu este estudo ainda durante o doutoramento na Universidade de Duke, nos Estados Unidos da América.
Atualmente é médico interno de Psiquiatria no Centro Hospitalar Lisboa Ocidental e investigador no grupo de Neurobiologia da Ação, na Fundação Champalimaud, em Lisboa.
Por Lusa
Fotografia: Hernani Pereira