Vagos Open Air 2013 - Dia 1
09.08.13 - Quinta do Ega, Vagos
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Mesmo à entrada de Vagos, a nova casa do festival Vagos Open
Air – Parque Municipal Quinta do Ega – é bastante mais acessível e acolhedor,
mesmo sem a serenidade que a Lagoa do Calvão proporcionava nas edições
anteriores. Parece que o único “senão” é a maior agressividade dos mosquitos,
pelo que a manter-se a localização em futuras edições, aconselha-se a que não
esqueçam o repelente de insectos.
Apesar de toda a “polémica” causada pela participação dos
SECRET LIE, a reacção geral do público nem foi assim tão má. E ao contrário de
anos anteriores, em que não está muita gente a assistir à primeira banda do
primeiro dia, o recinto até estava bem composto.
A abertura foi instrumental, um tema da autoria do
violinista Pedro Teixeira Silva, e esse até que poderia pertencer a uma banda
de metal. Mas com “Sweet Sadness” surge a verdadeira natureza ligeira/alternativa da
banda, desenquadrada do espírito “metaleiro” do festival. O solo de guitarra e
a interpretação de Vivaldi deram mais peso ao concerto e ânimo aos presentes,
resultando então numa melhor aceitação do que a princípio se previa. Não
esquecer também a qualidade dos músicos que compõem os Secret Lie, tanto em
termos de execução como de saber estar em palco. Apenas a vocalista Sara
Madeira precisa de olhar mais em frente, para o público, e não tanto para os
seus colegas de banda.
“Purify” e “Blackout” foram outros dos temas que se puderam
ouvir naquela tarde, ficando para o fim “Little Taste Of Fun”. O guitarrista Tó
Pica fez jus ao título desta: segurando um cartaz de um fã em que lhe era
pedido uma palheta, Tó disse que enquanto crescia com a ideia de se tornar rock
star, sempre quisera ouvir “Tó, faz-me um filho!”. Estar ali com um cartaz a
pedir-lhe uma palheta era igualmente motivo de orgulho... mas o que o seu maior
sonho continuava a ser ouvir “Tó, faz-me um filho”.
Seguiram-se os BIZARRA LOCOMOTIVA, iguais a si próprios. Desde
o primeiro minuto que o vocalista Rui Sidónio extravasou adrenalina por todos
os poros, o que, aliás, não é novidade nenhuma. E apesar de também não haver
novidades na discografia da banda industrial, ninguém pareceu importar-se e a
resposta do público foi igualmente incansável. O concerto começou com “A
Procissão dos Édipos”, em que finda a parte vocal, Sidónio lança-se para o meio
das primeiras filas e fica lá a dançar com os fãs, retornando ao palco pouco
tempo antes da música chegar ao fim e o concerto continuar com
“Egodescentralizado”.
Tó Pica subiria ao palco, com traje a rigor (que é o mesmo
que dizer envolto em plástico negro) para ajudar Miguel Fonseca nas guitarras
de “Anjo Exilado”. No final, conforme já tinha feito com a sua própria banda, atirou a guitarra para o público que, felizmente, percebeu que não
era um presente e devolveu ao respectivo dono. A “poderosa musculatura” d’“O Escaravelho” encerrou uma
grande actuação.
Pela primeira vez em Portugal, os finlandeses MOONSORROW proporcionaram um daqueles concertos que só as bandas pagãs conseguem
proporcionar: ritmos bélicos e berros ferozes, pintalgados de “sangue” e com as
cabeças em modo "ventoinha". Em suma: uma energia contagiante.
Olhar para o alinhamento e ver apenas cinco temas pode
parecer fraco a quem não conhecer a banda. Mas os que estão familiarizados com
as epopeias que são as músicas dos Moonsorrow, cuja duração média é de dez minutos, sabiam de antemão que aquela hora seria bem preenchida.
Sendo “Varjoina kuljemme kuolleiden maassa” já de 2011, a banda
preferiu percorrer a discografia em vez de focar-se nesse seu último trabalho –
embora tenha saltado “V: Hävitetty”, uma vez que este tem duas músicas de meia
hora cada. Em vez disso, tocaram “Taistelu Pohjolasta”, incluído no EP “Tulimyrsky”
e originalmente de uma demo de 1999 (“Tämä ikuinen talvi”). Despediram-se com “Kuolleiden
Maa”, e tanto banda como público irradiavam satisfação.
Outra estreia em terras lusitanas foi a dos suecos EVERGREY,
com as suas melodias sombrias e progressivas. E que estreia! Com uma carreira de dezoito anos e oito álbuns de estúdio,
não foi difícil deliciar o público – ainda que talvez pudessem ter tocado “For
Every Tear That Falls” ou “Words Mean Nothing”, visitando assim os dois álbuns
editados ainda na década de 90. Mas desde “When The Walls Go Down” a “A
Touch Of Blessing”, passando por “Monday Morning Apocalypse”, “Wrong”, a
lindíssima cover da cantora turca
Dilba “I’m Sorry” ou “Broken Wings”, qualidade e emoção são duas das melhores
palavras com que pode ser associado o concerto da banda de Gotemburgo.
Tendo um voo de partida tardio, o vocalista/guitarrista/cérebro
da banda (e único elemento original) Tom Englund disse que no final do concerto
iriam “hang around with you guys and
drink some beers”. Não sabemos se tal aconteceu, mas dado o fervor com que a
maioria os acolheu e aplaudiu ao ver as suas expectativas correspondidas, não
faltaria quem quisesse pagar-lhes as ditas cervejas.
Quanto aos SONATA ARCTICA, estavam longe de se estrear em
Portugal, tendo tocado em solo nacional a abrir primeiro para Stratovarius, depois
para Gamma Ray e da última vez para Doro. Mas como esta foi em 2006, e Elias
Viljanen entrou para a banda no ano
seguinte, era a primeira vez do guitarrista em Portugal – e certamente que os
fãs mais jovens também nunca tinham assistido a um concerto destes finlandeses. Com pouco mais de um ano cá fora, “Stones Grow Her Name” foi
o álbum mais tocado, começando logo pela intro “Wildfire, Part III – Wildfire
Town, Population 0” e “Only The Broken Hearts (Make You Beautiful)”, e passando
obrigatoriamente pelos dois singles
“Shitload O’ Money” e “I Have A Right”. E “Cinderblox”, que Tony Kakko obrigou
toda a gente a dançar já perto do final do concerto. Ainda assim, toda a discografia esteve presente, com
“Broken”, “Tallulah” e “FullMoon” marcando alguns dos pontos mais altos. Antes de “Replica”, Tony e Elias sentaram-se em frente à
bateria e estabeleceram um diálogo – Tony perguntou o que Elias estava a achar
de Portugal (“I love it”), se no dia seguinte ia passear, se ia à praia...
Elias respondeu que sim a tudo menos ao surf. O concerto terminou com “Don’t Say A Word” – ou melhor, com
“Vodka” – mas antes disso Tony fez os habituais exercícios vocais com o
público, que incluíam gritar bem alto – “like
you mean it” – “Tony, shut the fuck
up”.
Também os LACUNA COIL estavam ansiosos por voltar a tocar
em Portugal, volvidos tantos anos desde a última vez. E a dada altura, Cristina Scabbia
disse que não voltariam a deixar passar uma década para regressar. Com “Dark Adrenaline”, alguns tons menos mainstream e uma imagem geral mais sóbria e pesada, os italianos
mereceram fechar o primeiro dia do festival. Classificados de há uns anos para
cá como “rock alternativo”, ao vivo aproximam-se mais do “metal alternativo”,
dada a sua entrega. A banda – sem o baixista MarcoCoti Zelati, que encontra-se
a recuperar de uma lesão no braço – apostou maioritariamente nos três trabalhos
mais recentes, incluindo a cover de
Depeche Mode “Enjoy The Silence”, com Scabbia a deixar o público cantar sozinho
parte do refrão. Mas “Heaven’s A Lie” não faltou. “Trip the
Darkness” e (“... just before we get out,
are you guys ready to be...”) “Spellbound” encerraram em força o
primeiro dia de concertos – sim, convém realçar “de concertos”, pois a festa
continuou com alguns DJs (de metal).
Texto e fotografia: Renata Lino