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Fernando Ribeiro e a relação de amor-ódio com os MOONSPELL: «Algumas pessoas não conseguiram assimilar o nosso percurso muito rápido»


Fernando Ribeiro esteve esta noite à conversa no programa Autores Fora D'Horas [Sic Notícias] onde expressou a sua opinião sobre o preconceito que lavra Portugal no que respeita ao heavy metal e vários aspectos que marcam a carreira e a ideologia dos MOONSPELL.

Questionado se se sente incomodado com a ideia feita de que as bandas do género centram a sua mensagem no ódio, insurreição e anarquismo, o vocalista lisboeta responde: "Não. Acho que o preconceito existe para o heavy metal como para outras formas de rock. Em Portugal [o género] nunca teve muita tradição. Tivemos uma ditadura durante 50 anos e houve muitos movimentos importantes, uma certa liberalização das mentes, especialmente em relação a questões musicais, que só conseguimos apanhar nos anos 80. Foi um período muito fértil da nossa música. Sempre lidei com o preconceito não caindo eu próprio nele. Portanto, nunca deixei de estar como vocalista de heavy metal ou metal gótico em tudo o que fiz. Como tal, a minha experiência é muito mais luminosa e positiva do que o preconceito. Lembro-me de ler letras de bandas de heavy metal que citavam Baudelaire, outros autores que se tornaram importantes na minha vida... o Lovecraft. Portanto, o heavy metal e a literatura sempre foram dois mundos muito ligados. Depois é curioso verificar que alguns fenómenos literários, alguns autores, também são fãs de heavy metal. Portanto, é um preconceito que acho que só existe mesmo na cabeça das pessoas e numa certa mentalidade. Em Portugal vê-se de vez em quando que alguns centros de decisões não estão muito bem preparados para que a banda internacional seja o heavy metal e não só fado. Mas os MOONSPELL sempre se apresentaram tal qual são. Há pessoas que nos aceitam, outras não. Acho que é completamente normal e é um jogo que se joga quando se está no mundo das artes e da criação. Mas também gosto de pensar que pelos resultados que obtivemos e pelo que os nossos seguidores fizeram pela banda, também fomos, de alguma forma, contribuindo para que esse preconceito fosse desaparecendo cada vez mais em Portugal."

E se o preconceito pode ter uma origem multipolar e de sentidos cruzados, como lida Ribeiro com os metaleiros que condenam as sinergias com a música mainstream? "O preconceito nunca me impediu de fazer nada. Qualquer estilo de música não pode ser guardado numa caixinha", afirma, aludindo à sua participação no projecto Amália Hoje e num fado de António Chainho. "O heavy metal que os MOONSPELL fazem vem dos anos 90, quando tinha muito mais a ver com fusão e uma mentalidade mais aberta do que o metal dito clássico. De vez em quando temos uma relação de amor-ódio com a cena heavy metal em Portugal, mas isso também se calhar passa por termos tido um percurso muito rápido que algumas pessoas ligadas ao heavy metal não conseguiram assimilar ou absorver. O que acho curioso é que hoje em dia um miúdo, tal como fui quando comecei a banda (com doze ou treze anos), pode chegar ao pé do seu pai e dizer que quer fazer uma banda de heavy metal e se calhar o pai já não vai conseguir dizer que isso não vai resultar em Portugal. (...) Claro que se calhar os meus pais ou os de toda a gente preferiam que enveredássemos por uma carreira que ao olhar deles é mais segura... 'podem tocar aos fins-de-semana, façam uma banda de versões', mas nunca quisemos isso, porque nunca quisemos viver da música - queríamos fazer música. Se vivêssemos da música perfeito, senão faríamo-la à mesma, mas não versões."

Ainda sobre o crescimento exponencial dos MOONSPELL, Ribeiro assegura que este factor nunca aliciou a banda a aburguesar-se e a ficar estanque a gozar os dividendos obtidos. "Não, porque esses dividendos acabam por não aparecer. Tudo o que nos aconteceu, a carreira internacional, as digressões, é a consequência de gostarmos de estar juntos criativamente, e fazer um disco é sempre aquilo que une os MOONSPELL. Principalmente no «Extinct» tentámos não cair nessa zona de conforto criativa e tentámos expandir-nos com a nossa música. Teve uma resposta muito positiva que nos permite fazer imensas digressões, mas não está no nosso código genético tirar um ano sabático, um período de reflexão... nunca aconteceu. Isto é um processo diário e todos os dias há desafios diferentes. Quando se pensa que uma coisa está conquistada, ao virar da esquina está outro país, outro fenómeno, outra coisa que aconteceu, alguém que falou de nós, alguém que nos quer ver. O mundo é tão grande que quando os MOONSPELL chegarem ao fim, daqui a largos anos (espero eu), vai ser uma coisa também em definitivo. Não vai ser uma coisa para pensarmos. Não temos esse problema, conhecemo-nos bem, sabemos que temos as nossas virtudes e defeitos, e o trabalho é tanto que não dá para nos encostarmos um bocadinho. Mesmo quanto temos resultados óptimos normalmente estamos a tocar ou a trabalhar."

A partir de 24 de Abril e até 19 de Maio, os MOONSPELL estarão no continente americano para mais uma sequência de 24 datas entre Estados Unidos, México e Canadá. Os SEPTICFLESH serão novamente parceiros de tour, à qual se juntam os suecos DEATHSTARS. A 18 de Julho viajam até Espanha para participar no Resurrection Fest, com nomes como MOTÖRHEADKORN, IN FLAMES BEHEMOTH, e a 25 de Setembro integram o cartaz do Rock In Rio Brasil no mesmo dia em que actuam os NIGHTWISHSTEVE VAIDE LA TIERRAMASTODONFAITH NO MORE e SLIPKNOT.

«Extinct», décimo álbum de originais dos MOONSPELL, alcançou o primeiro lugar do top de vendas nacional na sua primeira semana de lançamento, superando «Uma Questão de Princípio» do grupo de hip hop nacional D.A.M.A. e «Violetta em Concerto» da estrela do programa juvenil Violetta. O disco foi lançado a 6 de Março pela Sony Music Entertainment em Portugal e pela Napalm Records internacionalmente. A produção teve lugar na Suécia com Jens Bogren [ARCH ENEMYOPETHPARADISE LOST] e as ilustrações estiveram a cargo do grego Seth Siro Anton, vocalista e baixista dos SEPTICFLESH.

«Extinct» está disponível em jewelcasemediabook e vinil, com os últimos dois formatos a incluírem quatro remisturas e o documentário «Road To Extinction».

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