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PUBLICAÇÕES A FERRO E AÇO: entrevista com André Andraus


É uma editora recém-criada, ousada no conceito e no momentum socioeconómico escolhido para iniciar atividade. Responde pelo nome PUBLICAÇÕES A FERRO E AÇO e propõe-se editar versões nacionais de livros importantes na área do rock e do metal, mas também da História mundial. O seu pioneirismo e a visão que denota foram razões mais do que suficientes para falarmos com André Andraus, cofundador, sobre a editora, futuros projetos e especialmente «Justice For All: A Verdade Sobre os Metallica», tradução do best-seller de Joel McIver, que terá duplo lançamento a 30 de maio na Feira do Livro de Lisboa e no RCA Club, também na capital.

Antes de mais, parabéns pelo ato de enorme coragem que a fundação das Publicações A Ferro e Aço constitui, não apenas neste contexto socioeconómico extremamente desfavorável mas também por o fazerem num país em que a maioria dos fãs ainda reduz o metal à escuta de álbuns e à frequência de concertos, embora haja disponível imensa produção cultural acerca do género, em formatos como livros, filmes e documentários. Podemos dizer que a vossa editora assumiu a tarefa de criar hábitos de leitura "metaleira" nos fãs portugueses?
Para começar os meus agradecimentos, não só por esta entrevista como também pela divulgação e apoio que nos têm dado. Sim, é preciso realmente alguma coragem, uma vez que o panorama económico em geral e o panorama editorial em particular atravessam uma fase negativa em termos de vendas e de divulgação cultural. Há livrarias a fechar e editoras a declarar insolvência, o que por si só diz tudo. Apesar disso, decidimos avançar e fazer o que tinha de ser feito, que é assumirmos a edição de obras do género, tendo em conta o enorme volume de livros sobre metal publicados nos últimos anos no estrangeiro. De uma forma geral, não existe banda ou músico relevante do rock produzido nas últimas décadas que não tenha a sua biografia publicada, e o número continua a aumentar. Portanto, não admira que alguns fãs reduzam o metal a álbuns e a concertos, tendo em conta a lacuna existente no mundo editorial [português] relativamente a este género de edições. Nessa medida, decidimos colmatar essa lacuna de uma vez por todas. Anteriormente, só recorrendo à importação alguns fãs com maior capacidade económica tinham acesso a essas obras. Todavia, já existem hábitos de leitura "metaleira" entre os fãs portugueses, graças às poucas (mas de qualidade) publicações nacionais em formato de revista, jornal e na internet. Apenas viemos aumentar a oferta e alimentar esses hábitos.       

Conte-nos tudo sobre a génese da editora, que fundou com a sua companheira, Sofia Paulino, na sequência da experiência adquirida na Livraria ContraCapa, outro projeto vosso. Essencialmente, quais são os vossos objetivos?
A editora nasceu de uma idealização pessoal, independente da livraria. No entanto, foi através da loja que entrámos no mundo livreiro, por via da venda de livros, e, finalmente, da edição. A livraria é a penúltima estação antes de o livro concluir a sua viagem, que culmina nas mãos do consumidor final. Ao longo deste percurso aprende-se muito sobre o “outro lado”, sobre a origem do livro, sobre o processo editorial em si mesmo. Como tal, nasceu a questão "E se começássemos pelo início?" Assim, o nosso objetivo passa por trilhar esse caminho e estarmos constantemente rodeados por livros. E se pudermos rodear-nos por livros e por música em simultâneo, é a cereja no topo do bolo.

A estratégia passa, em primeiro lugar, por alimentar os ditos hábitos de leitura quanto às obras do género e, simultaneamente, aumentar a oferta. 

O completo deserto editorial no que à publicação de livros nacionais sobre metal diz respeito apenas foi quebrado em 2013, primeiro com «Breve História do Metal Português» e, logo de seguida, com «Moonspell XX Anos». Neste contexto, em que não existe tradição de jornalistas/escritores portugueses a escreverem sobre o Som Eterno, as Publicações A Ferro e Aço pretendem ultrapassar o marasmo que se vive nesta área? Vê a editora como um potencial polo aglutinador de hipotéticos autores, um ponto de encontro entre escritores e músicos/bandas, com o objetivo de lançar no mercado uma ampla variedade de títulos?
É realmente o que faz sentido, não só à semelhança do que se verifica no estrangeiro mas também porque dispomos da matéria-prima necessária para que essa ideia se torne realidade. Julgo que apenas falta descobrir se temos efetivamente público para tal, embora só o tempo possa ajudar-nos a encontrar a resposta. Para lá chegarmos, a médio prazo, teremos primeiro de nos posicionar e consolidar no mercado editorial português. Visando esse objetivo, pretendemos editar títulos essenciais do rock e do metal internacionais, de forma a criarmos a estrutura necessária à divulgação do produto interno. Como dizia há pouco, a estratégia passa, em primeiro lugar, por alimentar os ditos hábitos de leitura quanto às obras do género e, simultaneamente, aumentar a oferta. Temos esperança que os fãs portugueses adiram a esta iniciativa.

«Justice For All: A Verdade Sobre os Metallica» é a vossa primeira edição. Queriam mesmo estrear-se nesta atividade com a publicação deste livro ou foi apenas uma feliz coincidência?
Na verdade, a minha intenção era estrear a editora com a autobiografia do Lemmy [vocalista/baixista e fundador dos Motörhead], «White Line Fever», o que, por atraso das questões contratuais, não foi possível. De entre as várias obras em apreço, o contrato relativo ao «Justice For All» foi o mais célere a realizar-se, o que para nós constituiu um feliz acontecimento, como fãs que somos dos Metallica. Mas o «White Line Fever» está a caminho.

Como decorreu o processo?
O processo de edição de «Justice For All» atrasou-se um pouco, em parte devido ao facto de termos de tratar simultaneamente da edição da obra, por um lado; e de todos os aspetos [burocráticos, etc.] que o início desta atividade requer. Mas o que importa é que «Justice For All» estará disponível a partir do dia 30 de maio.

Que expectativas são as vossas quer para este lançamento inaugural quer para a implementação no mercado da Publicações a Ferro e Aço?
Em relação ao lançamento as expectativas são boas, pois temos de ser otimistas, principalmente após o feedback que temos obtido, e que certamente continuaremos a ter. No caso da implementação da editora no mercado, creio que temos um longo caminho a percorrer, ou pelo menos assim o espero. Temos público e temos vontade, o resto vai-se fazendo. Como dizem os AC/DC, é um longo caminho até ao topo.

A propósito, ainda este ano, em outubro, poderemos ler a versão portuguesa da biografia dos AC/DC e no próximo ano a dos Motörhead. O que podes adiantar-nos acerca destas obras?
A biografia dos AC/DC, «Let There Be Rock», é da autoria de Susan Masino, escritora americana que conviveu com a banda de muito perto, desde jovem, na sequência da sua profissão como jornalista musical especializada em rock. Conheceu a banda nos anos setenta (privou com Bon Scott, malogrado vocalista dos australianos), tornando-se muito amiga dos elementos. Essa amizade transformou-a em alguém com autoridade para escrever esta obra. Contamos lança-la em outubro, com a presença da autora. A biografia dos Motörhead, «Overkill», também foi escrita por Joel McIver, e relata a história não contada da banda. É uma excelente obra, com a qualidade a que o autor já habituou leitores do mundo inteiro, e que os portugueses poderão comprovar. Prevemos que esteja disponível em 2015, embora ainda haja possibilidade de ser publicada este ano. Fiquem atentos…

As expectativas são boas, pois temos de ser otimistas, principalmente após o feedback que temos obtido.

A vossa estratégia comercial contempla a entrada nos países lusófonos, com especial incidência no Brasil, ou a editora está vocacionada, pelo menos numa fase inicial, para operar fundamentalmente no nosso mercado?
Nesta fase iremos operar exclusivamente em Portugal. A médio prazo chegaremos ao Brasil e mais tarde aos PALOP.

Presumo que haja mais alguns títulos em carteira para aumentarem o vosso catálogo, quer a nível musical quer no que respeita à História, um dos temas-pilar da editora. Pode levantar o véu sobre este assunto?
Sim. As duas linhas editoriais a que nos vamos dedicar são efetivamente a Música e a História. A linha editorial da História, que irá abranger toda e qualquer época, irá estrear-se com «A Dança das Fúrias», de Michael S. Neiberg. A obra relata o percurso e a situação da Europa e dos europeus na eclosão da I Guerra Mundial.

Numa fase anterior a estas atividades foi baixista dos Dei Verbum, um coletivo praticante de black metal. Fale-nos do seu percurso na banda. Chegaram a gravar algum registo ou a dar espetáculos?
Infelizmente, o nosso percurso foi curto. Julgo que a banda se manteve dois anos ou dois anos e meio no ativo. Entrei a pedido do guitarrista, tendo permanecido um ano e meio no grupo. Tocava com o baixo do vocalista, que era o baixista anterior. Tínhamos bons temas, mas não fizemos gravações oficiais. Apenas existem registos domésticos (na época não existia a imensa variedade e qualidade de software hoje disponível), entre os quais se inclui o vídeo de um espetáculo. Por outro lado, demos poucos concertos.  

Tornou-se fã de metal da mesma forma que milhares de outros – a ouvir os Iron Maiden. Que outras bandas constam da sua lista de preferências?
Certo. Comecei com os Iron Maiden e a partir daí foi sempre a abrir. Tenho alguma dificuldade em responder a essa pergunta, confesso, pois irá sempre ficar alguma banda de fora. No entanto, posso referir as principais, além dos Maiden - Motörhead, Manowar, Metallica, AC/DC, Black Sabbath, Dio e Megadeth são de referência obrigatória, mas existem outras.

Para finalizar, uma pergunta cliché – como analisa o cenário metaleiro português na atualidade?
Considero que está mais forte do que nunca. A música das bandas nacionais é fantástica e as produções são cada vez melhores. A qualidade das prestações ao vivo é igualmente muito boa. Obviamente que tal não significa que tudo esteja a correr bem. Infelizmente, nada disto se traduz em mais público, em mais apostas por parte das editoras, em mais vendas, etc. Em todo o caso, gosto do que ouço, apesar de ao mesmo tempo pensar que talvez devesse haver mais bandas nacionais de heavy metal tradicional, ou até de thrash metal. Mas o que há, de uma forma geral, é bom.

Dico      
(Texto escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico)

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